11 de novembro, 2016
Sacralidade dos santuários “concretiza-se no acolhimento e na partilha solidária” diz vice-reitor do Santuário de FátimaPe. Vitor Coutinho foi um dos oradores da primeira sessão de trabalho do VI Congresso Internacional das Cidades-Santuário
O vice-reitor do Santuário de Fátima disse esta manhã que a preservação da sacralidade dos Santuários “é fundamental” para que se mantenha a “principal motivação” para a sua existência, que é o acolhimento de peregrinos num espaço sagrado. E isso só é possível com a “convergência de esforços de múltiplas entidades: o Santuário, o município, as associações civis, os diversos elementos da proteção civil, as forças policiais, etc”. O Pe. Vitor Coutinho, que falou no primeiro painel do VI Congresso das Cidades-Santuário, promovido pelo município de Ourém, centrou a sua reflexão na “tensão permanente” existente num Santuário, que tem de fazer um esfoço para acolher multidões e ao mesmo tempo garantir o silêncio e o recato necessário à oração da cada um dos peregrinos individualmente, mantendo e respeitando a sacralidade do lugar. A sacralidade dos santuários cristãos “concretiza-se no acolhimento e na partilha solidária que brotam da caridade”; “expressa-se nas múltiplas formas de arte que refletem sobre a experiência da fé; e “vive-se não só no âmbito individual, mas também, e sobretudo , na experiência comunitária de assembleias orantes”, referiu o sacerdote. O responsável falou sobre o Santuário de Fátima, “um bom exemplo da tensão entre as multidões e a sacralidade” destacando que a “afluência de multidões não anula a identidade de um espaço que é reconhecido como santuário”. Aliás, “uma marca distintiva deste santuário é não só receber continuamente um elevado número de peregrinos, ou visitantes, mas também o facto de congregar em momentos especiais do ano multidões verdadeiramente excecionais, sem que isso anule a experiência de peregrinação”, precisou. “Podemos ter uma assembleia de meio milhão de pessoas e garantir o silêncio” referiu exemplificando com a chamada “procissão do silêncio”, que se realiza no final da celenbração do dia 12 de cada mês, de maio a outubro. “É de todos conhecido o profundo ambiente de silêncio orante que se consegue fazer no recinto do Santuário, estando presentes dezenas ou centenas de milhares de pessoas” referiu sublinhando que isso é possível porque se trata de um silêncio “acompanhado de uma ritualidade forte e guiado por breves locuções convidativas a uma interioridade orante”. O sacerdote, que integrou um painel em que participaram também representantes do Santuário de Guadalupe, no México e da cidade de Seçuk, na Turquia, enumerou as características dos santuários- espaços que convocam à oração e privilegiam as celebrações litúrgicas – e falou das estratégias para preservar a sua importância. “Quem passa o limiar de um santuário presida de sentir que entra num espaço onde as referências transcendem as do quotidiano” e para isso é importante “a delimitação espacial dos lugares de oração ou de peregrinação”, a informação ou a icongografia presentes no santuário. “As estratégias de preservação da sacralidade de um santuário que atrai multidões devem ter em conta também o caráter de propostas que é feito nesse espaço, para que os peregrinos e visitantes sintam a descontinuidade em relação aos espaços da vida comum: a centralidade de um programa celebrativo-litúrgico, a ausência de elementos lúdicos, recreativos ou de mero ócio, a clara separação de atividades comerciais dos lugares de peregrinação”, destacou o Pe. Vitor Coutinho. “ O que está em causa é que ao chegar ao Santuário as pessoas e os grupos sintam com clareza o convite a habitar este espaço com uma atitude orante ou contemplativa, meditativa ou de abstração do quotidiano”, acrescentou. “Mesmo o visitante que vem apenas como turista, porque não se identifica com o credo associado ao Santuário, sente-se naturalmente interpelado a uma vivência espiritual que resulta do encontro com uma realidade simbólica que fala de transcendência ou com manifestações culturais que remetem para uma determinada mundividência” concluiu. Já no período do debate o sacerdote teve oportunidade de falar especificamente sobre o Centenário, que se celebra em 2017, e que tem vindo a ser preparado “com todo o cuidado”, sublinhando que esta data não será apenas celebrada como uma efeméride e que as iniciativas a ela associadas deverão “permanecer conferindo um dinamismo próprio” ao ritmo celebrativo do santuário. “Não queremos um conjunto de foguetes mas um dinamismo que fique no Santuário oferecendo diversidade a todos os que nos procuram”, afirmou. A sexta edição do Congresso Internacional das Cidades-Santuário, com o objetivo de encontrar “novos caminhos” para o seu desenvolvimento, realiza-se em Ourém e Fátima, entre hoje e 12 de novembro, com participantes da Europa e da América. “O desafio que se coloca a decisores públicos e privados ligados ao setor é o de assegurar a busca constante e exigente do desenvolvimento sustentável”, explica a edilidade. Ao sexto congresso internacional intitulado ‘Novos caminhos na valorização da peregrinação e do turismo religioso: cooperação, gestão e inovação’ estão associados vários objetivos como reforçar o projeto Shrines of Europe [Santuários da Europa] pelos seus 20 anos e no quadro do centenário das Aparições de Fátima; “partilhar boas práticas”; apresentar soluções para “ultrapassar as dificuldades comuns e específicas detetadas”. Ao município de Ourém associa-se também na organização do congresso a ACISO – Associação Empresarial Ourém-Fátima e o Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria. |