05 de dezembro, 2024
Voluntários do Santuário: servir como missão e em famíliaNeste Dia Internacional do Voluntário, destacamos o contributo essencial dos 350 voluntários que, diariamente, colaboram no acolhimento aos peregrinos no Santuário.
“Cada voluntário, a seu modo e no trabalho concreto que desenvolve, é rosto do Santuário e ajuda a desenvolver a sua missão”, disse o padre Carlos Cabecinhas, no passado mês de junho, no início do Encontro da Visitação, um momento formativo que reuniu cerca de uma centena de voluntários internos do Santuário de Fátima. Esta afirmação da importância do serviço voluntário é reiterada, com frequência, pelo reitor do Santuário de Fátima, que agradece a cada oportunidade a generosidade e o empenho dos voluntários que colaboram na Cova da Iria. Já nos anos anteriores, no âmbito deste mesmo encontro de formação, o padre Carlos Cabecinhas caraterizava o voluntariado em Fátima como um imprescindível e precioso contributo, sem o qual o Santuário não conseguiria desenvolver muitas das suas ações, sublinhando a diversidade dos âmbitos através dos quais se concretiza. “Os voluntários do Santuário de Fátima organizam-se em três grandes grupos: o grupo que colabora nas celebrações litúrgicas, como os acólitos, os ministros extraordinários da comunhão, os cantores e os leitores; o grupo que tem um contacto direto com os peregrinos, no acolhimento nas celebrações e nas grandes peregrinações, nos Postos de Informações, no Posto de Socorros, no Museu do Santuário; e um grupo de apoio aos serviços, que colabora e ajuda na lavandaria, na paramentaria e também no envio mensal dos cartazes do Santuário”, especifica Cláudia Camelo, coordenadora da Comissão para o Voluntariado do Santuário de Fátima, que sublinha o papel essencial deste serviço que “complementa o trabalho desenvolvido pelos colaboradores da Instituição”. A realidade do voluntariado no Santuário de Fátima é ainda mais ampla, pois engloba também outras colaborações externas e mais pontuais: da Associação dos Servitas de Nossa Senhora de Fátima, dos Escuteiros, dos Colégios de Fátima e de peregrinos jovens que também se disponibilizam a servir na Cova da Iria. Neste Dia Internacional do Voluntário, fomos saber do trabalho e das motivações do grupo específico dos colaboradores voluntários, que fazem do Santuário de Fátima um lugar de serviço permanente ao próximo e à Mensagem de Fátima. Uma missão essencial, mas muitas vezes discreta, cumprida por crianças, jovens e adultos, dos 5 aos 91 anos de idade. Atualmente, são cerca de 350 as pessoas que colaboram como voluntários na Cova da Iria, das quais 30 foram candidatas até ao passado sábado, 30 de novembro, dia em que integraram plenamente o grupo de colaboradores voluntários com o seu compromisso, feito durante a missa das 18h30 na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, e onde aqueles que já são voluntários foram convidados a renovar o elo de serviço com o Santuário através de uma pequena oração (ver no final do texto).
“A melhor maneira de terminar o dia” Manhã de domingo no Santuário, os peregrinos começam a chegar ao Recinto de Oração para participar no terço e na Missa dominical. A recebê-los, junto a uma das entradas, está Eduardo Marques, acolhedor voluntário há já três anos (na foto, segundo voluntário, à esquerda da cruz). A história da sua ligação com o Santuário confunde-se com a sua história pessoal. Já tinha sido acólito na Cova da Iria, em criança. Depois de uma vida emigrado na Suíça, uma doença degenerativa da esposa, seguida de um AVC, regressou ao Santuário. “No dia seguinte ao AVC, vim ao Santuário, ao Terço das 21h30 e levei o andor de Nossa Senhora. A partir daí, comecei a vir todos os dias, durante o tempo que ela esteve viva. Quando ela partiu, convidaram-me para ser voluntário e depois continuei, até hoje”, conta. Todos os dias da semana, Eduardo presta serviço voluntário no terço das 21h30, onde orienta a procissão, e ao domingo, no acolhimento aos peregrinos, num trabalho onde a solidão é esbatida pelo contacto próximo com outras pessoas, com as quais chega a estabelecer amizades. É essa relação que leva para casa, ao fim do dia, a par de uma sensação de “paz, de dever cumprido” e de vivacidade. “Durante o dia, ando ocupado com um quintal que tenho lá em casa e depois, à noite, é vir para aqui. Criei uma rotina e já não consigo ficar em casa àquela hora… É a melhor maneira de terminar o dia [...] Há quem diga que a solidão mata, mas eu não sinto a solidão”, garante.
Durante o período de pandemia a ajuda dos voluntários foi fundamental para que o Santuário pudesse acolher os peregrinos.
Um apostolado Foi após se reformar como professora do primeiro ciclo que Ermelinda Silva decidiu fazer voluntariado nas Casas dos Pastorinhos e no Posto de Informações, em Aljustrel, lugar onde nasceu e vive esta sobrinha neta da vidente Lúcia de Jesus. A possibilidade deste serviço não gerou dúvidas, até porque a outra opção “era ficar em casa, sentada, a ver televisão e a ler livros”. “Uma vez que eu acredito e vivo isto, [...] achei que podia ajudar a dar a conhecer a história dos Pastorinhos e a Mensagem de Nossa Senhora”, justifica a voluntária, no alpendre do Posto de Informações, junto à casa da Irmã Lúcia. Após 23 anos de serviço ininterrupto, o movimento do dia já pesa no cansaço, mas a vontade desta professora reformada continua a garantir a presença de “pelo menos dois dias por semana”, desta vez não só para ensinar, mas também para aprender. “No caminho para cá, peço a Nossa Senhora e aos Pastorinhos que me ajudem a falar aos peregrinos. Aqui, eu cresço, porque as pessoas também me ensinam muita coisa, com as suas palavras e gestos”, admite Ermelinda, que vive o voluntariado no Santuário como uma missão. “Não é só passar o tempo, é um apostolado!”, afirma, convicta. A uma centena de metros dali, Joana Cardeira concretiza o desejo de “ajudar o próximo” no acolhimento aos peregrinos que visitam a casa dos Santos Francisco e Jacinta Marto. Justifica a escolha deste lugar para servir o próximo também pela fé que tem em Nossa Senhora e pela paz que encontra naquela habitação rústica, rodeada pelo silêncio da natureza. Profissional do imobiliário, desloca-se todas as terças-feiras da Marinha Grande para ali, onde recebe e acompanha os peregrinos na visita pela casa. Há quase sempre gente a entrar. Quando não há, aproveita o tempo para orar, conduzida pelo terço que pende sob a mão esquerda. “Aqui, sinto-me mais perto da Mãe do Céu”, diz, num sorriso caloroso, o mesmo com que acolhe uma nova peregrina que acaba de entrar. Acompanha-a pelas divisões, sempre disponível para esclarecer qualquer dúvida, até ao pátio da saída. Neste contacto com as pessoas, sente-se desperta pela fé que expressam muitos dos que ali vão pela primeira vez, sobretudo pela forma intensa como falam daquele lugar. Terminado o dia, regressa a casa “mais tranquila e de coração cheio”. “Sinto que levo daqui mais paz, amor e fé… É isso que pretendo: ter cada vez mais fé”.
Joaquim Dias, colaborador do Santuário, assume também funções de voluntário como leitor e ministro extraordinário da comunhão.
Gratidão por servir no Santuário de Nossa Senhora Uma das ações diárias mais visíveis do Santuário de Fátima são as celebrações, para as quais o serviço voluntário é imprescindível. “Sem este trabalho não poderíamos concretizar a nossa missão no dia a dia do modo como a concretizamos. [...] Leitores, cantores, acólitos, ministros extraordinários da comunhão: todos dão o seu contributo para que as celebrações decorram com a maior beleza e dignidade”, afiança o padre Joaquim Ganhão, diretor do Departamento de Liturgia do Santuário, que descreve o voluntariado na Cova da Iria como “uma realidade em acontecimento, uma vez que são muitas as pessoas que, felizmente, se dispõem a colaborar”. A irmã Inês Vasconcelos, Serva de Nossa Senhora de Fátima, é uma das voluntárias que colabora nas celebrações litúrgicas, como leitora e ministra extraordinária da comunhão, uma entrega que vive com “grande alegria”. “Antes de ser uma tarefa, é um dom. Proclamar a Palavra de Deus, para mim, é um gozo. Para mim, este serviço significa colaborar com o Santuário com aquela que é a sua primeira missão: dar Jesus, pela Palavra e pela Eucaristia. Estes dois ministérios, de leitor e de ministro da comunhão são o coração da Mensagem de Fátima, por isso é-me sempre grato colaborar nesta missão do Santuário”, afirma a voluntária, momentos antes da missa das 11h00, onde vai proclamar a Primeira Leitura e ler a Oração dos Fiéis. Joaquim Dias, colaborador do Santuário, assume também funções de voluntário como leitor e ministro extraordinário da comunhão. “Quando estou ao serviço, como colaborador, mas até mais como voluntário, tento calçar os sapatos dos Pastorinhos e dar continuidade à missão que Nossa Senhora nos pediu, seja no acolhimento aos peregrinos, como ministro ou como leitor. [...] A missão de cada voluntário é estar à disposição de quem chega, tal como Maria, e faço este voluntariado com uma gratidão imensa porque posso ser um servidor de Maria nos meus irmãos”, assume.
Pagela com a Oração dos Voluntários do Santuário de Fátima, lida no compromisso feito no passado sábado, durante a missa das 18h30, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.
Uma família Menos visível, mas não menos importante, é a ação dos voluntários que apoiam os serviços do Santuário de Fátima, como é o caso da lavandaria, onde Maria Quelhas e Maria Simões ajudam regularmente. “Aqui, Nossa Senhora chama-nos para fazer qualquer coisa e, quando vim para Fátima, há seis anos, soube que o Santuário aceitava voluntários e vim ajudar aqui na lavandaria. Vim por amor a Nossa Senhora e porque senti um chamamento e procurei, mas continuei estes seis anos pelo ambiente”, conta Maria Quelhas. O ambiente familiar entre as voluntárias e as colaboradoras do Santuário é evidente. Entre o engomar e a dobra dos lençóis a conversa faz passar o tempo mais rápido. “Não são funcionárias, para mim; são amigas ou até irmãs”, confirma a voluntária, que também colabora no Santuário como ministra extraordinária da comunhão. Na lavandaria, faz um trabalho onde não contacta com o peregrino, mas nem por isso se sente menos orgulhosa. “Fico feliz, no fim do dia, de saber que eu, como voluntária, contribuí para o trabalho feito”, diz, ao apontar para uma pilha de lençóis que acabou de dobrar com Maria Simões, voluntária há dois anos, na lavandaria, no Posto de Socorros e no acolhimento a grupos de idosos. “Este serviço já faz parte do meu dia a dia e se não venho até parece que não me sinto bem. Aqui, recebo mais do que aquilo que dou”, conclui. Ao fundo, as colaboradoras do Santuário não poupam elogios ao trabalho das voluntárias. “São os nossos anjos da guarda”, dizem, carinhosamente. Na saída, o fresco da rua contrasta com o calor e o perfume da roupa lavada que ambientava a lavandaria. Lá dentro, ainda se ouvem os risos e conversas soltas entre as voluntárias e as colaboradoras, enquanto cuidam da roupa. Com um serviço assim, todo o trabalho é mais fácil.
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