08 de março, 2024
“Se cada um procura o seu próprio benefício, as guerras vão continuar”, alerta o Arcebispo do LuxemburgoO cardeal Jean-Claude Hollerich, arcebispo do Luxemburgo, esteve em Fátima. Em declarações ao Gabinete de Comunicação do Santuário, considerou que “para entrar nos novos tempos que estão a surgir, a Igreja deve reformar-se”.
O cardeal Jean-Claude Hollerich, Arcebispo do Luxemburgo, presidente da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (COMECE) e relator-geral da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, esteve em Fátima para orientar o retiro da Quaresma dos bispos portugueses. Em declarações ao Gabinete de Comunicação do Santuário de Fátima, o prelado, questionado acerca das guerras e consequentes alterações de paradigma, considera que “todo o cristão deve ser um embaixador da paz, porque as guerras matam, as guerras magoam, as guerras destroem, e, sobretudo, o que é condenável é quando se dá às guerras uma justificação religiosa”. O arcebispo do Luxemburgo afirma que enquanto cristãos “estamos empenhados em alcançar a paz, e é neste contexto que o Papa fala de uma terceira guerra mundial aos pedaços, que está a acontecer”. “Aqui em Fátima, Nossa Senhora falou da paz, da guerra, da conversão”, através de uma mensagem “que continua a ser importante, porque, para fazer a paz, é preciso converter-se, e sem a conversão do coração, a paz não é possível”. O cardeal Jean-Claude Hollerich deixou ainda o alerta, pois “se cada um procura o seu próprio benefício, as guerras vão continuar”. A Mensagem de Fátima “é muito atual e, neste retiro dos bispos, passei pelo Santuário e rezei o terço, rezei pela paz, rezei pela paz no mundo”. Relativamente ao Sínodo, o relator-geral da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos considera esta reunião “muito importante, porque estamos a entrar numa nova era para a humanidade”. “Numa era pós-moderna, com a inteligência artificial, haverá mudanças antropológicas muito, muito grandes”, acrescentou, afirmando ainda que “precisamos da sinodalidade”. “É preciso que todos os cristãos, todos os batizados, assumam a responsabilidade do Evangelho e participem plenamente na missão da Igreja”, lembrou, pois só assim “a mensagem cristã estará nos novos tempos, no limiar dos quais nos encontramos”. Os preparativos estão em curso para a segunda sessão do Sínodo, e “é bonito ver toda a gente a participar, toda a gente verdadeiramente entusiasmada com a sinodalidade, ver muitos cristãos, muitos batizados, que anseiam por ela, pois estamos a trabalhar, somos, de certa forma, os servidores desta sinodalidade”. O mundo atravessa uma conjuntura que desafia muitas das disposições vigentes, nomeadamente a Igreja, e o cardeal Jean-Claude Hollerich relembrou que apesar da Teologia e estruturas “que foram forjadas no passado, e que ainda hoje são importantes e que toda a gente preza, é evidente que, para entrar nos novos tempos que estão a surgir, a Igreja deve reformar-se”. E esta reforma da Igreja “deve também passar, mais uma vez, pela conversão pastoral e sinodal”. “Creio que a primeira sessão do Sínodo, em outubro de 2023, mostrou o caminho, e não se trata de combater”, salvaguardou o arcebispo do Luxemburgo, que considera que “ao falarmos juntos, descobriremos, de facto, que o Espírito Santo nos está a guiar numa direção, para que algo de novo possa surgir no horizonte”. Jean-Claude Hollerich, S.J., é o primeiro luxemburguês criado cardeal. O Papa Bento XVI nomeou-o arcebispo do Luxemburgo a 12 de julho de 2011. Em maio de 2021, esteve novamente em Fátima para presidir à celebração da Missa da XXV Peregrinação Nacional dos Acólitos. Por esta ocasião, o prelado falou da concretização de uma vida santa: “ser chamado à santidade não significa tornar-se um extraterrestre, tornar-se menos humano. […] A santidade começa com pequenos gestos. […] Pequenos gestos de serviço nas nossas famílias, no nosso grupo de amigos são os primeiros passos para a santidade”. Ainda em agosto desse ano, o arcebispo do Luxemburgo presidiu à Peregrinação Internacional Aniversária de agosto, onde criticou a inércia da política europeia para com os refugiados: “É inadmissível que as fronteiras exteriores da União Europeia sejam lugar de grandes assembleias de refugiados, onde as pessoas vivem em condições desumanas”, afirmou o cardeal luxemburguês, apontando o dedo para a escravatura laboral e sexual de que são vítimas estes refugiados. Por esta ocasião, aceitou participar no podcast #fatimanoseculoXXI, onde falou da sua experiência com a Mensagem de Fátima: “Pessoalmente, sempre vivi Fátima como a abertura do Céu, uma luz, diria, num mundo das trevas. Creio que o nosso mundo precisa disto”, disse, acrescentando que Fátima remete para o essencial: “não acredito que possamos resolver todos os problemas deste mundo, mas se vivermos esta partilha, este amor, com as pessoas que nos rodeiam, o mundo mudará”. “A Igreja tem uma grande responsabilidade no mundo. E, como Igreja, devemos caminhar juntos; o processo sinodal é isto e exige uma grande escuta. O caminho sinodal não é possível sem a escuta. A escuta pressupõe respeito pelo outro, reconhecer e aceitar as diferenças que existem, não querer forçar algo”, disse, em agosto de 2021, em Fátima. Em agosto de 2023, o Cardeal Jean-Claude Hollerich viajou de autocarro até Portugal, para acompanhar as duas centenas de jovens provenientes do Luxemburgo, que participaram na Jornada Mundial da Juventude, Lisboa, 2023.
|