12 de agosto, 2018

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Peregrinação agosto chama a atenção para a problemática da migração forçada e dos refugiados

“Não nos podemos calar” perante este “drama humanitário”, disse D. António Marto

 

O destaque dos intervenientes na conferência de imprensa que antecipou esta peregrinação que assinala a quarta Aparição de Nossa Senhora aos Pastorinhos, e onde se insere a Peregrinação do Migrante e do Refugiado, foi dado à problemática da migração forçada e dos refugiados.

D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima, abriu o encontro com os jornalistas, que antecipa as celebrações, chamando a atenção para o “drama humanitário da transmigração epocal de povos que se dirigem à Europa, vindos do Médio-Oriente e de África”.

“É um exército de pobres que aqui chega, após dois anos de viagem pelo norte de África. Não estão em causa os números, mas pessoas concretas, com uma história, uma cultura, uma família, sentimentos, dramas e aspirações”, disse, ao lançar um olhar crítico sob o passado colonial das potências ocidentais europeias, que “explorou e roubou” África, e que manteve aquele continente numa “condição de guerra permanente”.

“Assim se destrói a vida de milhões de pobres, obrigados a partir para não morrerem vítimas da miséria, da fome e da guerra. Crianças sem país, e pais e mães sem filhos. Sabemos tudo isto e não nos podemos calar.”

Assumindo-se como intérprete deste drama, o bispo de Leiria-Fátima lembrou uma partilha que o Papa Francisco deixou na rede social twitter, no passado dia 20 de junho, Dia Mundial do Migrante, onde o Santo Padre defende que “a dignidade da pessoa não depende de ela ser cidadã, migrante ou refugiada. Salvar a vida de quem foge da guerra e da miséria é um ato de humanidade”.

Ao recordar os números de vítimas do flagelo desta migração humanitária de refugiados que tentam entrar na Europa, D. António Marto insistiu na ideia, já apresentada pelo Sumo Pontífice, da “implementação de pactos globais sobre os refugiados e sobre uma migração segura, ordenada e regular, com a cooperação de toda a comunidade internacional, sob a égide das Nações Unidas”.

Dentro das tensões mundiais, o bispo de Leiria-Fátima aludiu ainda à crescente tensão entre os Estados Unidos da América e o Irão, uma situação que, referiu, “deita por terra o acordo nuclear, com consequências para os outros países, nomeadamente através de uma guerra comercial e económica”.

“Não podemos consentir que velhos aliados se transformem em potenciais adversários por causa da personalidade de alguns líderes”, afirmou.

Ao nível da Igreja Universal, D. António Marto aproveitou a ocasião para saudar a recente alteração ao Catecismo da Igreja Católica, decidida pelo Papa Francisco, com a qual a Igreja passa a considerar a pena de morte inadmissível em qualquer circunstância, empenhando-se a favor da sua abolição, oficializando, desta forma, a “cultura do perdão que inclui a cultura da reabilitação, que considera que o homem é sempre maior que o seu erro e que o seu próprio pecado”.

Ainda no âmbito da Igreja, o cardeal português teve presente o Encontro Mundial das Famílias, que se realiza no final deste mês em Dublin, Irlanda, e o Sínodo dos Bispos sobre os Jovens, que se realiza no próximo mês de outubro.

 

Bispo de Santiago, Cabo Verde, defende uma reflexão global

D. Arlindo Gomes Furtado começou por agradecer o convite do bispo de Leiria-Fátima para voltar a presidir à Peregrinação dos Migrantes e Refugiados.

“Pela espiritualidade que aqui se respira e pela força espiritual que aqui se recebe, é sempre uma ocasião de graça voltar ao Santuário de Fátima, que é um ponto de encontro, sobretudo para os emigrantes, que durante o ano andam na labuta do dia-a-dia, numa vida muito fragmentada. Aqui, respira-se a humanidade, num ambiente integrador e confortante que nos projeta para a eternidade, para outro nível e existência”, referiu o presidente da Peregrinação.

Para os problemas globais da migração, o bispo de Santiago de Cabo Verde defendeu uma solução também ela global, que “olhe não só para os que governam países que acolhem, mas também para os que governam país que geram migrantes forçados”, que considere uma reflexão crítica sobre o passado com vista a um “futuro mais sólido”.

“Toda a história colonial deve ser refletida para perceber o que houve de errado e que não deve continuar a repetir-se no futuro, para que o mundo seja mais equilibrado.”

O cardeal D. Arlindo Gomes Furtado lembrou ainda a questão da integração dos emigrantes de segunda geração, “um problema muito complexo e delicado”, porque, refere, “estes não se sentem bem no país onde nasceram nem no país dos pais”.

“A fé projeta-nos para outra dimensão, no sentido de uma família unida, harmónica e responsável. Espero que as forças celestes nos ajudem a fazer a nossa caminhada na história do mundo”, concluiu.

 

Semana Nacional das Migrações inicia com a Peregrinação

Na sua intervenção, a diretora do Secretariado Nacional da Mobilidade Humana e da Obra Católica Portuguesa das Migrações (OCPM), Eugénia Quaresma, começou por explicar a escolha do tema para a Semana Nacional das Migrações: “Cada forasteiro é ocasião de encontro, Migrantes e Refugiados no caminho para Cristo”, que hoje inicia.

“Cada forasteiro é uma oportunidade de nos reencontrarmos com a nossa humanidade, de arrumarmos a casa, de modificarmos atitudes, políticas, aprofundar a cooperação e de colocar verdadeiramente em prática o que já se ousou pôr por escrito na Doutrina Social da Igreja.”

Na mesma linha de pensamento defendida pelo presidente da Peregrinação, a responsável pela OCPM sublinhou a necessidade de uma abordagem global, que “reforce o trabalho em rede, na origem, nos países de trânsito e de destino”.

“É preciso ousar políticas arrojadas, erradicar a guerra, a pobreza, combater a corrupção e a ganância, promovera paz e a justiça, para que todos os povos tenham oportunidades de desenvolvimento. Recentrar a economia na dignidade humana, promover o direito a imigrar e a não imigrar. Há ainda muito a fazer ao nível da integração, da proteção de crianças, da proteção das vítimas de exploração laboral”, defendeu.

 

Reitor anunciou visita da Virgem Peregrina ao Panamá e
apresentou dados estatísticos parciais de afluência de peregrinos

O reitor do Santuário de Fátima, padre Carlos Cabecinhas anunciou que a primeira Imagem Peregrina vai estar na Jornada Mundial da Juventude no Panamá, em janeiro de 2019, uma presença que se justifica pelo fato se tratar de “um acontecimento eclesial de primeira importância”, pelo fato de os jovens estarem no centro das preocupações pastorais da Igreja, e porque o tema escolhido pelo Santo Padre para esta Jornada ser caráter mariano.

O sacerdote apresentou ainda os dados estatísticos parciais de afluência de peregrinos no Santuário de Fátima, na primeira metade de 2018. Ao assumir os anos de 2016 e 2017 como excecionais, devido à celebração do Centenário das Aparições, o reitor fez notar que os dados agora apresentados demonstram uma estabilização do número de peregrinos participantes nas diferentes celebrações, cifrando-se essa média nos 5,5 a 6 milhões de peregrinos por ano.

A conferência de imprensa de abertura da Peregrinação Aniversária de Agosto juntou o presidente da peregrinação, cardeal D. Arlindo Gomes Furtado; o Bispo de Leiria-Fátima, cardeal D. António Marto; o reitor do Santuário de Fátima, padre Carlos Cabecinhas; D. António Vitalino Dantas, membro da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, e a diretora do Secretariado Nacional da Mobilidade Humana e da Obra Católica Portuguesa das Migrações, Eugénia Quaresma.

Esteve também presente D. José Augusto Traquina Maria, presidente da Pastoral Social e Mobilidade Humana da Conferência Episcopal Portuguesa e Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa.

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