15 de julho, 2010

Missa para pedir a virtude da Caridade - Leituras: Ben-Sirá 35, 1-15; Romanos 12, 6-8; João 15, 9-17 
Há mais alegria em DAR do que em receber (Actos 20,35).
Meus irmãos:
Nesta noite, somos convidados aprender a REPARTIR com alegria, como a Jacinta, e, para isso, somos convidados a pedir a Deus a virtude da CARIDADE.
Ben-Sirá: Em todas as tuas oferendas, mostra um rosto alegre.
S. Paulo: Quem exerce a misericórdia, faça-o com alegria.
O Evangelho de João: Assim como o Pai me amou, também Eu vos amei. Permanecei no meu Amor…Disse-vos isto, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa (João 15, 9.11).
I - Primeiro, aprender a repartir.
O 10º. Mandamento da Lei de Deus diz de modo negativo: Não cobiçar as coisas alheias. Ou, nas palavras da Escritura (Êxodo 20, 17 e do Deuteronómio 5, 18): Não cobiçarás nada do que pertence ao teu próximo, nem a sua casa nem o seu servo ou a sua serva, nem o seu boi… nada do que é dele!
Dito de modo positivo, como quem procura a palavra-chave em questão, somos convidados repartir dos nossos bens com o próximo mais precisado.
Foi assim que entenderam os primeiros cristãos: Todos os que abraçaram a fé eram unidos e colocavam em comum todas as coisas; vendiam as suas propriedades e os seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um (Actos 2, 44-45).
Se o mundo vai mal, muito mal neste aspecto, ao ponto de milhões, muitos milhões de homens, mulheres e crianças passarem fome, é porque o coração humano se deixa levar pela cobiça, pela inveja, pela avidez do lucro e pelo desejo desmedido de apropriação de bens terrenos (Catecismo, 2536). São significativas as palavras de Amós, profeta: Dias virão, diz o senhor, em que mandarei a fome sobre a terra: não será fome de pão, nem sede de água, mas fome de ouvir a palavra do Senhor (Amós 8,11).
Peregrinos de Fátima:
A primeira partilha a fazer é aquela que deriva da justiça: o justo salário a quem trabalha. A segunda forma de partilha é acudir aos casos clamorosos de quem tem fome de pão, de saúde, de escolarização, de dignidade humana. A terceira forma de partilha é banir a inveja do coração. É muito elucidativo o caso contado na Bíblia pelo profeta Natan ao rei David: Um pobre possuía uma única ovelhinha que tratava como se fosse filha. Em contraste, um homem rico, apesar dos seus rebanhos numerosos, teve inveja da ovelhinha do pobre e foi-lha roubar (Catecismo, 2538).
A crise actual está retratada nesta educativa história bíblica. Não é sobretudo uma questão financeira ou económica, mas é uma crise moral.
O dinheiro é a perdição do mundo. O dinheiro é um bem criado necessário ao bom entendimento dos homens, mas só se tiverem o coração limpo. O dinheiro pode ser a perdição da Igreja, se também ela não seguir os caminhos das bem-aventuranças: Bem aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus! O apego desmedido aos bens deste mundo é uma traição ao Evangelho: Não podeis servir a Deus e ao dinheiro!
Meus irmãos:
A primeira fome a saciar não é a fome de pão, mas a fome da Palavra que desperta o coração. Se o coração não está convertido a Deus, o próximo e as suas necessidades passam ao lado, como o sacerdote e o levita da parábola do bom samaritano.
O primum officium do Sacerdote é pregar a Palavra. Já o disse o Concílio há 45 anos: Os presbíteros têm como dever primordial (primum officium) anunciar a todos o evangelho de Deus. Repetiu-o Paulo VI, dez anos depois: Aquilo que constitui a singularidade do nosso serviço sacerdotal, aquilo que dá unidade profunda às mil e uma tarefas que nos solicitam, aquilo que nos confere uma nota específica é anunciar o evangelho de Deus (E. N. 68). O Anúncio tem toda aprioridade sobre muitas outras coisas. E não é apenas tarefa dos padres, mas também dos fiéis leigos.
II – Segundo, dar com alegria. 
Peregrinos de Fátima:
A alegria de dar, a alegria de saber repartir com os irmãos o pão, a ciência, a cultura e a sabedoria do espírito…, para não ser falsa mas duradoira, tem de ter na fonte o AMOR de Deus. O Amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado no Baptismo, no sacramento do Crisma e na Eucaristia.
 Permanecei no meu amor, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa. A alegria evangélica não nasce da carne nem do sangue, mas procede do Espírito de Deus: É uma alegria messiânica. Diferente das alegrias mundanas e passageiras, acontece porque o Messias chegou há dois mil anos e nos disse: Deus é amor. Permanecei no Amor e a vossa alegria será completa.
            Caros amigos:
A alegria messiânica consiste em que o tempo anunciado já se cumpriu, chegou à sua maturidade, o Reino de Deus está às nossas portas. Convertei-vos e acreditai (Marcos 1, 15). Quem viver dessa fé não terá dificuldade em criar espaços de partilha, de são entendimento, de lugar e tempo para o nosso Deus que veio visitar-nos e alertar-nos para o essencial: acreditar e converter o coração.
Muito já se disse sobre uma Nova Ordem internacional. Os poderosos das nações reúnem-se para acertar caminhos. Mas os acordos são difíceis, porque no meio se interpõem os interesses particulares. Os cristãos têm, teriam uma palavra importante a dizer. Mas parece que estamos encolhidos nos parlamentos, nos nossos interesses, na nossa defesa pessoal, nas malhas de uma Europa decadente, a precisar de um conserto que devolva a esperança e a confiança às nações
Também para a Igreja é precisa uma Nova Ordem pastoral, que se exprima em acolhimento, respeito, desprendimento, mais partilha de bens, comunhão e paz, MAIS Palavra de Deus e menos ritos. A Igreja, nós, não podemos enredar-nos em pormenores, mas temos de atender as pessoas e não ter medo de anunciar um evangelho difícil, mas que enche as medidas do coração.
Há um novo paradigma pastoral a procurar e a pôr em prática. O Concílio foi há 45 anos. Faltam ainda 55 anos para a distância de um século. Será o suficiente? Não será tarde de mais? De que estamos à espera?
Reparte com alegria como a Jacinta!
Onde aprendeu a Jacinta estas coisas, sendo tão criança ainda? Foi graça de Deus. Mas foi também a escola da família, a escola da catequese simples da paróquia, a escola do Evangelho. Escreveu a irmã Lúcia: A nossa casa era como que a casa de todos: tinha uma porta onde todos batiam e a todos se abria com a mesma boa vontade de acolhimento, serviço e caridade. A mãe parecia que só sabia dizer sim. A ninguém recusava os seus serviços quando os solicitavam e, muitas vezes, até se adiantava (Memórias, Volume II, pg 83).
Onde estão aqueles com quem devo repartir?
Estão mesmo à minha porta, às vezes dentro de casa, no meu prédio, na minha rua, de certeza na minha cidade ou aldeia. Serei capaz de sair de casa, de sair de mim e ir à procura e repartir do que tenho? Pão, saúde, conforto, alegria, dois dedos de conversa, uma oração ou um conselho de amigo…
Enfim, somos instados a pedir a Deus a virtude da CARIDADE…Vamos pedi-la, vamos acolhê-la, vamos pô-la em prática. Eis o segredo! Deus nos ajudará e Maria vai connosco no caminho.
D. João Miranda, Bispo Auxiliar do Porto
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