03 de outubro, 2017
Santuário de Fátima vai acolher relíquia de São João Paulo II a 21 e 22 de outubroRelíquia estará exposta à veneração dos fiéis na Capela da Ressurreição de Jesus
Nos dias 21 e 22 de outubro o Santuário de Fátima vai acolher uma relíquia de São João Paulo II, por ocasião da sua memória litúrgica que é assinalada neste dia. No sábado, dia 21, far-se-á o acolhimento da relíquia na Capelinha das Aparições e a oração do terço. Após a celebração, a relíquia estará exposta na Capela da Ressurreição de Jesus, no piso inferior da Basílica da Santíssima Trindade, à veneração dos fiéis. No dia seguinte a veneração ocorrerá no mesmo local ao longo do dia. Pelas 18h30 tem lugar o acolhimento da relíquia na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, para a celebração da Missa votiva de São João Paulo II. A aceitação da presença desta relíquia em Fátima deve-se essencialmente à ligação profunda existente entre São João Paulo II e Fátima, que o Santuário procura também sublinhar neste ano do Centenário. João Paulo II foi o papa que mais vezes visitou Fátima, três vezes no total. Desde tenra idade, Karol Wojtyla criou uma forte devoção a Nossa Senhora. Quando morreu a sua mãe, ainda criança, passou a visitar frequentemente a Igreja paroquial e habituou-se a confiar todas as suas preocupações e anseios à Virgem. Mais tarde, quando foi nomeado bispo, escolheu para as suas armas episcopais, a letra M junto à cruz e o lema Totus Tuus (Todo Teu), como sinal de total entrega a Maria. E com frequência o então bispo e cardeal de Cracóvia era visto no Santuário da Virgem Negra de Czestochowa, ajoelhado aos pés da Rainha da Polónia. A devoção de João Paulo II a Nossa Senhora sempre foi evidente. Depois do atentado, que por muito pouco não o matou, na praça de São Pedro, a 13 de maio de 1981, o Papa agradeceu à Virgem de Fátima o ter-lhe salvo a vida. No ano seguinte ao atentado, veio a Fátima agradecer esta especial proteção: «Vi em tudo o que foi sucedendo − não me canso de o repetir − uma especial proteção materna de Nossa Senhora. E por coincidência − e não há meras coincidências nos desígnios da Providência divina − vi também um apelo e, quiçá uma chamada de atenção para a mensagem que daqui partiu». Com efeito, todo o pontificado de João Paulo II está intimamente ligado à mensagem de Fátima. Os esforços do Papa em cumprir todas as indicações que a Virgem deixou aos pastorinhos tiveram o seu ponto alto no ato de consagração que efetivou em Roma, a 25 de março de 1984, em união com todos os bispos do mundo. Para presidir a esta celebração, o Santo Padre fez-se acompanhar da imagem original da Virgem de Fátima, que se venera na Capelinha das Aparições. No dia seguinte, João Paulo II entregou ao Bispo de Leiria, D. Alberto Cosme do Amaral, uma pequena caixa com «um presente para Nossa Senhora». Comovido, o bispo abriu a caixa e constatou que se tratava da bala que tinha atravessado o corpo do Papa. Esta está encastoada no interior da coroa preciosa que se coloca na Imagem de Nossa Senhora nos dias 13, de maio a outubro, e noutras solenidades especiais, como a Imaculada Conceição e a Assunção de Nossa Senhora. Esta coroa de ouro tem 1,2 quilos, 313 pérolas e 2 679 pedras preciosas. Dez anos após o atentado, João Paulo II voltou a Fátima. Desta vez, para além do aspeto pessoal, o Papa teve outros motivos para agradecer à Virgem. O muro de Berlim já não existia e os países de Leste abriam nessa época as portas à estabilização da democracia. Neste contexto, o Papa veio a Fátima «a fim de agradecer a Nossa Senhora a proteção dada à Igreja nestes anos, que registaram rápidas e profundas transformações sociais, permitindo abrirem-se novas esperanças para vários povos oprimidos por ideologias ateias que impediram a prática da sua fé». Mas a forte ligação deste Papa a Fátima é, sobretudo, pessoal e João Paulo II refere-se, por diversas vezes, ao «milagre de 13 de maio». Na audiência de 15 de maio de 1991, logo após a visita a Portugal afirmou: «Considero todo este decénio como dom gratuito que, de modo especial, devo à Providência Divina. Foi-me concedido particularmente como um dever, para que ainda pudesse servir a Igreja, exercendo o ministério de Pedro». Mas ainda na mesma audiência geral, as palavras mais significativas são as que dirigiu aos polacos: «há dez anos fui introduzido na experiência de Fátima vivida pela Igreja. Isto aconteceu na tarde do dia 13 de maio: o atentado à vida do Papa. [...] Sei que a vida, a mim concedida de novo há dez anos, me foi dada pela misericordiosa Providência de Deus. Não esqueçamos as grandes obras de Deus». Em 13 de maio 2000, ano em que é revelada publicamente a terceira parte do segredo de Fátima, João Paulo II voltou ao santuário da Cova da Iria e beatificou os pastorinhos Francisco e Jacinta Marto. Nas palavras proferidas pelo cardeal Sodano, a proteção dada ao papa «parece ter a ver também com a chamada terceira parte do segredo de Fátima», referindo claramente o atentado sofrido por João Paulo II a 13 de maio de 1981 e «a mão materna» que permitiu que o papa agonizante se detivesse no limiar da morte. Segundo o cardeal, foi uma visão profética aquela que as três crianças terão tido, a 13 de julho de 1917: um bispo de branco que reza por todos os crentes, caminhando, com dificuldade, para uma cruz rodeada de cadáveres. O bispo de branco cai depois por terra, sob os tiros de uma arma de fogo.
(atualizada às 15h50) |