13 de outubro, 2020

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VOZES DE FÁTIMA

 

Fátima continua a ser um ponto de encontro de peregrinos e crentes, mas também um lugar de passagem para pessoas que não são cristãs nem confessam nenhuma religião em particular, e é fascinante assistir a este cruzamento de mundos, intenções e motivações no perímetro do recinto, capelas e basílicas.

Os pagadores de promessas sempre se puseram a caminho, vindos de todos os pontos do globo, e muitos deles arrastaram consigo filhos e pais, familiares e amigos que pouco ou nada se identificam com as certezas da fé. Vemos muitas vezes o contraste da expressão dolorosa dos que caminham de joelhos e dos que lhes fazem companhia, porque lhes querem dar a mão e os querem encher de forças e confiança, para os fazer sentir que não estão sozinhos no seu exercício de gratidão.

A pandemia e o grande confinamento impediram os ajuntamentos e até as presenças individuais. Durante os primeiros meses não houve cerimónias coletivas e as velas ardiam sozinhas. As poucas velas que era possível colocar no espaço que lhes está destinado, pois as restrições e os protocolos sanitários chegaram a todos os cantos e lugares do mundo.

Aos poucos os peregrinos, os crentes, os curiosos, os turistas e os outros foram voltando. E fizeram filas ordeiras, pacientes, silenciosas, para as entradas, para as velas, para as confissões e celebrações. Acima de tudo para se apresentarem a Nossa Senhora, na Capelinha das Aparições, para lhe mostrarem a sua gratidão e devoção.

As saudades de Fátima e de Nossa Senhora, eram tantas que muitos não se importaram de passar horas a fio de pé, numa longa fila, para conseguir a sua vez de entrar, ajoelhar e ficar no silêncio da sua oração, olhos nos olhos com a Mãe.

E as suas vozes voltaram a fazer-se ouvir no recinto. E a vida parecia estar a retomar alguma normalidade. As pessoas juntavam-se em grupos menores, mas já se podiam juntar. E alegravam-se, riam e choravam de emoção.

As velas já não ardiam sozinhas.

Até que uma nova vaga recomeçou e, com ela, novas precauções e imposições. Algumas pessoas adiaram a sua ida a Fátima e muitos dos que lá vão em peregrinação sabem que podem passar outra vez alguns meses sem poderem voltar.

As vozes, em Fátima, ouvem-se agora de outras maneiras e é importante perceber que todos nós, presentes ou ausentes no recinto, podemos ser uma extensão da voz de Fátima. Podemos amplificar com a nossa voz, no nosso dia a dia, nas nossas casas, em família ou num contexto laboral, a voz daquela sobre quem o Papa Francisco disse, quando cá chegou, “temos Mãe!”.

De que forma? Tomando-a como exemplo, rezando-lhe, pedindo-lhe proteção e conselho. Tentando imitá-la e não deixando que a sua mensagem fique mais esquecida por haver agora menos peregrinos e menos possibilidade de encontro olhos nos olhos, cara a cara.

Sempre que formos exemplo de bons filhos ou bons pais, bons amigos e bons profissionais, bons cuidadores e protetores, estaremos a amplificar a voz de uma Mãe que ampara e cuida, mas também a dar voz aos que nem sempre têm voz.

Cada um dos nossos pequenos gestos de amor, bondade, proteção e acolhimento sem julgamento revelam a grandeza de uma mensagem de união e amor que chegou a todo o mundo através de Nossa Senhora. E são realmente gestos muito pequenos que, no dia a dia, fazem uma grande diferença porque multiplicam a bondade e são seguro de vida e consolo para todos aqueles a quem falta o amor, a esperança, a confiança ou a fé.

Falo da fé em Deus e na vida, mas também da confiança nos outros e em nós mesmos.

 

Laurinda Alves, Jornalista, escritora, tradutora e professora universitária de Comunicação, Liderança, e Ética

(In Voz da Fátima, Ano 098, N.º 1177, 13 de outubro 2020) 

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