29 de fevereiro, 2020

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Santuário de Fátima apresentou documentação inédita do Núcleo Audiovisual do Arquivo

II Jornadas de Arquivo do Santuário de Fátima tiveram lugar no Centro Pastoral de Paulo VI com o tema «Os arquivos audiovisuais e o conhecimento dos fenómenos históricos contemporâneos»

 

O Santuário de Fátima promoveu este sábado as II Jornadas de Arquivo do Santuário de Fátima, com o tema «Os arquivos audiovisuais e o conhecimento dos fenómenos históricos contemporâneos».

A iniciativa, organizada pelo Departamento de Estudos/Serviço de Arquivo e Biblioteca do Santuário de Fátima, contou com cerca de 150 participantes e teve lugar no Centro Pastoral de Paulo VI.

O reitor do Santuário de Fátima, o Pe. Carlos Cabecinhas, na palavra de abertura, falou dos arquivos enquanto “lugares da preservação da memória”,  que “permitem conhecer o passado e contemplar o presente”.

“Cuidar do arquivo não é excentricidade, é sim cuidar da memória”, alertou.

O sacerdote lembrou ainda que, nos Estatutos do Santuário de Fátima, é missão estudar as fontes documentais, e o arquivo fundado em 1965 pretende assim “concretizar essa função”.

Marco Daniel Duarte, Diretor do Departamento de Estudos do Santuário de Fátima, salientou a “especificidade do arquivo do Santuário de Fátima, único dentro e fora da Igreja”.

“O Núcleo Audiovisual desta instituição é uma preciosidade, porque não é comum um arquivo destas dimensões”, explicou ainda.

A centena e meia de participantes, é oriunda de vários lugares, de norte a sul de Portugal, e as áreas de formação vão desde à Ciência Política, ao Jornalismo, a arquivistas, guias turísticos, bibliotecários, técnicos audiovisuais, entre outros.

 

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“Fátima é o maior movimento de massas do século XX e as mulheres têm um papel muito importante”

Na primeira conferência da manhã, o Diretor Adjunto do Arquivo da Rádio Televisão de Portugal, Hilário Lopes, abordou a temática «Os arquivos audiovisuais: oportunidades e desafios à sua preservação e utilização».

“É difícil a preservação física dos arquivos audiovisuais, por ser cara, uma vez que deve haver suporte físico e digital”, explicou o responsável, considerando que, desse modo, as instituições têm de “acautelar a migração dos seus arquivos para os novos suportes que a tecnologia em cada momento oferece”, sob pena de quanto mais tempo a migração for adiada “mais grave será a sua preservação.  As ações de migração, consecutivas e permanentes, sempre que a tecnologia evolui, são absolutamente necessárias”.

Neste momento há arquivos audiovisuais que se não forem alvo de uma intervenção urgente “estão em sério risco de degradação” alertou Hilário Lopes.

Outra das práticas a ter em conta com o intuito de facilitar o acesso é a de “garantir uma boa catalogação, de acordo com as especificidades dos ficheiros audiovisuais, pois disso depende o acesso a boa informação”, afirmou ainda.

“Não é possível preservar acervos audiovisuais sem intervir; quanto mais tarde essa intervenção se fizer maior é o perigo da sua desintegração e perda e mais cara se torna a sua recuperação”, concluiu o Diretor Adjunto do Arquivo da Rádio Televisão de Portugal.

A jornalista Helena Matos, cronista do Observador e da Antena 1, autora da série documental para a RTP "Portugal, um povo que reza", abordou «O fenómeno histórico de Fátima nos Arquivos da RTP», e afirmou que “Fátima conta, desde o início, com cobertura mediática" o que, em seu entedner, influenciou "a perceção que os portugueses têm deste lugar e dos seus protagonistas". 

Na segunda comunicação da manhã, a jornalista lembrou que a história da Cova da Iria conta desde os primeiros momentos com registos fotográficos e com o acompanhamento por parte da imprensa. Recorde-se que o jornal O Século fez a cobertura da última aparição, dando-lhe o estatuto de um fenómeno  diferenciado, "o que significou uma importante projeção”.

Do ponto de vista noticioso, apesar de ter tido desde sempre uma imprensa hostil, Fátima foi “um fenómeno noticioso incontornável”.

“Fátima é o maior movimento de massas do século XX e as mulheres têm um papel muito importante”, considera Helena Matos, ao lembrar que quando a imagem surge “Fátima passa a ser vivida de forma diferente pois cada telespectador, nomeadamente com a vinda do Papa em 1967, passa a ser participante de Fátima”.

Assim, “a história da RTP está indelevelmente associada a Fátima, porque a vinda do Papa Paulo VI a Fátima em 1967, marca o início das grandes transmissões da estação de televisão”, esclarece.

“Fátima é uma espécie de imagem da História de Portugal”, concluiu Helena Matos.

 

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“Era impossível o fenómeno de Fátima se ter transformado em fenómeno de massas sem a imagem e o som”

André Melícias, Coordenador do Serviço de Arquivo e Biblioteca do Departamento de Estudos do Santuário de Fátima, falou sobre «O lugar de um arquivo audiovisual num santuário global».

“Um documento audiovisual não congela um momento de um modo estático”, considera, salientando a importância do Núcleo Audiovisual do Santuário de Fátima na comunicação de Fátima enquanto espaço de memória.

O Coordenador do Serviço de Arquivo e Biblioteca do Departamento de Estudos do Santuário de Fátima explicou que a “imagem é um dos principais meios de difusão de ideias e memórias”, e atualmente esse registo é feito não só por parte de profissionais, mas é também feito pelos peregrinos.

Estas imagens recolhidas “são a paisagem sonora que informam o que é Fátima”, e fazem deste Santuário um “local global”.

Atualmente o Núcleo Audiovisual do Santuário de Fátima tem duas pessoas que de forma permanente fazem a gestão, desde a captura até à referenciação, permitindo uma comunicação aberta, imagens de qualidade e apoio à investigação.

O Núcleo Audiovisual do Santuário de Fátima tem aproximadamente 330 mil fotografias: 90 000 fotografias analógicas (negativos em vidro, negativos em película e simples provas fotográficas) e destas estão 20 000 digitalizadas. A fotografia mais antiga data de 13 de julho de 1917.

No que toca a vídeo e áudio, o Núcleo Audiovisual do Santuário de Fátima tem um pré-inventário com 2 300 registos. Os registos mais antigos estão depositados na Cinemateca, num total de 44 registos. Recentemente foi descoberto um espólio de 60 bobines com imagens inéditas.

Marco Daniel Duarte, Diretor do Departamento de Estudos do Santuário de Fátima, foi o responsável pela conferência de encerramento, com o tema «Os documentos audiovisuais na história e memória de Fátima: contar Fátima pela imagem e pelo som».

“Fátima é da ordem da sinestesia”, disse o historiador no começo da sua intervenção, para explicar que este lugar “não são só os olhos, são todos os sentidos que captam informação”.

“Era impossível o fenómeno de Fátima se ter transformado em fenómeno de massas sem a imagem e sem o som”, acrescentou, porque os videntes “foram tema desde a primeira hora, em julho já havia um fotógrafo em Fátima a retratar os acontecimentos”.

Durante a intervenção foram mostradas fotografias inéditas da Ir. Lúcia nos Valinhos em maio de 1946, oriundas de um espólio descoberto recentemente, e nesse sentido, a fotografia é considerada “um motor da história de Fátima”.

As imagens são “memória de uma época que ajudam a recriar Fátima”. É o caso das fotografias dos peregrinos que se tornam “protagonistas” deste lugar, porque se representam a si próprios nas fotografias, ou a sua atitude devocional, que “caminham em direção ao altar, que é uma imagem transversal desde outubro de 1917 até aos dias de hoje. Em Fátima há uma transversalidade da figura humana”, adianta.

“A presença de Fátima no momento social atual acontece através das transmissões das celebrações, acontecimento esse que marca as agendas dos media em Portugal”, acrescentou Marco Daniel Duarte, ao considerar ainda que “para contar Fátima é preciso ter noção do que valem as imagens e os sons deste lugar e Fátima conquistou um lugar social a partir da televisão”.

Foram ainda apresentados registos inéditos do Cardeal António Marto, atual bispo da diocese de Leiria-Fátima, de D. José Policarpo, antigo Cardeal Patriarca de Lisboa, da Virgem Peregrina numa viagem em 1949 em Goa, e da Ir. Lúcia nos Valinhos, em 1946.

Recorde-se que, em 2018, a I Jornada de Arquivo teve como tema o Acesso à informação e a  proteção de dados nos arquivos da Igreja.

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