05 de junho, 2010
Presidente da Federação dos Bancos Alimentares Contra a Fome, em Fátima “As sociedades ocidentais têm um défice de esperança” “Portugal é um dos países da Europa com maior taxa de pobreza. Cerca de 20% da população é pobre (2 milhões de pessoas); 200 mil pessoas têm apenas uma refeição completa por dia e 35 mil não têm nenhuma refeição completa por dia”. A afirmação não traz nada de novo. É de Maria Isabel Jonet, Presidente da Federação dos Bancos Alimentares Contra a Fome, e a própria sabe disso. Mas também sabe que é bom alertar e relembrar a grave situação de pobreza que vivem alguns, muitos, portugueses. Convidada pelo Santuário de Fátima a apresentar no congresso sobre Jacinta Marto o tema “Compaixão e Solidariedade” começou por testemunhar “o extraordinário exemplo e força inspiradora” que nutre pelos Pastorinhos de Fátima, que “depois do Encontro, a humildade e o espírito de serviço, nortearam os seus gestos e as suas vidas, mesmo no sofrimento”. Disse também que em vez de solidariedade é “mais adepta da caridade”- “A caridade é a solidariedade com amor” - e centrou a sua intervenção naquilo que bem conhece: “para uma grande parte da humanidade que vive na miséria, a procura de comida é um combate quotidiano que mobiliza a maior parte das energias e impede o desenvolvimento da pessoa humana e a procura de um projecto de vida na sociedade”. Esta questão do direito, consagrado na Declaração Universal dos Direitos do Homem, que todo o ser humano tem a uma alimentação suficiente, no entender de Isabel Jonet, “abarca todos os domínios da vida do homem e concretizá-lo é essencial para a luta contra a pobreza”. E é esta a causa e a acção do Banco Alimentar, que assenta “na gratuitidade, na partilha, no voluntariado e no mecenato”. “O Banco Alimentar é um bom exemplo de união das vontades de empresas, doadores financeiros, voluntários e instituições de solidariedade sociais que, de forma coordenada, geram resultados muito superiores aos que seriam obtidos se cada um desses agentes da solidariedade resolvesse agir isoladamente. O importante é o comprometimento e o reconhecimento de que cada um de nós pode fazer a diferença com a sua forma de estar na vida e com as suas opções”, afirmou esta responsável. “As sociedades ocidentais têm um défice de sentido e de esperança porque os homens são avaliados pela sua capacidade de produção e de consumo, pelo que os pobres não têm lugar. É um olhar diferente que cada um de nós deve ter sobre os mais desprotegidos. Chegar a cada um deles, comungar com cada um deles e sentir-se solidário: é partilhando estes valores, individualmente e em equipa, que encontraremos a força criadora que tornará a nossa acção forte e credível”, alertou a Presidente da Federação dos Bancos Alimentares Contra a Fome que também testemunhou que “temos de lutar incessantemente contra a indiferença e a apatia das pessoas, das instituições. Temos de ser mulheres e homens que sobressaem pela esperança de que damos testemunho. Vivendo na Verdade, enquanto valor primordial que guia as nossas vidas”. Quanto à acção do Banco Alimentar em Portugal, Isabel Jonet destaca: “Temos procurado aumentar e estruturar a rede de Bancos Alimentares: existem já dezassete que contribuem para a alimentação de mais de 280 mil pessoas comprovadamente carenciadas através de mais de 1800 instituições de solidariedade, todas com grande compaixão por quem precisa de ajuda para se alimentar e muita bondade. No ano passado (2009), distribuíram mais de 23 mil toneladas de alimentos, num valor superior a de 36 milhões de euros a maioria dos quais condenados à destruição; por dia saem por armazéns dos 17 Bancos Alimentares 90 toneladas de produtos”. LeopolDina Reis Simões |