22 de junho, 2023

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Virtudes heroicas da irmã Lúcia reconhecidas pelo Vaticano

Aprovação do Decreto pelo Papa é um passo significativo no processo de beatificação e canonização da agora venerável vidente de Fátima. No Santuário de Fátima os sinos tocaram a repique

 

 

O Papa abriu esta quinta-feira caminho à beatificação da Irmã Lúcia de Jesus, a mais velha dos três videntes de Fátima e figura central no conhecimento e divulgação da Mensagem dirigida à humanidade por Nossa Senhora nas Aparições na Cova da Iria, em 1917.

Francisco aprovou a publicação do decreto que reconhece as “virtudes heroicas” da religiosa Carmelita, após uma audiência concedida ao prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos (Santa Sé), cardeal Marcello Semeraro, esta manhã, informa a Sala Stampa.

Este é um passo central no processo que leva à proclamação de um fiel católico como beato, penúltima etapa para a declaração da santidade; para a beatificação, exige-se o reconhecimento de um milagre atribuído à intercessão da agora venerável Lúcia de Jesus.

No santuário de Fátima, esta manhã, os sinos tocaram a repique, em sinal festivo pela "alegria deste momento" como referiu o reitor, padre Carlos cabecinhas, que presidiu a uma oração espontânea na Capelinha das Aparições, na qual participaram funcionários, voluntários e peregrinos presentes no momento.

O decreto com as virtudes heroicas da Irmã Lúcia deverá ser lido na presença do Bispo de Coimbra, que chancelou o processo na sua fase diocesana, em data oportuna.

Em outubro de 2022, o processo de beatificação e canonização da religiosa tinha conhecido um  desenvolvimento importante, com a entrega, no Vaticano, do documento sobre as virtudes heroicas.

No ato de entrega da ‘Positio Super Vita, Virtutibus et Fama Sanctitatis’ (sobre a vida, virtudes e fama de santidade), em Roma, estiveram presentes o cardeal Marcello Semeraro; o postulador geral da causa de canonização, padre Marco Chiesa; a vice-postuladora, irmã Ângela de Fátima Coelho; o relator, monsenhor Maurizio Tagliaferri; e a irmã Filipa Pereira, colaboradora da causa.

Este volume contém a biografia da Irmã Lúcia, feita a partir dos documentos recolhidos na fase diocesana do processo (que decorreu na Diocese de Coimbra entre 2008-2017); a ‘Informatio’ (informação), que descreve as virtudes vividas pela religiosa, bem como o elenco dos depoimentos das testemunhas, o seu Diário e outros documentos inéditos, “considerados relevantes no processo”.

Este documento foi analisado por um conjunto de nove teólogos que emitiram o seu parecer favorável sobre a prática das virtudes em grau heroico.

O parecer positivo do Dicastério para as Causas dos Santos foi apresentado ao Papa, que aprovou a publicação do respetivo decreto, passando a Irmã Lúcia, agora, a ser designada como venerável.

A Irmã Lúcia de Jesus nasceu a 28 de março de 1907, em Fátima, filha de Maria Rosa e António dos Santos. Dois dias depois foi batizada e aos 6 anos fez a sua Primeira Comunhão, na Igreja Paroquial. Aos 10 anos, com os primos S. Francisco e S. Jacinta Marto, foi agraciada com as aparições do Anjo de Portugal (1916) e da Virgem Maria (1917), em Fátima.

Após a morte dos primos, totalmente comprometida com a missão que recebeu da parte de Deus, através das mãos da Senhora do Rosário – Jesus quer servir-se de ti para me fazer conhecer e amar – Lúcia deixa a sua terra natal e parte para o Porto, com apenas 14 anos. No desejo de se entregar exclusivamente a Deus, ingressa no Instituto das Irmãs de Santa Doroteia em 1925, onde permaneceu até 1948.

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O seu percurso como Religiosa Doroteia foi maioritariamente vivido em Espanha, onde teve as duas Aparições que completam o ciclo da mensagem de Fátima, com os pedidos da Devoção dos Primeiros Sábados (1925), em Pontevedra, e da Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria (1929), em Tuy. Ainda durante este tempo, por ordem do Bispo de Leiria, escreve as suas primeiras Memórias, dando assim início a um dos meios através do qual divulgará a mensagem de Fátima: a sua obra escrita.

Aspirando a um maior recolhimento e entrega ao Senhor e ao serviço da mensagem de Fátima, entrou no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, a 25 de março de 1948, onde permaneceu até à sua morte.

Uma das principais virtudes que marcam a espiritualidade desta religiosa é a humildade. Diante da enorme quantidade de cartas que recebe ou de pessoas que a procuram, dirá sempre, com clarividência, que tudo “é por causa de Nossa Senhora”. Ao mesmo tempo, Lúcia tem uma consciência clara da sua missão: sabe-se profeta de uma mensagem que o Céu lhe confiou, ainda menina, e à qual será fiel até ao fim, com perseverança, ousadia e coragem. Nada a detém quando se trata de anunciar o que o Imaculado Coração de Maria lhe comunicara, e esta determinação vê-se refletida no seu pensamento e na sua escrita, aliada a uma profunda sensibilidade poética.

A obediência, a alegria e a fidelidade são a atmosfera em que Lúcia desenvolve a sua vocação como carmelita e a sua missão como profeta da mensagem de Fátima, vivendo sempre a sua consagração com um profundo espírito eclesial.

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O eixo central da sua vida foi a intimidade com Deus, alimentada pela adoração eucarística. Contudo, na sua oração não esquece o Santo Padre, a unidade da Igreja, a conversão dos pecadores, a sua comunidade e a multidão silenciosa que, de todo o mundo, se recomendava às suas orações. De facto, ao Carmelo de Coimbra chegaram milhares e milhares de cartas com o rumor de tantas necessidades e intenções. A cela da irmã Lúcia, terreno sagrado que testemunhou a entrega silenciosa desta mulher, tornou-se num lugar com uma dimensão universal.

A 25 de março de 1984, viu finalmente cumprir-se a Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, quando o Santo Padre em união com todos os Bispos realizou o pedido de Nossa Senhora, para o qual Lúcia se empenhou arduamente.

Uma das maiores exigências da sua longa vida foi certamente a de viver em harmonia a espiritualidade do Carmelo e a da Mensagem de Fátima, conciliando a dimensão mística e profética da sua vocação e missão.

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A partir do ano 2000, após a Beatificação dos seus primos e a publicação da terceira parte do Segredo, Lúcia sente que a sua missão está cumprida e cresce em si o desejo do céu, para onde parte no dia 13 de fevereiro de 2005, com 97 anos de idade. Os seus restos encontram-se sepultados na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, em Fátima, desde o dia 19 de fevereiro de 2006.

O dia 15 de fevereiro de 2005, por decisão do Governo português, foi um dia de luto nacional pela morte desta “figura ímpar da igreja e do século XX portugueses”, acrescentando o Decreto que “a Irmã Lúcia foi uma das mulheres cuja atuação marcou mais profundamente a sociedade portuguesa atual”.

A Igreja e a sociedade portuguesas estão, assim, gratas a esta humilde carmelita pela luz de Cristo de que a sua vida foi transparência e irradiação.

 

*A nota biográfica é da autoria da irmã Ângela Coelho, vice-postuladora da Causa de Beatificação e Canonização da irmã Lúcia de Jesus)

 

 

 

 

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