16 de julho, 2009
A comunicação social descobriu um novo interesse pelo sacerdócio. Pelo lado negativo, desenvolve até à exaustão as fraquezas, pecados e escândalos; pelo lado positivo, realça a generosidade, o espírito de doação, o trabalho de carácter social, mais do que a missão espiritual. Acima de tudo, o que hoje interessa à comunicação social é o carácter misterioso destas pessoas que assumem um estado de vida diferente, por uma causa religiosa, o mesmo é dizer, por uma motivação espiritual.
Não admira que um mundo tão marcado pelo materialismo das opções e dos estilos de vida, sinta admiração por uma realidade tão diferente, isto é, se sinta questionado pelas minorias que pensam, sentem e se deixam seduzir por outras realidades.
O sacerdócio, tal como a vida religiosa, são, de facto, um sinal da diferença, uma bandeira levantada a proclamar que não tem de nivelar-se tudo pela mesma corrente, da qual é difícil alguém libertar-se.Numa sociedade com as características da sociedade ocidental, fazer uma opção de vida tão diferente como é o sacerdócio, não é coisa fácil nem comum. Supõe uma renúncia à própria vontade em favor do serviço segundo o espírito de uma instituição, que é a Igreja, e de uma mensagem exigente, que é a do Evangelho. Face à exaltação do eu, ao cultivo da independência absoluta e ao individualismo reinante, é algo estranho e que a muitos parece alienação da vontade. O sacerdócio supõe a renúncia a uma vida segundo os padrões mais comuns, tanto do ponto de vista familiar como do ponto de vista da organização social. Parece, por isso, a muitos uma forma de diminuição da pessoa e das suas capacidades de realização, uma limitação das possibilidades de amar e ser amado, segundo a mais profunda matriz humana: o homem e a mulher como dois seres iguais em dignidade, mas complementares um do outro. Aquilo que mais incomoda a opinião pública actual tem a ver com a motivação interior que leva alguém a abraçar uma vida sacerdotal, ou seja, o facto de alguém orientar a sua vida por ideais de ordem religiosa, sobrenatural e espiritual. O Ocidente, como lugar da descoberta do laicismo, onde o factor religioso tende a ser relegado para segundo plano ou para o mundo privado, não pode aceitar que persista aí o factor espiritual como motor de uma vida. O mundo do agnosticismo e do ateísmo, o mundo da indiferença religiosa, o mundo em que o religioso se tornou uma escolha privada sem reflexos públicos, não entende que alguém possa assumir publicamente a sua opção religiosa. Em épocas passadas, permeadas por um ambiente social e religioso de matriz cristã, o sacerdócio aparecia como algo tão natural como todos os outros estados de vida. Hoje, quando essa matriz deixou de ser dominante, somente uma pequena minoria tem condições para compreender e valorizar o sacerdócio, a minoria crente, de fé viva, esclarecida e comprometida. Este ano do sacerdócio, proclamado pelo Papa Bento XVI, vai ajudar a conhecer e amar mais esta dimensão essencial da vida da Igreja. A oração, a catequese, o esclarecimento e a aproximação sincera e humilde dos sacerdotes das comunidades, vão dar deles uma imagem diferente e reforçar a ideia de que ainda hoje é possível uma opção de vida motivada pelo factor religioso e espiritual. Este ano vai mostrar ao mundo tantos sacerdotes verdadeiramente entusiasmados na realização da sua missão, totalmente entregues à causa do Evangelho e plenamente seduzidos por Jesus Cristo. Muitos irão redescobrir que o sacerdócio é um caminho de serviço aos outros e um enorme contributo para a felicidade dos homens. Mais do que as figuras apresentadas pelos preconceitos da comunicação social, vai ser apresentado ao mundo o autêntico rosto sacerdotal, o rosto de homens cheios de Deus, apaixonados pela Igreja e totalmente dedicados à missão de anunciar a Boa Nova da Salvação em Jesus Cristo. P. Virgílio Antunes, Reitor do Santuário de Fátima Texto editorial da "Voz da Fátima", edição de 13 de Julho de 2009 |