15 de junho, 2021
Sétima Aparição completa 100 anosÚltima aparição na Cova da Iria foi dirigida a Lúcia, a única vidente viva em 1921, tendo Nossa Senhora cumprido o que anunciou a 13 de maio de 1917, quando disse aos Pastorinhos que haveria de voltar ainda uma sétima vez
Em 15 de junho de 1921, Lúcia visita a Cova da Iria, com o intuito de se despedir deste lugar. Embora sem vontade tinha anuído à proposta do bispo de Leira para partir, mas Lúcia estava hesitante. O convite do bispo para ir para o Asilo de Vilar, no Porto, tinha sido tentador do ponto de vista da exposição, já que a procura da pequena vidente não lhe dava sossego, mas Lúcia já estaria arrependida, acusando o peso da separação da família e dos locais que lhe eram familiares: “A alegria que senti ao despedir-me do Senhor Bispo durou pouco tempo. Lembrava-me dos meus familiares, da casa paterna, da Cova da Iria, Cabeço, Valinhos, do poço… e agora deixar tudo, assim, de uma vez para sempre? Para ir não sei bem para onde…? Disse ao Sr. Bispo que sim, mas agora vou dizer-lhe que me arrependi e que para aí não quero ir”, conta a religiosa no seu Diário. A diocese de Leiria tinha sido restaurada em 1920 e D. José Alves Correia da Silva fora sagrado bispo diocesano e logo quis informar-se dos acontecimentos de Fátima e do paradeiro de Lúcia, única sobrevivente dos pastorinhos. Ao saber que, nessa ocasião, ela se encontrava em Fátima, pediu a uma senhora da sua confiança o favor de ir ver se, com a licença da mãe, a levava a Leiria. Assim, Lúcia encontrou-se pela primeira vez com D. José que a interrogou sobre as aparições e a aconselhou a guardar segredo do que havia testemunhado e a sair de Fátima. Depois de ter anuído à proposta do bispo, Lúcia entra em profundo sofrimento, arrependida entre a obediência e a sua própria vontade, e decide visitar, por uma última vez, os terrenos da Cova da Iria, quando, de repente, tem uma visão de Nossa Senhora, como descreve na intimidade do seu diário, uns anos mais tarde: “Assim solícita, mais uma vez desceste à terra, e foi então que senti a Tua mão amiga e maternal tocar-me no ombro; levantei o olhar e vi-Te, eras Tu, a Mãe bendita a dar-me a mão e a indicar-me o caminho; os Teus lábios descerraram-se e o doce timbre da tua voz restituiu a luz e a paz à minha alma: ‘Aqui estou pela sétima vez, vai, segue o caminho por onde o Senhor Bispo te quiser levar, essa é a vontade de Deus’. Repeti então o meu ‘sim’, agora bem mais consciente do que o do dia 13 de maio de 1917 e, enquanto de novo Te elevavas ao Céu, como num relance, passou-me pelo espírito toda a série de maravilhas que naquele mesmo lugar, havia apenas quatro anos, ali me tinha sido dado contemplar”. E, prossegue: “Por certo que, desde o Céu, o Teu maternal olhar me seguia os passos e, no espelho imenso da Luz que é Deus, viste a luta daquela a quem prometeste especial proteção: “Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus”. Completam-se cem anos desta aparição que é, porventura, pela sua natureza e pela destinatária, uma aparição dirigida a Lúcia e que iria moldar a sua história vocacional. Menos conhecida do que as restantes, não só as ocorridas na Cova da Iria e testemunhadas pelos primos Francisco e Jacinta Marto, mas também as ocorridas em Espanha, esta aparição assume, por isso, um caráter mais místico e molda o caminho de santidade da vidente de Fátima, que viveu sempre longe da Cova da Iria daí em diante. No dia seguinte à aparição, Lúcia sai de Aljustrel, a caminho do Asilo de Vilar, no Porto, onde é admitida em 17 de junho à guarda das religiosas de Santa Doroteia, tomando o nome de Maria das Dores, sugerido por Mons. Manuel Pereira Lopes, confessor da casa, que em carta a D. João Pereira Venâncio explica: “quando ela entrou, sob condição de se guardar segredo, no Asilo de Vilar, assisti ou fui o padrinho da substituição do seu nome para Maria das Dores, que era o nome da então superiora do Asilo (Madre Maria das Dores Magalhães). Ela compreendeu as vantagens da substituição e foi fiel à promessa de segredo”. Professou como religiosa doroteia em 1928, em Tui (Galiza, Espanha), onde viveu alguns anos. Pouco tempo depois morou em Pontevedra, Galiza, onde também lhe apareceu a Virgem, em 1925, em Pontevedra. Lúcia haveria, ainda, de experimentar mais três aparições, que integram o denominado ciclo cordimariano, entre 1925 e 1929: a Aparição de Nossa Senhora, a Aparição do Menino Jesus e a Aparição da Santíssima Trindade e de Nossa Senhora. Do relato desta sétima aparição relevam dois aspetos que haveriam de marcar a vida de Lúcia: a obediência ao bispo de Leiria, e consequentemente à Igreja, e a solicitude diante da Mãe, cumprindo esse pedido de Maria, nas Bodas de Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Obediência e resistência são as duas “feições” que o teólogo e historiador José Rui Teixeira destaca na personalidade da vidente Lúcia de Jesus: “O âmago desta vida foi a oração, a intimidade espiritual com Deus. Nesse âmago, nunca esqueceu a Igreja, o Santo Padre; a conversão dos pecadores; a união das Igrejas e a unidade da Igreja; a sua comunidade e essa multidão silenciosa que – de todo o mundo – se recomendava às suas orações”, refere o biógrafo oficial no processo de beatificação e canonização da Serva de Deus. Num vídeo que pode ser visto em www.fatima.pt, a propósito do perfil da religiosa, um dos rostos de Fátima patentes na exposição temporária do Santuário de Fátima, José Rui Teixeira sublinha: “Por mais que Lúcia tentasse manter-se oculta, por mais que as circunstâncias a isolassem e silenciassem, ninguém a esqueceu, mesmo depois de décadas de clausura. […] Mesmo quando certos setores da Igreja portuguesa a condenavam a uma certa indiferença, o locutório do Carmelo parecia uma extensão da Cúria Romana e a cela de Lúcia transformava-se numa espécie de mapa-múndi de milhares e milhares de cartas que traziam o rumor de tantas necessidades e intenções”, lembra o teólogo, ao destacar a “grande capacidade de organização” e “obstinação” que permitiram a Lúcia divulgar e promover a Mensagem de Fátima e a devoção ao Imaculado Coração de Maria, ainda que em ambiente de clausura. |