05 de agosto, 2022

2022-08-11podcastdjoaolavradorfoto.jpg

“Quando se retira Deus do mundo quem sofre é o homem”, afirma D. João Lavrador

O bispo de Viana do Castelo é o convidado do podcast #fatimanoseculoXXI do mês de agosto. Discorre sobre a atualidade de uma “mensagem que coloca Deus no centro” e que nos alerta para uma “constante necessidade de conversão”

 

“Quando se retira Deus do mundo quem sofre é o homem e foi isso que nossa Senhora disse aos Pastorinhos, quando falou dos regimes ateus, invocando a Rússia e a necessidade da sua conversão” afirmou ao podcast #fatimanoseculoXXI D. João Lavrador, numa conversa na sequência da sua presidência na peregrinação internacional aniversária de julho, na Cova da Iria.

O prelado sublinha insistentemente que o contexto de hoje é “muito semelhante ao de há cem anos”. Porquê? “Porque a Europa não só não aprendeu como apostatou da fé”. A expressão que é de São Paulo VI, e foi repetida no documento saído do Sínodo da Europa, promovido e liderado por São João Paulo II, remete para a relação entre a matriz cristã da civilização ocidental e o triunfo de uma ideia iluminista e racionalista do homem na sua relação com o religioso.

“A conversão de que fala a mensagem de Fátima é fundamental. Temos de recolocar a nossa relação com Deus como uma prioridade, afirma D. João Lavrador.

“O Deus cristão tem um rosto e nós conhecemo-Lo através de Jesus” que é o oposto “do homem do poder de hoje”. Por isso, a grande questão interpeladora que decorre dos nossos erros- “da Igreja e do homem, muito por culpa da sua ambição política e económica, acompanhada de manipulações ideológicas tremendas”- “é percebermos que não vivemos em ambiente de cristandade e deixarmos de nos comportar como se vivêssemos”, refere.

“As interpelações que se colocavam há cem anos parece que hoje se repetem, quando  a humanidade já tem uma experiência que esperávamos que fosse diferente; quando já sonhámos uma globalização e com a fraternidade, parece que não aprendemos nada, voltámos ao primitivismo, porque a guerra é sempre um primitivismo” refere ainda.

“O sentido da presença de Deus vem potenciar a vida humana; infelizmente nós somos herdeiros de uma cultura que dividiu estas duas realidades: separando o religioso da vida concreta, quando Deus encarnou... esse foi o grande erro da nossa cultura e agora estamos a pagar a fatura” referiu.

“Retirar o religioso da esfera pública, da vida do dia-a-dia, é um desastre e isso verifica-se quando olhamos para o nosso presente”, sublinha.

“Quando o cristianismo cedeu a este ataque foi o caos, porque Jesus fez-se homem, encarnou para nos ensinar a sermos como ele. Portanto, diria, o que falta é uma profunda reflexão antropológica”.

“Fazemos muitas reflexões mas não fizemos a reflexão sobre o homem e enquanto ela não for feita, estaremos mal”, afirmou D. João lavrador que é desde novembro do ano passado bispo de Viana do Castelo, depois de ter estado seis anos a liderar a diocese de Angra, no arquipélago dos Açores.

A partir da mensagem de Fátima, lembra que todos os cristãos devem ser interpelados por um “novo ímpeto evangelizador”.

“Não é uma questão de massas; não vamos converter toda a gente mas precisamos de nos pôr ao caminho”, refere.

“Em cada tempo há sinais que permitem decifrar a realidade: a Igreja deixou de sofrer, o Papa, os bispos, os sacerdotes, os leigos deixaram de sofrer?” interpela para responder de imediato: “Enquanto a Igreja for caminhando na terra terá sempre de reinterpretar a terceira parte do segredo de Fátima”. E, para isso temos de fazer caminho juntos, adianta.

“Não vejo a Igreja de outra maneira: uma Igreja que se quer refontalizar, indo às origens do evangelho e não da arqueologia, tem que caminhar junta, nos seus vários ministérios; tem de ir buscar os dinamismos das primeiras comunidades cristãs, que estavam tão próximas da pessoa de Jesus, que nós hoje devemos perceber delas o que há para fazer, limpando-nos de tantas coisas”.

“Precisamos, mais do que nunca, de uma Igreja autenticamente evangélica”, limpando-nos de “rituais, tradições, muita exterioridade., muito coisa tridentina. Foi bom no seu tempo; hoje não faz sentido pura e simplesmente porque está em colisão com os tempos modernos e por isso é arqueologia”, afirma.

“Temos de ser uma Igreja presente no mundo, e o mundo é o de hoje não é o do passado, que respeitamos, mas que já passou. Uma coisa é uma tradição e uma herança viva, que se traduz na vida concreta; outra coisa é arqueologia e isso não vale a pena” e a realidade “quando é vista com olhos evangélicos abre para um discernimento que exige depois ação” adianta ainda a propósito do Sínodo dos Bispos agendado para outubro de 2023.

“Precisamos de ser capazes de transformar a realidade; a ação é muito importante” enfatiza destacando que “o evangelho tem que nos transformar a nós primeiro; nós não somos doutores da lei que ensinamos doutrina” refere para lembrar que esta é também uma chave de leitura que a Mensagem nos continua a dar.

Neste podecast disponível em www.fatima.pt/podcast e nas plataformas Itunes e Spotify, o prelado que durante oito anos foi capelão do Carmelo de Coimbra e por isso próximo de Lúcia, a mais velha das videntes de Fátima e a que nos deixou as linhas mestras do `colóquio´ com Nossa Senhora, em 1917 durante as seis aparições e depois as posteriores em Tuy e Pontevedra, lamenta “o tempo demasiado” que tem levado à proclamação da sua santidade.

“No dia do seu funeral de súbito o povo declarou-a santa; sinceramente não sei o que pode estar a atrasar tanto este processo” refere visivelmente emocionado quando o tema da conversa era Lúcia.

“Uma mulher extraordinária que vivia no Carmelo mas conhecia o mundo como ninguém através da correspondência. Além de inteligente, era viva e brincalhona. Ninguém escapava às suas brincadeiras. Muitas vezes dizia-me: não é por falar alto que converterá mais pessoas (risos)... Era assim muito assertiva”.

“Impressionou-me sempre a sua serenidade. Lembro-me quando foi a questão do aborto...Ela serenamente aceitava como que reconhecendo que este era um apelo à conversão. Era tremendamente exigente mesmo para as mais novas: a exigência de aprumo, de fidelidade” afirmou.

“Só por isso e por ser portadora desta mensagem deveria já ter acontecido mais alguma coisa”, conclui D. João Lavrador.

 

PDF

HORÁRIOS

22 nov 2024

Missa, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima

  • 07h30
Missa

Rosário, na Capelinha das Aparições

  • 12h00
Terço
Este site usa cookies para melhorar a sua experiência. Ao continuar a navegar estará a aceitar a sua utilização. O seu navegador de Internet está desatualizado. Para otimizar a sua experiência, por favor, atualize o navegador.