08 de junho, 2024

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Uma visão de paz a partir dos rosários contemporâneos

Investigadora Cristina Filipe expôs a forte ligação entre a joalharia e o Terço e revelou as inquietações dos artistas no ato de criação.

“Há uma forma concreta de rezarmos o Terço, mas cada um de nós tem uma forma específica de estabelecer esse diálogo com o objeto”, afirmou a investigadora e artista Cristina Filipe, no início da visita temática à exposição “Rosarium: Alegria e Luz, Dor e Glória” que, no passado dia 5 de junho, lhe coube dinamizar.

Estava lançado o mote para uma sessão que revelaria a forte relação entre a joalharia e o objeto Terço. Mesmo que de uma forma empírica e pouco consciente, Cristina Filipe considerou extraordinário que muitos trabalhos desenvolvidos por artistas contemporâneos revelem a preocupação de promover a paz. “Muitos, se calhar, nem têm consciência do que é um rosário e de como é que se reza”, referiu. A verdade é que esse foi o pedido de Nossa Senhora, e essa ligação involuntária, presente nas peças, tem-na deixado “surpreendida”.

Foi na interpretação livre do rosário e nas criações de 18 artistas contemporâneos que Cristina Filipe centrou a sua intervenção.

Antes, porém, guiou os visitantes num percurso rápido pela sua tese de mestrado, em que se revelou dona de uma criatividade desconcertante – concebeu um colar com tufos do cabelo que lhe caiu durante essa etapa de formação. De seguida, descreveu e interpretou os quatro terços da exposição “Rosarium” que, no seu entender, merecem a classificação de “contemporâneos” e, num terceiro momento, agitou a plateia com uma imagem de terços de prisioneiros do Holocausto feitos a partir de pão. “É extraordinária a capacidade criativa de quem está num momento de grande dor e sofrimento e consegue conceber um terço, acreditar que o terço é uma ferramenta vital, prescindir do pão, que é o seu alimento, para poder ter um rosário”, comentou.
 

Correntes de oração

Na análise ao trabalho de 18 artistas contemporâneos, Cristina Filipe trouxe olhares muito diferentes sobre o Terço e revelou os questionamentos que os artistas colocaram enquanto criavam os rosários.

O ponto de partida foi o colar de 66 contas da designer de joalharia Manon van Kouswijk. Cada conta corresponde a uma cara sorridente que, no entanto, se revela cada vez menos sorridente com a insistência do olhar. Alguns colares de oração islâmicos também têm 66 contas, explicou Cristina Filipe. “É um objeto híbrido que faz referência a uma série de tradições culturais e religiosas sem estar alinhado com nenhum especificamente”, comentou.

Partiu depois para a portuguesa Sara Leme que, durante o confinamento da pandemia Covid-19, recriou um rosário tradicional com recurso a plástico de bolhas. A peça responde à pergunta “como pode um material mundano meditar sobre um ato sagrado?” e põe em evidência “a velocidade contraditória entre o tempo da oração e a fragilidade do ar que cada bolha de plástico contém”.

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Com uma peça da autoria de Katjia Prins, Cristina Filipe trouxe à plateia “a ideia de que somos todos iguais por dentro”. A peça exposta mostrava vários rosários de diferentes religiões fundidos num só. A autora quis “juntar todas as correntes de oração e criar assim uma única corrente de oração”, explicou Cristina Filipe, acrescentando que ao juntar as correntes, Katjia Prins queria também, simbolicamente, “juntar as diferentes religiões e, consequentemente, as pessoas”. O terço aludia igualmente às muitas guerras - e, por conseguinte, ao derramamento de sangue - que foram travadas em nome da religião.

A dinamizadora desta segunda visita temática percorreu ainda as motivações e os argumentos dos criadores Mengying Sun, Rosário Rebello de Andrade, Diana Silva, Tereza Seabra, Catarina Silva, Bárbara Macedo, Bernard Schobinger, Tanel Veenre, Ted Noten, Sara Sharak, Yotam Bahat, Jurgita Erminaite-simkuviene, Karla Mertens, Mia Maljojoki e Déirdre Ní Mhathúna. Terminou, expondo o terço da sua primeira comunhão e o da comunhão da filha.

No final da sessão, Marco Daniel Duarte, diretor do Museu do Santuário de Fátima e comissário da exposição “Rosarium: Alegria e Luz, Dor e Glória”, sintetizou a ideia que a paleta de rosários exposta por Cristina Filipe permitia construir: “o Terço antigo que parece estar conotado com um determinado tipo de peregrinos e parece estar ultrapassado no pensar de muitos, afinal está a ser um laboratório de criação artística ao mais alto nível, seja a partir da tradição cristã, seja a partir de outras tradições religiosas como o judaísmo e islamismo”.

Independentemente do formato e dos materiais, “aquelas contas por entre as mãos são normalmente utilizadas para encontrar a paz”, concluiu.

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