26 de dezembro, 2017

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Revista Fátima XXI afirmou Fátima enquanto “realidade cultural”

Marco Daniel Duarte em entrevista à Sala de Imprensa fez balanço “positivo” de oito edições

 

Sala de Imprensa (SI) − Que balanço se pode fazer destes sete números da revista Fátima XXI?

Marco Daniel Duarte (MDD) – O balanço da Fátima XXI é altamente positivo. Ainda que seja uma visão de quem está a fazer este trabalho, portanto é uma visão de dentro do projeto, julgo que para a equipa de redação, para o reitor – diretor da publicação – para mim enquanto diretor-adjunto, esta revista mostrou ainda mais que é possível percecionar Fátima através das ferramentas da cultura, das diferentes áreas do saber, muitas vezes com um caracter mais académico, através dos cadernos temáticos. Após oito números podemos dizer que a Fátima XXI passou por todas as temáticas importantes de Fátima. Por exemplo o Coração Imaculado de Maria, ou Fátima enquanto unidade da comunicação de massas. Chamámos os especialistas para refletirem como Fátima comunica, como Fátima tem comunicado ao longo de 100 anos. Por exemplo através de olhares muito específicos para realidades muito próprias de Fátima, como é o caso da imagem de Nossa Senhora da Capelinha das Aparições, que foi alvo de um estudo e que culminou num caderno temático. Os protagonistas da primeira hora de Fátima, os pastorinhos, também deram origem a um caderno temático. Esta ultima revista tem como tema no seu caderno temático o milagre do sol. Este último tema, foi guardado para o fim por uma questão simbólica, para fechar o projeto, precisamente com esse dia 13 de outubro de 1917, que é, se quisermos, a grande abertura de Fátima para todo um século de história que depois se sucede e nós já podemos estudar. Passaram pela Fátima XXI várias dezenas de autores, ligados a várias universidades ou a ramos específicos do saber, que abordaram academicamente, com investigação inédita, e portanto a Fátima XXI traz também dados novos sobre a história de Fátima. Talvez tivéssemos essa perceção mas não tínhamos essa garantia quando iniciamos esse projeto. Neste momento temos uma conclusão muito clara de que a Fátima XXI trouxe novidades relativas à investigação sobre Fátima. E a partir daqui dados novos estão disponíveis para o estudo de Fátima.

 

SI − As expectativas relativas a este projeto foram portanto superadas?

MDD – Claramente superou as expectativas. O caminho que abrimos e aquilo que inicialmente tínhamos pensado tratar era Fátima como realidade cultural. Não apenas uma realidade devocional ao nível do culto, da teologia da oração, mas tratar Fátima como realidade cultural. E aí a parte investigativa ficou sobretudo ligada ao caderno temático que saia em cada um dos números. Depois cada uma das rubricas tratou também pequenos temas que mostram Fátima como realidade cultural, seja a partir de uma reflexão sobre os sons de Fátima, a paisagem humana de Fátima, a paisagem ritual de Fátima, a paisagem construtiva ou construída, como são as Basílicas, o Recinto de Oração cheio de gente, mas também com menos gente, Fátima no tempo de inverno, foi logo uma das primeiras apostas e para além disso mostrar Fátima através da sua representação, daquilo que normalmente não se vê. Olhar os documentos como obras que testemunham, quer documentos escritos, quer documentos artísticos, quer documentos sonoros que aqui aparecem trabalhados e mostram um zoom. Nós procuramos que a Fátima XXI mostrasse Fátima através do zoom de uma camara fotográfica. E não raramente nos pomos na capa ou mesmo na abertura, texturas e objetos que falam de Fátima e porque muitas vezes aparecem diante do nosso olhar não reparamos neles, e a Fátima XXI vem ajudar a conhecer que há Fátima nas pequenas coisas. Nos pequenos objetos, nas texturas. Por exemplo, neste oitavo número são mostradas as rosas do andor de Nossa Senhora de Fátima. Provavelmente já todos demos pelas rosas naquele andor, mas quando as vemos aqui com esta luz, facilmente o nosso olhar se transporta para uma grande celebração de Fátima. É isso mesmo que a Fátima XXI pretende, ser uma porta de acesso a realidades que muitas vezes nós só experimentamos num lugar, mas que cada leitor pode experimentar em sua casa.

 

SI – Revisitando os 8 números da Fátima XXI, voltamos a maio de 2014, primeiro número. Na apresentação o reitor referiu-se á revista como um “eco desta dimensão cultural”, e o Doutor Marco já disse que isso foi bem-sucedido. A Fátima XXI foi também um espaço de reflexão de Fátima, não só da história mas também de alguns temas da contemporaneidade, isso deu asas para novas investigações…

MDD – Novas investigações e não só. Essa questão é completamente verdadeira. O que eu acho ainda mais importante e que se conseguiu com a Fátima XXI são as pontes para o mundo da cultura, que quer queiramos quer não, só o Centenário das Aparições tirou essa nevoa, esse preconceito que havia relativamente a Fátima. Era um objetivo desta revista fazer a ponte não só com o peregrino que se revê em Fátima mas também com o mundo da cultura, o mundo da intelectualidade que pudessem ter esse preconceito e que afinal encontrou aqui reflexões que permitem na organização do pensamento perceber o que Fátima significa no mundo contemporâneo. Eu acho que esta ponte que fizemos com essa intelectualidade penso que foi uma das grandes vantagens da Fátima XXI. Por isso é que em todos os números nos tínhamos duas grandes entrevistas. Uma com uma figura de dentro da Igreja, normalmente um teólogo, um cardeal, um bispo, um investigador de dentro da Igreja e outra com uma personalidade fora da Igreja, ou porque era investigador sobre Fátima, ou até porque não tem na sua atividade uma natural apetência por Fátima mas que foi chamado a pronunciar-se sobre Fátima. E se quisermos estas entrevistas daqui a 100 anos serão testemunhos importantíssimos sobre Fátima, tenho essa consciência muito presente.

Por exemplo neste oitavo número, na entrevista com Eduardo Lourenço, vemos aqui o que um dos grandes filósofos de Portugal pensa sobre Fátima. Tivemos o testemunho do Cardeal Patriarca de Lisboa, o bispo de Leiria-Fátima, monsenhor Rino Fisichella.

 

SI − A Dra. Maria Barroso…

MDD – O testemunho da Dra. Maria de Jesus Barroso sim, o Pe. Tolentino Mendonça que diz embora Fátima não seja ausente das suas publicações, neste caso concreto a entrevista que ele dá coloca Fátima como um lugar de cultura, e um lugar importantíssimo naquilo que é o mais profundo que o ser humano tem. Esta ligação ao mundo da cultura chega-nos através de ecos, ecos esses que nos dizem que esta revista foi muito bem recebida por essas pessoas ligadas ao mundo da cultura. Se num primeiro momento, ao entregarmos a revista achavam que esta revista não poderia ser feita no Santuário de Fátima, por ser estranho, agora aquilo que nos diziam era, “quando chega o próximo número?” e isso colocava sobre a equipa de redação uma responsabilidade muito importante, para não defraudar o público que se manteve fiel a esta revista. E a exigência que tivemos diante de nós, na escolha das imagens, e para isso a diretora de arte da revista foi fundamental para o sucesso desta revista que passa pelos pormenores, desde a escolha do papel, o formato, a escolha dos temas, e na verdade aquilo que aparece aqui não é uma Fátima diferente daquela que realmente existe, é simplesmente colocarmos diante das pessoas o desafio de olhar para Fátima com uma visão e cuidado redobrados, e de olharmos para aquilo que se passa em Fátima de forma despreconceituosa e atenta a que afinal Fátima é um lugar de arte, é um lugar de cultura, é um lugar que testemunha o ser humano e é um lugar de verdade.

 

SI – No segundo número foram precisamente entrevistadas várias pessoas ligadas às diferentes formas de arte, Clara Meneres, Maria José Paschoal, Arvo Part…é uma ponte entre Fátima e a cultura. É também objetivo desmistificar que é possível fazer arte e arte contemporânea através de Fátima?

MDD – Sim, exatamente, e sobretudo não quisemos afunilar aquilo que se entendia por arte e tentamos ir às várias manifestações artísticas que o mundo contemporâneo tem. Por isso é que fomos à área da pintura, da escultura, da música, do teatro. A fotografia teve sempre um lugar importante e não falo apenas da fotografia como ilustração, mas sim fotografia como documento. A rubrica Paisagem Suspensa que todas as revistas trazem é precisamente olhar para Fátima através da objetiva da máquina fotográfica e da fotografia enquanto peça artística. Também temos a fotografia como ilustração de um texto mas essa rubrica mostrava precisamente a fotografia como elemento fundamental.

 

SI – O terceiro número foi dedicado à comunicação social que é uma parte tão importante na divulgação da mensagem de Fátima. Esta revista é para guardar, mas é um elemento que traz também a novidade de Fátima…

MDD – Sim e pretende sobretudo que essa novidade não passe, e aí há uma antinomia aparente entre aquilo que é a missão especifica daquilo que é a comunicação social imediata em que a notícia é rapidamente substituída por outra notícia e aqui o tempo de digerir os conteúdos da Fátima XXI é muito mais dilatado do que uma revista “normal” digamos assim. O primeiro número da Fátima XXI ainda hoje está atual, uma vez que a reflexão que ali está é mais perene por ser uma notícia mais duradoura se quisermos. Daqui a dez anos olharemos para esta reflexão e manter-se-á atual no sentido em que ao mostrar a realidade de Fátima e a maneira como Fátima é entendida por quem a experimenta, daqui a dez anos as pessoas ainda se reverão naquilo que aqui está a ser dito. Para além de que a investigação que traz novidades vai servir de plataforma para novas investigações, e portanto há aqui um circuito que é mais duradouro que a notícia comum mas que comunga dessa missão que é dos meios de comunicação social que é a de dar a novidade. Neste caso concreto, eu acho que esta novidade é sobretudo significativa por quanto nós conseguimos em cada revista ter definições de Fátima. E muitas das vezes nós chamávamos para a capa precisamente aquilo que nós chamamos as definições de Fátima. Se pegarmos nas oito capas da Fátima XXI, vamos ter oito definições de Fátima dadas por pessoas de pensamento muito refletido.

 

SI – O quarto e quinto número foram marcados pelos testemunhos intensos: a Dra. Maria Barroso, a Dra. Zita Seabra, a fadista Mariza…

MDD – Sim, pretendemos também a que a Fátima XXI fosse espaço de vozes plurais e para isso chamamos pessoas de quadrantes e pensamentos muito diversos, não só políticos mas também culturais. A expressão cultural do fado é muito específica. Havia pessoas que na sua biografia havia algo que as ligava a Fátima, e decidimos explorar isso e perceber a importância dessa ligação. No caso da cantora Mariza é uma história muito pessoal.

 

SI – Desconhecida do grande publico até à altura…

MDD – Precisamente. Desconhecida mas claramente assumida pela fadista e é uma história que fala de dois corações, neste caso concreto o coração da mãe e o coração do filho na visão do coração da mãe de Deus. São realidades muito especificas, que tiveram lugar neste testemunho. No caso da Dra. Zita Seabra é uma entrevista a uma mulher que tem uma biografia claramente ligada às temáticas de Fátima, não tanto a Fátima. É uma envolvência política e por uma questão até simbólica a entrevista decorreu na capela do Calvário Húngaro. Precisamente o lugar que em Fátima fala dessa vivência da história do século XX relacionada com os regimes totalitaristas. E a Zita Seabra tem uma visão da história que passa pelas mesmas chaves de leitura que Fátima tem enquanto lugar de entendimento da história. Ou seja, a ausência de Deus no mundo provoca determinada maneira de agir politicamente que leva à morte, à perseguição. Isto para dizer que as pessoas que são entrevistadas, que são chamadas a dar testemunho, são pessoas que pela sua forma de pensar, quer pela sua forma de estar na vida, quer pela sua forma de olhar para o mundo, tudo isto resulta em visões diferentes e que são conciliáveis numa mesma revista.

 

SI – Sexto número antevia a visita papal e tinha na paisagem suspensa a devoção tecnológica. A Fatima XXI mostra que Fátima não parou no tempo e continua…

MDD – Certo. Interessou-nos sobretudo olhar para Fátima a partir dessa visualidade, chamemos-lhe assim. O século XXI trouxe a Fátima na forma de estar em celebração um gesto que o século XX não tinha, que é esse gesto dos telemóveis e dos tablets, estes écrans portáteis que ajudam a captar o momento e que interferem até com aquilo que nos vemos no Recinto de Oração. Os lenços não foram substituídos mas há uma junção, por exemplo nós na procissão das velas conseguimos ver a luz das velas, mas vemos também a luz dos flashes daqueles telemóveis e então entendemos que também isso era uma paisagem de Fátima que deveria aqui aparecer. Tentamos que esta revista fosse reflexiva, isto é, tivesse vários momentos de apreensão daquilo que aqui estava dentro. Olharmos para ali e vermos fotógrafos a fixar imagens, a viver um acontecimento através da mediação de um ecrã e depois intuímos que aquelas imagens sejam vistas em casa, e esse gesto é o prolongar Fátima no quotidiano e na sua vida. E ao retratarmos aquela paisagem de Fátima, estamos a falar de tudo isto, de como é que um peregrino aqui no Recinto de Oração vive e tenta prolongar aquilo que está a viver depois nas suas vidas. As fotografias que captam isto falam-nos desta dimensão. Procuramos que as imagens que estão na Fátima XXI não sejam meramente ilustrativas mas sim também reflexivas.

 

SI − Sétimo número fez precisamente memória dessa visita papal, e o oitavo número?

MDD − Este oitavo número terá ainda de viver da memória da visita Papal. É de tal maneira forte a visita do Papa Francisco ao Santuário, que aquele tema não se esgotou no anterior número da Fátima XXI que saiu logo de imediato a seguir à visita, e portanto as chaves de leitura são tiradas ainda dos discursos do Papa Francisco aqui em Fátima. O ápice da revista é dedicado à canonização dos Santos Francisco e Jacinta Marto, porque achamos de tal maneira importante como viragem na história de Fátima que entendemos que seria esse ainda o tema da revista. A visita Papal aparece ainda espelhada na entrevista que D. António Marto dá a esta publicação. Naturalmente o bispo de Leiria atualmente quando é chamado a falar de Fátima falará sempre da experiencia que tem com o Papa Francisco, não apenas em Fátima mas também nas audiências privadas em Roma, e portanto a revista traz também novidades a esse nível. Nesta edição da Fátima XXI há ainda uma abertura de horizontes, não apenas pelo tema do caderno temático, que é o milagre do sol, em que os protagonistas de Fátima deixam de ser os pastorinhos e passam a ser os peregrinos, que vêm a Fátima a partir do dia 13 de outubro. Este caderno temático é abordado por diversos especialistas e é o maior caderno temático, aliás esta Fátima XXI é a maior de todas, com 272 páginas. A partir de 2017 caminhamos para o novo século de Fátima e esse século é mais uma vez simbolicamente inaugurado na Fátima XXI a partir da temática do milagre do sol. Este número abre também perspetivas de análise muito interessantes, por exemplo na cronologia dos 100 anos de Fátima, nós fixamos em 100 datas aquilo que nos pareceram ser os acontecimentos mais importantes de um século. Isto é um instrumento de leitura para o futuro que nos parece fundamental. Na rubrica Fátima na primeira pessoa convidamos a jornalista e historiadora Helena Matos a falar da figura importantíssima que é a Ir. Lúcia. E deixa-se aqui muito claro que a Ir. Lúcia é uma das figuras mais importantes do século XX em Portugal e na Igreja Católica. Embora este seja o último número da Fátima XXI, ela tem um período de reflexão muito mais dilatado do que o momento em que se compra a revista. Estou convencido que a Fátima XXI vai fazer gerar reflexões novas a partir destes oito números que deixa.

 

SI − E o futuro?

MDD − O futuro mostra-nos que Fátima não tem apenas a potencialidade para se relacionar com os meios culturais, tem sobretudo a consistência clara e provada, e penso que a Fátima XXI também prova isso, que Fátima é por si só um tema da cultura do mundo contemporâneo. Não apenas de Portugal, não apenas da Igreja Católica, mas da própria história do mundo.  Estou convencido que ao olhar para Fátima encontramos um tema da cultura mundial, portanto o futuro vai nos dizer que a experiencia feita com este projeto, nos vai exigir a continuar a tratar Fátima desta maneira, e pode não ser ao nível de uma revista mas pode ser outro tipo de publicações que surjam como herdeiras desta revista e que possam levar mais longe aquilo que se aqui disse.

Há um projeto já pensado que é colocarmos a Fátima XXI nas línguas oficiais do Santuário. Não os oito números, mas uma síntese desses oito números e fazer um número em cada língua.

 

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