24 de março, 2009

Editorial da Voz da Fátima de 13 de Fevereiro de 2009, sobre a figura de Francisco Marto:
A celebração do centenário do nascimento de Francisco Marto levou-me, mais uma vez, a ler as Memórias da Irmã Lúcia. Que surpreendente a figura de uma criança, tão infantil, por um lado, e tão grande, por outro. Na sua admiração e no seu espanto face a tudo, próprio de quem descobre o mundo e o vê com olhos inocentes e puros, é uma criança; no seu amor por
Deus e na sua amizade pelas pessoas, especialmente as mais pobres, é um adulto.
Quando se encontrava na prisão de Ourém para ser sujeito a interrogatórios, juntamente com Jacinta e Lúcia, Francisco Marto revela o melhor que há em todas as crianças: olham para as coisas mais pequenas, fixam-se nas coisas aparentemente insignificantes, dizem o que ninguém pensava dizer, perguntam o que todos sabem, ouvem o que mais ninguém ouve e vêem o
que mais ninguém vê.
Enquanto rezavam o terço no meio dos outros presos, homens adultos e duros, o Francisco vê que um deles reza com a
boina na cabeça, e diz-lhe: “Vossemecê, se quer rezar, tem de tirar a boina”. Palavras infantis, de uma fina sensibilidade e de um espírito perspicaz, que manifestam, da forma mais simples, a elevada noção da transcendência de Deus e da pequenez da
criatura humana.
Aquela atitude orante espelha uma fé, sem grandes seguranças lógicas ou racionais, mas profundamente enraizada, plena de convicções, interior, capaz de mover uma vida, que tudo crê, tudo espera e tudo ama. Mostra um conhecimento do Deus Criador e Senhor de todas as coisas, a maior beleza, Aquele que é amor, que deslumbra, pacifica e enternece.
A expressão “tem de tirar a boina”, exigente, por um lado, e cheia de afeição, por outro, revela o sentido da distância que vai entre Deus e os homens, entre o Criador e as criaturas, entre a santidade e o pecado. Equivale às expressões bíblicas que convidam à prostração diante do Altíssimo, à inclinação ou pôr-se de joelhos da tradição da Igreja, gestos que, por si mesmos, são profissão de fé e sinal de adoração do Deus três vezes Santo.
Entre as muitas características da personalidade e da vida de Francisco Marto, a sua percepção do sentido de Deus é a mais marcante. Por isso, diz Lúcia nas Memórias: “O que mais o impressionava ou absorvia era Deus”; e ainda: “Ai que bom! Só O vimos duas vezes ainda (refere-se à aparição dos meses de Junho e Julho) e eu gosto tanto d’Ele”. É este gozo interior de conhecer e de gostar de Deus que faz do Francisco um apaixonado contemplativo, um místico que chega mais alto no
encontro e em maior profundidade no amor.
Como a fé, o conhecimento e o amor de Deus nunca são estéreis. Francisco Marto vive uma amizade extrema às pessoas, sobretudo aos mais pobres dos pobres, que são os pecadores. Parte de um sério sentido do pecado, como a pior realidade
que pode acontecer aos seres humanos, pois ele afasta de Deus, impede de O ver e de sentir o gozo da sua contemplação.
A sua oração pelos pecadores mostra, por isso, o amor a Deus, que está triste com os males humanos, e o amor aos homens, que correm o risco de se perder por causa do pecado.
Síntese admirável do grande mandamento acolhido e vivido: ama a Deus com todo o teu coração e ama o teu próximo como
a ti mesmo.
Da mensagem do Anjo e de Nossa Senhora à vida dos Pastorinhos, Fátima é luzeiro bem alto e cátedra segura de vida cristã como caminho de gozo na terra e antecipação do gozo do Céu. Contemplação e acção, fé e obras, amor a Deus e ao próximo são companheiros inseparáveis de Francisco Marto, o pequeno, que faz no coração a grande síntese da vida do
crente, tão bem expressa nas suas palavras de criança: “Se quer rezar, tem de tirar a boina”.

P. Virgílio Antunes, Reitor do Santuário de Fátima
13.Fev.2009
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