07 de julho, 2022
Visita temática mostrou rosto de Cristo pelo canto de VerónicaO Rancho Folclórico da Casa do Povo do Paul foi o convidado da terceira visita temática à exposição Rostos de Fátima, onde se analisou o cântico que se ouve ao percorrer a mostra.
A terceira visita temática à exposição Rostos de Fátima, que aconteceu na noite de ontem, teve como destaque o tema musical que se ouve ao percorrer a mostra, uma interpretação do Rancho Folclórico da Casa do Povo do Paul, da Covilhã, do tema “O vos omnes, diálogo com a antiga Verónica”, musicado ao órgão pelo organista do Santuário de Fátima, Sílvio Vicente. O encontro decorreu ao ritmo de um diálogo entre o diretor do Museu do Santuário de Fátima, Marco Daniel Duarte, e Leonor Narciso, interlocutora do Rancho Folclórico da Casa do Povo do Paul, que começou por destacar o “vasto património cultural imaterial” da Beira, num acervo que vai desde os cantares ligados ao calendário agrícola e aos vários ciclos do trabalho até aos diversos rituais religiosos. A convidada descreveu depois o trabalho de recolha de música religiosa e profana que o rancho tem vindo a assumir, a partir das tradições que emanaram dos diferentes domínios da vida quotidiana - um processo que considerou ser “simples”, uma vez que o canto “está na alma das pessoas do Paul, que gostam muito de cantar”. Sobre o futuro, a responsável destacou o papel fundamental da educação na responsabilização dos mais novos para a importância de preservar o “rico património imaterial cultural”, num trabalho que o rancho tem vindo a tentar concretizar através da dinamização de oficinas junto dos alunos, nas escolas.
Centrando-se no tema do encontro, Leonor Narciso começou por traçar um perfil biográfico da figura “mística” de Verónica, que, tendo por base as recolhas que fez junto das pessoas mais velhas da região do Paul, definiu sucintamente como “uma figura do povo, que cozia o pão e que, ao dar-se conta que Jesus ia a passar com a cruz, tão maltratado, dele se abeira com um pano branco e lhe limpa o rosto – pano este onde, no dia seguinte, se mantinha o rosto de Cristo.” Marco Daniel Duarte recordou a presença da tradição da representação da figura de Verónica que desenrola o rosto de Cristo e o apresenta à comunidade, enquanto canta, nas celebrações quaresmais, preseça esta que se estende um pouco por todo o país e também no Brasil e em Macau, para os portugueses também a levaram, informou. Foi precisamente esse canto – que serve de inspiração à música da exposição –, que o diretor do Museu do Santuário de Fátima convidou os participantes a ouvir, acompanhando a letra e melodia, projetadas num ecrã. De seguida, quatro elementos do Rancho Folclórico da Casa do Povo do Paul interpretaram também o canto de Verónica, desta vez a partir da melodia ouvida naquela região. No final da apresentação, Leonor Narciso fez saber da existência de diferentes melodias do cântico da Verónica, que podem ser encontradas em várias zonas do país, sublinhando a importância de haver um registo destas tradições. A responsável deu a conhecer ainda alguns dos contextos, culturais e religiosos, nos quais este cântico é apresentado pelo grupo etnográfico que integra. A visita temática terminou com a apresentação pelo Rancho Folclórico da Casa do Povo do Paul de dois cantos populares ligados a Nossa Senhora das Dores, cantados acapella e, depois, com o acompanhamento de adufes. O tema O vos omnes, diálogo com a antiga Verónica” inspira-se no primeiro núcleo da segunda parte da exposição que aborda o rosto trinitário de Deus, onde consta um sudário que a figura da Verónica enverga. A próxima visita temática à exposição está agendada para 3 de agosto e tem por tema o mensário do Santuário "Voz da Fátima”, que este ano celebra o centenário do primeiro número. A convidada será Carmo Rodeia, diretora do Gabinete de Comunicação do Santuário de Fátima. |