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Concerto "Coroada de rosas"

A devoção mariana no barroco italiano do século XVII

Ludovice Ensemble

Concerto inserido no projeto "Ecos de Fátima"

 

Ludovice Ensemble
Órgão e direcção: Fernando Miguel Jalôto.


Sopranos: Eduarda Melo & Raquel Mendes.
Tenores: André Lacerda & Fernando Guimarães. 
Barítono: Hugo Oliveira.
Violinos barrocos: César Nogueira & Ana Carvalho .
Violoncelo barroco: Diana Vinagre.

 

PROGRAMA

Obras de Monteverdi, Carissimi, Grandi e Cavalli

 

Marco Uccellini (1603/10-1680)
Sonata vigesima settima a 3, doi violini e basso
(Sonate, correnti et arie [...] Veneza, 1645)

Alessandro Grandi (1590-1630)
Ave Regina coelorum, à cinque
(Motetti à 5 voci [...] Veneza, 1614)

Francesco Cavalli (1602-1676)
Ave maris stella, à tre, con violini
(Musiche Sacre: Messa, e Salmi concertati [...] Veneza, 1656)

Claudio Monteverdi (1567-1643)
Sancta Maria, succurre miseris, à due SV328
(Il primo libro di concerti ecclesiastici [...], Milão, 1618 & Promptuarii musici, Pars Tertia [...], Augsburg, 1627)

Claudio Monteverdi
Salve Regina primo [& Audi coelum], con dentro un ecco voce sola riposta d'ecco & due violini SV283
(Selva Morale e Spirituale [...], Veneza, 1640)

Claudio Monteverdi
Pulchra es, a due voci SV206.5
(Vespro della Beata Vergine [...], Veneza, 1610)

Biaggio Marini (1594-1663)
Sinfonia del terzo tuono
(Per ogni sorte di strumento sonate, da chiesa, e da camera [...] Op.XXII, Veneza, 1655)

Francesco Cavalli
Alma redemptoris mater, à cinque
(Musiche Sacre: Messa, e Salmi concertati [...] Veneza, 1656)

Giovanni Battista Bassani (c.1650-1716)
Suonata Decima à 3, due violini e violoncello obligato:
Adagio — Presto — Largo — Prestissimo — Grave — Presto
(Sinfonie a 2 e 3 strumenti col basso continuo, Op.5 [...] Bolonha, 1683)

Giacomo Carissimi (1605-1674)
Oratorio della Santissima Vergine: «Ghirlandata di rose»
(Manuscrito C. G. 11 da Biblioteca da Abadia de Westminster, Londres)
 

 

Notas de Programa

A primeira década do século XVII assistiu a uma verdadeira revolução musical em que todo o saber e a prática medievais, ancorados no contraponto, na polifonia imitativa e na modalidade — a Prima Prattica — foram subitamente substituídos por uma nova forma de conceber a música. O objectivo primordial é agora a expressão das paixões humanas. Com a invenção da monodia acompanhada, do baixo contínuo e de uma concepção harmónica da composição — a Seconda Prattica — estavam criadas as ferramentas que permitiam dar corpo a esta nova concepção. Os compositores e intérpretes, conscientes da radicalidade das suas propostas, ainda que as fundamentassem num teórico retorno aos ideais clássicos da Antiga Grécia, assumiram-nas destemidamente como Nuove Musiche. Mas não se tratou de uma insurreição, nem sequer de uma subversão.

No campo da música sacra, os estilos mais antigos continuaram a ser valorizados e utilizados, e ambas as práticas, frequentemente combinadas e harmonizadas, foram postas ao serviço do esplendor do culto divino e usadas na propagação da fé — católica, inicialmente, mas bem cedo também da protestante. O Stile Moderno, aperfeiçoado e sublimado por Monteverdi, mestre de capela da Basílica de São Marcos de Veneza, foi rapidamente copiado pelos seus alunos Rovetta e Cavalli, mas também por toda a Itália: Grandi, Merula, Tarditi, Cazzati, Leonarda... Pela acção de Schütz e de Praetorius, este estilo invadirá toda a Alemanha, estabelecendo-se sobretudo nos grandes centros musicais de Dresda, Hamburgo e Lubeque. E encontrará mesmo ecos no longínquo Portugal, nos salmos de vésperas e completas de João Lourenço Rebelo. É na Roma papal, com Carissimi, mestre de capela do jesuíta Colégio Germânico e mestre de concerto da rainha Cristina da Suécia, recém-convertida ao catolicismo, que se aplicam as novas práticas musicais ao drama sacro, surgindo a «oratória», narração cantada de uma história hagiológica ou edificante. O virtuosismo instrumental desenvolve-se simultaneamente, primeiro nas diminuições — imaginativas ornamentações — de obras vocais de Dalla Casa, Bassano, Bovicelli ou Rognoni, e culminando nas experimentais, audazes e moderníssimas sonatas de Castello, Fontana, Marini e Uccellini, antes de reencontrar a inspiração do canto e da polifonia, num estilo mais maduro e eloquente, como o de Bassani, Legrenzi e do grande Corelli.

Este programa revisita uma série de textos destinados à devoção e culto marianos, então recentemente valorizados e reforçados pelo Concílio de Trento (1545-1563). São, na sua maioria, litúrgicos, destinados quer às Vésperas de Nossa Senhora (o hino Ave maris stella) quer à oração de Completas (apresentando-se três das antífonas sazonais: Ave Regina coelorum, Alma redemptoris mater e Salve Regina). Outros são obras devocionais e para-litúrgicas, extraídas de textos bíblicos (como o Pulchra es, com origem no Cântico dos Cânticos, tradicionalmente interpretado com associações à Virgem Maria), inspirados em outras orações (como o Sancta Maria, succurre miseris, derivado da Litania Lauretana, ou Ladaínha de Nossa Senhora) ou de criação poética livre (como o Audi coelum, aqui engenhosamente combinado com o Salve Regina). Estas obras, que exsudam na sua escrita expressiva uma ambiência íntima e emotiva, tanto podiam integrar as cerimónias sacras oficiais, numa grande basílica, como servir de entretenimento moral e edificante, em «concertos sacros adequados às capelas e câmaras dos príncipes», como explicita Monteverdi no prefácio às suas famosas Vésperas de Nossa Senhora. Já o eloquente e refinado oratório de Carissimi, uma das suas duas únicas obras em «língua vulgar» (e não em latim, como a maioria das suas «histórias»), ter-se-á destinado especificamente ao Oratório do Santíssimo Crucifixo, sala de encontro e oração da arquiconfraria do mesmo nome, edificado junto à igreja de São Marcelo ao Corso, em Roma, e onde a apresentação deste género de obras musicais constituía parte essencial dos seus exercícios devocionais. O seu texto poético inspira-se em vários livros bíblicos — o da Sabedoria, o de Judite e o Apocalipse, entre outros — para louvar Nossa Senhora como a mais perfeita e bela obra da criação divina, com vista ao seu papel único e essencial na história da redenção humana.

Fernando Miguel Jalôto

 

Biografias

 

Ludovice Ensemble

O Ludovice Ensemble é um grupo especializado na interpretação de Música Antiga, sediado em Lisboa, e criado em 2004 por Fernando Miguel Jalôto e Joana Amorim, com o objectivo de divulgar o repertório de câmara vocal e instrumental dos séculos XVII e XVIII através de interpretações historicamente informadas e usando instrumentos antigos. O nome do grupo homenageia o arquitecto e ourives alemão Johann Friedrich Ludwig (1673-1752), conhecido em Portugal como Ludovice. O grupo trabalha regularmente com os melhores intérpretes portugueses especializados, e também com prestigiados artistas estrangeiros. O Ludovice Ensemble apresentou-se em Portugal nos principais festivais nacionais e é uma presença regular nas duas principais salas de Lisboa: o CCB e a Fundação Calouste Gulbenkian. Apresentou-se no estrangeiro nos mais prestigiantes festivais de música antiga, na Bélgica (Bruges, Antuérpia); Países Baixos (Utrecht); França (La Chaise-Dieu, Bordéus); República Checa (Praga); Israel (Telavive, Jerusalém); Irlanda (Dublin); Estónia (Tallinn); e Espanha (Aranjuez, El Escorial, Vitoria-Gasteiz, Lugo, Badajoz, Jaca, Daroca, Peñíscola, e Pirenéus catalães). Gravou ao vivo para a RDP-Antena 2, a Rádio Nacional Checa (ČRo) e a Rádio Nacional da Estónia, bem como para o canal de televisão francês MEZZO. O seu primeiro CD, para a editora Franco-Belga Ramée/Outhere, foi nomeado em 2013 para os prestigiados prémios ICMA na categoria de Barroco Vocal. Em 2020 lançou um álbum duplo com 6 sonatas inéditas de C. H. e J. G. Graun para flauta e cravo obrigado, pela editora inglesa Veterum Musica, e em 2023 outro duplo CD com obras de câmara dos compositores P. J. e P. A. Avondano, para o MPMP. Do seu trabalho destacam-se: Vésperas de Nossa Senhora de 1610 de Monteverdi; Idylle sur la paix de Racine/Lully; Le Bourgeois Gentilhomme de Moliére/Lully; Les Arts Florissants de Charpentier; Cain ovvero il primo omicidio de Scarlatti; Timão de Atenas de Shakespeare/Purcell, em colaboração com o Teatro Praga. Espectáculos recentes incluem: uma antologia de música portuguesa desde as Cantigas de Amigo até Lopes-Graça no festival Felicja Blumenthal em Telavive (Israel); a integral da Oferenda Musical de Bach no Festival de Marvão; as Leçons de Ténèbres de De Lalande no Festival Arte Sacro de Bilbau; e uma tournée de concertos em Espanha com música francesa de influência espanhola (Lully, Charpentier, Couperin, e Campra), incluindo a Quincena Musical de San Sebastián, o Festival de Santander e os festivais de música antiga de Aranjuez, Sevilha, Sória, Jaca e Casalareina. Recentemente, levou a sua versão das Quatro Estações de Vivaldi ao Coliseu do Porto e ao CCB e, em 2024, torna a Espanha para mais concertos em Madrid e Pirenéus Catalães, com programas de música renascentista e barroca. Estreia-se no prestigiante Festival de Sintra, regressa ao Festival de Música Sacra de Guimarães e ao Festival de Órgão de Mafra, e apresenta vários outros concertos em Faro, Vila do Conde e Fátima. Desde 2021, realiza-se em Aveiro a Academia Ludovice, um inovador festival e curso de Verão dedicado às práticas históricas interpretativas da música, dança e teatro barrocos, este ano dedicado ao legado de Monteverdi.

 

Fernando Miguel Jalôto, direcção

Fernando Miguel Jalôto é especializado em instrumentos históricos de teclado e na interpretação historicamente informada do repertório musical dos séculos XVI, XVII e XVIII. É fundador e director artístico do Ludovice Ensemble. Como cravista, tocou com várias orquestras e grupos, tais como a Orquestra Sinfónica Portuguesa, a Orquestra Metropolitana de Lisboa, a Orquestra do Teatro Nacional de São Carlos, e a Orquestra de Câmara Portuguesa. Apresentou-se como solista em diversos festivais de música antiga, com destaque para a Itália, Espanha, França, Países Baixos, Bélgica, Alemanha, Estados Unidos, Brasil, China, Israel e Japão. Estudou em Lisboa e na Universidade de Lisboa, onde obteve o grau de Licenciado em Música e o Mestrado em Educação Musical, tendo concluído um Doutoramento em Música Antiga na Universidade Nova de Lisboa. Nos últimos anos, tem vindo a dirigir um número significativo de óperas barrocas, como Il Sogno di Scipione, de Vivaldi, Il Ritorno di Ulisse in Patria de Monteverdi, Dido and Aeneas de Purcell, e La Serva Padrona de Pergolesi, entre outras.

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HORÁRIOS

16 out 2024

Missa, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima

  • 07h30
Missa

Rosário, na Capelinha das Aparições

  • 12h00
Terço
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