30 de novembro, 2024

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Santuário inaugura exposição que fala de serviço e de um herói anónimo

Exposição temporária "Servir, a Única Pregação" abriu as portas hoje e vai mantê-las abertas até 15 de outubro de 2025.

 

Foi inaugurada, esta tarde, a nova exposição temporária do Santuário de Fátima "Servir, a Única Pregação", que celebra o centenário da Associação dos Servitas de Nossa Senhora de Fátima (Servitas), umbilicalmente ligada ao serviço no Santuário de Fátima.

É o serviço o centro da narrativa da mostra, que é contada num diálogo estabelecido em sete capítulos, e que projetam o verbo servir na dimensão de Deus, do Deus feito homem e da humanidade. Ao longo do percurso expositivo, o serviço e a história centenária dos Servitas é contada em paralelo.

 

O grande púlpito da história humana

O título escrito em minúsculas, no portal de entrada da exposição, assinala, desde logo, o cunho eminentemente humilde que deve conduzir a ação do serviço. Entre os murais que assinalam o primeiro núcleo, um dos púlpitos mais emblemáticos da arte renascentista em Portugal – representado através de um fiel modelo didático – dá as boas-vindas aos visitantes, enquadrando o sentido da exposição em comparação com uma escultura de um Cristo crucificado, que se admira na secção seguinte.

"O grande púlpito da história humana é o lugar do Calvário. Na semântica cristã, púlpito e cruz só podem ser palavras sinónimas cujo radical teológico assenta no verbo servir", clarifica o painel que introduz este breve núcleo, que termina com uma cronologia da génese dos Servitas, plasmada na frente de um expositor onde se pode ver uma das primeiras representações da ação desta associação no Santuário.

Até ali, a ideia de que é impossível pregar e anunciar uma mensagem sem o serviço é figurada através de três jarros, que foram utilizados pelos Servitas no gesto do lava-pés aos peregrinos.

É o gesto do lava-pés e o momento da Última Ceia que orientam o discurso do segundo núcleo, introduzido por uma pintura a óleo de João Sousa Araújo e por esculturas de madeira do século XVIII de três evangelistas: São Mateus, São Marcos e São Lucas. 

O quarto evangelista, São João, abre as portas para uma estrutura que representa o espaço do cenáculo onde terá ocorrido o gesto do lava-pés, "símbolo por excelência da caridade cristã" e que "configura a mais bela, inefável e incompreendida herança do cristianismo: amar (servir) até ao fim", conforme narrado no Evangelho de São João. 

No interior do espaço, o visitante é convidado a sentar-se em bancos laterais, que enquadram duas cadeiras usadas pelos Servitas no lava-pés, e a deixar-se imergir, na itimidade, pelas obras ali expostas.

O centro é ocupado por um gomil de prata, cunhado com as impressões digitais de servidores do Santuário e peregrinos de Fátima, com 12 toalhas que recriam essas mesmas impressões. A obra, apresentada numa estrutura contornada por água em movimento e terra, foi feita para esta exposição e será utilizada em contexto litúrgico no ritual do lava-pés, na Quinta-feira Santa. 

Num dos topos, uma pintura a óleo do século XVI condensa os dois momentos que dão o título ao núcleo, que culmina a mostrar o serviço aos peregrinos que é garantido pelos Servitas, representado numa pintura que recria “A Bênção dos Doentes”, feita a partir de duas fotografias. No mesmo espaço, a custódia mais antiga do Santuário ao serviço das peregrinações, retratada na pintura, é exposta. 

Os capítulos seguintes desdobram-se a partir de figuras-tipo de servidores, o primeiro dos quais, Deus. 

 

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Deus, Maria e os Anjos como servidores

terceiro capítulo é introduzido pela passagem da Carta aos Hebreus: "eis-me aqui, faça-se a tua vontade", é evocada à luz da encarnação, paixão e ressurreição de Cristo. 

Se, no primeiro núcleo, o cinza é a tonalidade escolhida e, logo a seguir, é o branco que pinta o espaço do cenáculo, neste terceiro espaço é o tom de vermelho que enquadrada a "kenosis" (queda, esvaziamento) do Deus que assume a condição humana, em serviço.

Aqui, o diálogo entre obras de arte antiga e contemporânea, assumido ao longo da exposição, apresenta-se de uma forma mais evidente. Logo no início, uma rara representação escultórica da Santíssima Trindade onde Deus Pai segura o Filho já morto, introduz o tema do núcleo, a par com uma pintura a óleo sobre cartão da cruz de Cristo caída. 

Assim que se entra na sala desta secção, o olhar é direcionado para uma escultura em madeira do Senhor dos Passos, do século XVIII, que ocupa o centro de um espaço, onde pinturas de diferentes épocas contam a história do esvaziamento de Cristo desde o seu nascimento até à sua morte. 

A escultura é apresentada como símbolo da queda, mas o contexto expositivo convida o visitante a admirá-la numa ambiguidade teológica na qual o Cristo caído é elevado acima do observador, a partir de uma perspetiva sentada.

À volta da peça central, percorre-se, em obras de diferentes estilos artísticos, o caminho do Filho de Deus, nos momentos que vão do Seu nascimento à Sua morte.

No final, em paralelo com a obra que abre o núcleo, o Deus Filho surge agora amparado no regaço da Mãe, à luz da arte contemporânea do artista plástico Artur Bual e do escultor José Laranjeira Santos. 

O quarto núcleo centra-se no "Fiat" de Nossa Senhora, num exemplo de serviço que é abordado através de representações em torno da Anunciação do Arcanjo Gabriel à Virgem Maria. Uma das representações é a peça mais antiga presente na exposição: um fragmento de baixo-relevo em mármore branco do túmulo de Rui Pires Alfageme.

Duas esculturas de Nossa Senhora de Fátima, de 1931 e 2017, pontuam a conclusão do núcleo, onde, no expositor dedicado aos Servitas, pode ser visto o andor de Nossa Senhora até há poucos anos usado nas procissões de Fátima, e uma escultura em madeira de Nossa Senhora de Fátima, que guarda, como relíquias da azinheira, pedaços de raiz, de tronco e de folha.

São os anjos as figuras a partir das quais é contado o serviço, no quinto núcleo, que tem como subtítulo "Servir a cada momento". 

Estas figuras que, "em nome de Deus, protegem, guardam, confortam, defendem, anunciam e curam", são perspetivadas como servidores de Deus e da humanidade, através das diferentes conotações de serviço que assumem.

Aqui, o elogio deixado pelo Papa João Paulo II ao serviço prestado pelos Servitas é evocada num espaço dedicado a estes servidores, onde é exibido uma maca e um carro-cadeira utilizado para transporte dos doentes na Cova da Iria, na segunda metade do século XX.

A fechar o capítulo, uma galeria com figurações contemporâneas da túnica, da armadura e do pranto do anjo, da escultora Clara Menéres, conduz o visitante para a próxima etapa, que desafia o visitante a perceber os exemplos de serviço ao longo da história da Igreja.

 

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O serviço anónimo, que é espelho do Evangelho

Com o título “diakonia – servir em cada tempo”, o sexto núcleo projeta o olhar para figuras conhecidas e anónimas à luz da ordem do diaconado.

Abrem o espaço uma pintura de São Lourenço e uma escultura de São Francisco de Assis, ambos diáconos da Igreja, com uma dalmática a mediar, num discurso expositivo que começa a dar foco à ideia de que não são apenas os santos os servidores. A primeira peça a mostrar essa ideia é uma pintura a óleo, de 1633, que figura João Afonso, um benfeitor do século XV da zona de Santarém, a distribuir esmolas aos pobres.

A mensagem de Fátima é evocada neste núcleo, também no âmbito do serviço, numa série de quadros de arte contemporânea que ilustram gestos dos Pastorinhos, conforme narrados nas Memórias da Irmã Lúcia, à luz das obras de misericórdia.

Em frente, através de uma representação escultórica do caminho de Jesus para o calvário, é destacado, pela iluminação, o rosto de duas mulheres que ajudam Cristo, numa opção museológica que pretende evidenciar o papel do feminino na história da Salvação.

A reflexão à volta do papel das mulheres na Igreja, nomeadamente da possibilidade recentemente colocada pelo Papa Francisco do diaconado no feminino, é invocada numa peça onde a artista contemporânea Ana Lima-Netto idealiza uma "Veste para Febe?", figura que aparece referida como diaconisa numa Carta aos Romanos. 

Antes do núcleo conclusivo da exposição, o visitante é convidado a participar numa obra aberta. Através da instalação-performance “E eu?”, cada um é desafiado a pegar num jarro, definido deste o início da mostra como marca do serviço, e a escrever num mural um momento em que tenha sido servidor, numa dinâmica que surpreende pela lógica como revela o conteúdo ali partilhado.

 

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A nobre ação de um herói anónimo

Depois de um percurso que olhou para o serviço pela entrega de Deus, de Maria, dos anjos, o último núcleo sintetiza a ideia de que o servir deve ser a única pregação.

Dois sacrários, do século XVII e XVIII, começam por sublinhar, à luz da entrega e morte de Cristo, o sentido e o propósito do serviço, para, logo de seguida, o visitante poder perspetivar esta ação na possibilidade de concretização na vida quotidiana.

Mais à frente, nas margens de uma tapeçaria de Portalegre, que mostra o esplendor do coração de Jesus, são passadas 33 notícias que evidenciam o serviço a partir das ações dos heróis anónimos de cada dia, ali enquadradas como “O Rosto glorioso de Cristo” e Evangelho (boa notícia).

Na partida, um expositor com guarda-sóis utilizados para o rito da comunhão no Recinto de Oração do Santuário instiga os visitantes a fazerem das suas vidas exemplos de serviço, com vista a sermos mais humanidade.

A exposição "Servir, a Única Pregação" oferece uma oportunidade única de reflexão sobre a importância do serviço cristão na sociedade atual, enquanto conduz o visitante pela história e missão dos Servitas. Depois da inauguração, a 30 de novembro, a mostra poderá ser visitada diariamente, das 9h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30. 

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