25 de junho, 2016

 
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Simpósio Teológico Pastoral 2016 entra no segundo dia a debater a vida celebrada

Três oradores partiram à descoberta da profundidade da vida

 

Arrancou este sábado de manhã o segundo dia de trabalhos do Simpósio Teológico-Pastoral 2016, organizado pelo Santuário de Fátima, com uma sessão centrada na vida como dom, que deve ser celebrado e humanamente vivido com alegria.

“A alegria como dom do Espírito e caminho humano de vida” foi aliás o tema da comunicação do professor jesuíta Miguel Almeida que apresentou a alegria como «um fruto do Espírito» e não produto da ação humana. Ela «não se fabrica nem se possui» mas «acolhe-se e trabalha-se».

«A alegria é um dom divino mas é uma tarefa humana» e, tal como a vida, deve «ser acolhida» e «concretizada em absoluta liberdade», o que pressupõe «disponibilidade pessoal para acolher esse dom». E esta disponibilidade deve ser a vocação «mais autêntica de todos os cristãos», referiu ainda o teólogo jesuíta.

Numa comunicação assente nas Cartas de São Paulo aos Gálatas e aos Filipenses, Miguel Almeida abordou o conceito de liberdade, «que não é fazer o que nos apetece» mas sim «escolher o bem» o que pressupõe «uma capacidade para assumir o compromisso» pois “liberdade e fidelidade são duas faces da mesma moeda”.

O teólogo alertou, no entanto, para o perigo de não sermos capazes de viver «esta alegria» e de nos despojarmos «de egoísmos».

«Numa sociedade que se estrutura na autonomia e direitos individuais, a fidelidade ao compromisso é uma ameaça» e muitas vezes corre-se o risco de «não sermos capazes de viver a alegria», sobretudo se «não tivermos centrados no essencial» que é acreditar e viver a alegria da ressurreição que convoca todos os cristãos para a missão, apesar «do sofrimento ou da dor».

«Esta imagem tem que plasmar toda a nossa existência: tal como não há ressurreição sem morte; não há alegria sem dor ou não há amor sem sofrimento» disse o teólogo jesuíta sublinhando que «temos alegria quando nos libertamos de nós próprios e sobretudo dos nossos egoísmos e medos», o que pode levar «uma vida porque a alegria demora tempo a amadurecer», embora nunca possa ser vivida «para lá da concretude da vida».

No mesmo painel, usou da palavra o reitor do Santuário de Fátima que falou do «Sentido cristão da festa».

O Pe. Carlos Cabecinhas lembra que a celebração cristã assume todos os valores humanos e religiosos da festa mas «transforma-os e dá-lhes um sentido novo».

«O mistério pascal da morte e ressurreição de Cristo, acontecimento salvífico central, marca indelevelmente a festa cristã» que faz memória mas «tem de ser vivida todos os dias de forma renovada».

O sacerdote começou por fazer uma abordagem genérica ao conceito de festa, «presença universal em toda as culturas e civilizações»,  identificando os seus elementos centrais- um acontecimento ou protagonista; a ação festiva em si e a comunidade que a partilha- para sublinhar que a festa é sempre «um tempo diferente e especial» que «rompe com o quotidiano sem fugir a ele» e, por isso, «dá produndidade à vida».

«A festa responde, assim, a duas necessidades fundamentais da vida humana: avaliar a vida, centrando-a no essencial e criar comunhão».

Noutra dimensão João Pedro Angélico, professor de teologia da Universidade Católica, assumindo a condição de peregrino falou sobre a Festa e a Peregrinação para dizer que ambas vivem de uma referência mútua.

«O ser humano não pode senão caminhar e não deseja se não festejar» pelo que «Caminhar e festejar são verbos de um mesmo dizer». E, apesar da sua aparente simplicidade ambas «são realidades antropológicas, culturais e históricas densas» porque fazem convergir realidades diversas «por vezes conflituantes como o sagrado e o profano, o individual e o comunitário».

«A festa é a afirmação de uma vida plena; a peregrinação é a metáfora desta tentativa de alcançar a plenitude» disse o teólogo, lembrando que apesar «do sofrimento e da dor associadas à peregrinação, ela representa sempre um momento de festa».

Numa intervenção recheada de referências musicais, cinematográficas e literárias, de Bob Dylan a David Lynch, de Sophia de Mello Breyner e Augusto Mourão a Jack Kerouac ou John Steinbeck, quase em jeito autobiográgico, enquanto peregrino, o teólogo da Universidade Católica do Porto acabou por falar sobre o próprio sentido da humanidade e a busca da plenitude.

O Simpósio Teológico-Pastoral “Eu vim para que tenham vida”, integrado na preparação do centenário das aparições (1917-2017), termina amanhã, domingo, depois de uma conferência  do cardeal de Boston, D. Sean O´Malley, intitulada “Igreja ao serviço da plenitude da vida”

Os trabalhos decorrem no salão do Bom-Pastor, no Centro Paulo VI, em Fátima, sob três perspetivas: a vida “recebida, celebrada e doada”.

O Simpósio Teológico - Pastoral contou com o apoio da Rádio Renascença.

CR

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