08 de setembro, 2019

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São Francisco Marto apresentado como o “santo do silêncio de Deus”

No quarto Encontro na Basílica, Pedro Valinho Gomes perspetivou a santidade do vidente de Fátima como uma peregrinação interior, que deu testemunho do encontro com Deus através da conversão e do silêncio.

 

Esta tarde, o quarto Encontro da Basílica deste ano teve como orador Pedro Valinho Gomes, teólogo e diretor do Departamento de Acolhimento aos Peregrinos do Santuário de Fátima, que perspetivou a peregrinação interior de São Francisco Marto a partir de três etapas: uma primeira a que deu o nome de “iniciação prostrada”, que desdobrou noutras duas: “manter o ritmo da conversão” e “no fim, um Céu de silêncio”.

Aos peregrinos que marcaram presença na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima o orador começou por fazer uma confidência, ao assumir São Francisco Marto como a sua “porta de entrada para Fátima”. “Foi o apagamento deste menino que, melhor do que tudo mais, me fez notar o que viria depois a repetir, vezes sem conta: que Fátima não traz coisa nova, Fátima traz a Boa Nova!”, justificou.

Para responder à pergunta “que peregrino foi Francisco Marto?”, e tendo por base a vida do santo vidente, Pedro Valinho Gomes definiu, à partida, o ato de peregrinar como um “caminhar por dentro” e “um ato de saudade” que aponta para o “colo materno que Deus oferece”, num percurso “que não se mede ao quilómetro”.

“Sabemos bem que, quando se peregrina, não são os pés que merecem maior cuidado, mas o coração. As curvas e contracurvas, os obstáculos, os recuos e os atalhos, os tropeços e as quedas, os calos, as bolhas e as feridas, a coragem e a esperança, o reerguer, o olhar em frente, o avançar são etapas de um caminho que deixa marcas nessa pele interior, que diz a identidade do Homem de uma forma mais profunda que qualquer exterioridade”, concretizou, antes de apresentar as três etapas da peregrinação interior de São Francisco Marto, marcada pela “entrega total de uma vida à ternura de Deus”.

 

Peregrinação que começa com o Deus prostrado

A primeira etapa, que nomeou de “iniciar prostrado” e que começa com a Aparição do Anjo, em 1916, foi apresentada como o momento que “resume toda a peregrinação de Francisco”.

“Para o Francisco aquele encontro foi como que o dia do seu nascimento. (…) É como se a sua vida toda fosse aquele encontro. É a prostração de um Anjo, isto é, a prostração de Deus, quem lhe ensina toda a beleza do Deus de todas as surpresas. A peregrinação do Francisco começa com o Deus prostrado, que lhe ensina que é prostrado que se caminha na fé. A vida de Francisco Marto não foi mais que um encontro só… Foi só este dia eterno de uma amizade única”, disse, ao destacar o constante “caminho de conversão” que foi a vida do Vidente.

A partir desta primeira etapa, Pedro Valinho Gomes deduziu uma segunda, que apresentou como: “manter o ritmo da conversão”. Ao assumir a consciência de Francisco Marto de que “não é o discurso que converte, mas o encontro”, o orador fez notar uma vida de santidade que “não se fez de palavras”, mas da uma biografia que perspetivou, em vida, a eternidade em Deus.

“Quando me perguntam o que devemos recordar do Francisco, gosto de responder que devemos recordá-lo como um menino preenchido pelo excesso do Céu. Vejo o Francisco centrado no que é essencial na vida. É um menino que compreende perfeitamente que a vida que tem lhe é dada para ser gasta numa relação que valha a pena… E é isso que ele faz: no recanto escuro da igreja paroquial, por detrás de um penedo ou de um arbusto, em oração, ou no apagamento até ao extremo, no leito da sua doença.”

 

Uma vida breve e eterna

Na última etapa, que também desdobrou a partir da primeira e que nomeou de “no fim, um Céu de silêncio”, o teólogo perspetivou a vida de Francisco Marto a partir do silêncio com que este viveu o Mistério de Deus.

“Quando os sentidos se renderam já ao espanto de Deus, quando o pensamento não tem recanto que não seja habitado por este lugar maior que é o próprio Deus, quando o coração esconde um tesouro que não sabe dizer, mesmo se não pode deixar de o dizer, aquilo que resta é apenas a difícil graça do silêncio”, explicou Pedro Valinho Gomes, ao definir Francisco Marto como o “santo do silêncio de Deus”.

“Porque descobriu o Deus, prostrado em silêncio; porque, em silêncio, se converteu ao Seu jeito e Dele deu testemunho, mesmo se quase sem palavras, o Francisco deseja o silêncio do Céu muito antes de o ter abraçado definitivamente. (…) Diz-se que a vida do Francisco foi breve… Perdemos muito da vida em cálculos matemáticos, que não sabem dizer dos sonhos e da esperança, do sangue e das vísceras, da profundeza e das alturas da vida. A vida do Francisco não é breve, é eterna e, só porque é eterna, é breve”, concluiu.

 

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António Mota, que interpretou o recital na segunda parte do Encontro, é doutorado em Música pela Universidade de Aveiro e licenciado em Órgão pela Escola Superior de Música e mestre em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores pelo Instituto Superior Técnico. Leciona órgão, na Universidade de Aveiro e é o atual presidente da AMPO (Associação Musical Pro-Organo).

 

Na segunda parte do encontro, o organista António Mota interpretou, em recital, temas de compositores-organistas franceses da 1ª metade do séc. XX, com algum enfâse em Louis Vierne.

Os “Encontros na Basílica” são uma proposta de reflexão do sobre Fátima, que o Santuário está a dinamizar durante o atual triénio (2017-2020). O próximo está agendado para 10 de novembro e terá como orador o padre José Nuno Silva, que abordará o tema: “Fátima, lugar de fragilidade.”

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