06 de setembro, 2024
Trabalho de Investigação deu a conhecer a génese e o alcance do “Terço de Fátima”Luís Miguel Ferraz, investigador do Departamento de Estudos do Santuário de Fátima conduziu penúltima visita temática desta exposição
A penúltima visita temática à exposição “Rosarium: Alegria e Luz, Dor e Glória – o Rosário como caminho para a paz”, foi conduzida por Luís Miguel Ferraz, investigador do Departamento de Estudos do Santuário de Fátima. O ponto de partida para esta apresentação foi um trabalho de investigação realizado em 2009 no âmbito de um Seminário de Métodos em Teologia Prática, na Universidade Católica, acrescentando dados atualizados de investigação feita mais recentemente, sobretudo no que diz respeito aos públicos, audiências e modos de participação. O investigador com recurso a diversas fontes, procurou informações sobre a institucionalização deste momento de oração na pastoral do Santuário e sobre o tipo de investimento material e humano que nele era feito, nomeadamente na sua preparação e realização, bem como sobre os fluxos de participação que podiam ser identificados. “Nos nossos dias, os meios de difusão de som e imagem são muito diversos e entrecruzam-se em redes de re-difusão que atingem os mais variados públicos, dificilmente contabilizáveis, nas mais diversas plataformas e ambientes digitais”, começou por explicar. O Rosário é uma oração “acessível a todos e com grande capacidade de se tornar universal e intemporal”, e, portanto, está muito presente na tradição popular do Ocidente, concretamente em Portugal, onde a devoção mariana sempre teve grande importância. “Entre as gentes mais simples, como era o caso do povo da região de Fátima em 1917, era uma prática diária para muitos cristãos, mesmo crianças, como lembra a vidente Lúcia nas suas Memórias”, acrescentou Luís Miguel Ferraz. Quer durante, quer no período póstumo às aparições, “esta sempre foi a oração predilecta dos fiéis que ali se juntavam e à medida que o Santuário foi tomando forma, sempre o Rosário fez parte das celebrações”. Em 1935 tiveram lugar as primeiras emissões regulares de rádio em Portugal, através da Emissora Nacional, e dois anos depois nascia a Rádio Renascença. Ainda em 1937, a Emissora Nacional transmitiu uma celebração de Fátima pela primeira vez. Em 1938 a Rádio Renascença começou a reproduzir o sinal da Emissora Nacional. No ano de 1949 aconteceram as primeiras transmissões mensais a partir de Fátima, no âmbito das peregrinações entre maio e outubro, incluindo o tríduo, que normalmente era a oração do Rosário nas noites de 9 a 11. A Rádio Renascença iniciou a transmissão diária do terço, da Basílica dos Mártires, em Lisboa em 1953. Em maio de 1974, a Rádio Renascença, emissora católica portuguesa, principiou a transmitir, todos os domingos, a missa que ao meio-dia se celebrava na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, para que todos os católicos pudessem estar unidos à Fátima no decorrer do Ano Santo. Em Roma, corria o ano de 1979 e o Papa João Paulo II começou a rezar o terço através da Rádio Vaticano a partir da Capela Paulina do Palácio Apostólico nos primeiros sábados de cada mês. A Rádio Renascença repetia este sinal através dos seus emissores. Um ano depois começou a transmitir o terço das 21h30 nos primeiros sábados de cada mês. Em 1990 a Rádio Renascença inaugurou o seu estúdio em Fátima e em novembro desse ano, numa carta dirigida ao então reitor do Santuário de Fátima, surge a primeira referência à transmissão diária do Rosário, por proposta da rádio, de segunda a sábado, às 18h30. No jornal Voz da Fátima de Outubro de 1991 pode ler-se o anúncio do “Terço de segunda a sexta, às 18h30, da capelinha das aparições, onda média e FM para o país e onda curta para a Europa”. A prática iniciada como “experiência” durante o período destas comemorações dos 75 anos das Aparições de Fátima, expandiu-se 15 anos depois com as transmissões pela Rádio e TV Canção Nova e depois, pela televisão católica italiana Telepace em 2007. Em janeiro de 2009, também na Internet passou a ser possível ver em direto esta celebração, com a ligação permanente de uma câmara da Capelinha das Aparições, no site do Santuário de Fátima, que transmite através das redes sociais Facebook e Youtube”. Atualmente, a transmissão em direto é feita pelo site e redes do santuário, pela Rádio e TV Canção Nova e pela Radio Maria. “Dada a sua vinculação aos ritmos exigidos pela transmissão audiovisual, a celebração obedece ao horário fixo daquela meia hora e a um esquema rígido de momentos rituais, sem espaço para grandes improvisos ou variações significativas”, explicou Luís Miguel Ferraz. Assim, a ambientação “é apenas a do silêncio que já é próprio daquele espaço e quando o sino da torre toca às 18h30, o presidente dá início com a invocação inicial e lê de imediato o texto introdutório, em que saúda os peregrinos presentes no local e pelos media e dá um sentido temático à celebração, relacionado com os Mistérios a meditar, bem como as intenções gerais da oração”. “A partir das razões que motivaram o início deste rito concreto, o Rosário da Renascença significou uma forma de aumentar exponencialmente a divulgação da Mensagem de Fátima, no contexto da celebração dos 75 anos das Aparições, cujo fulcro central visa precisamente a importância da oração e da penitência como caminhos de santificação humana”, reiterou o investigador. A institucionalização deste acto, “considerado de grande importância no conjunto das acções celebrativas do Santuário, foi o confirmar da sua potencialidade como meio de evangelização em grande escala, centrando o investimento na formação dos fiéis sobre os temas da fé, a partir da meditação dos Mistério das vidas de Cristo e de Maria”. A forma como a acção é preparada e conduzida remete para essa mesma preocupação de “garantir a sua qualidade técnica e, por outro, enquanto momento celebrativo exemplar da comunicação da alma humana com o divino, fornecendo conteúdos que sirvam de alimento à fé e à actualização da mensagem evangélica na vida concreta do homem de hoje”. A partir da experiência dos crentes, “esta celebração é vivida como um momento de especial intensidade na sua adesão de fé e de vontade à mensagem cristã de amor a Deus e ao próximo e como lugar por excelência para a manifestação dessa ligação, através da oração mariana”. Ainda mais concretamente no caso deste Rosário, com um significado “muito especial de união espiritual com o Santuário de Fátima, especificamente com o local da Aparição assinalado na Capelinha”. Já passaram por esta exposição cerca de 373.617 visitantes. A exposição “Rosarium: Alegria e Luz, Dor e Glória - o Rosário como caminho para a paz” pode ser visitada até 15 de outubro próximo, das 9h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30. A mostra percorre os quatro mistérios que se meditam no Rosário. Através de uma narrativa que contrapõe obras de arte antiga e contemporânea, suscita interpretações no diálogo que se estabelece entre ambas, num convite à contemplação desta oração mariana que é uma das dimensões estruturantes da mensagem de Fátima. |