Para Francisco, Fátima era a “terra do silêncio”

Para Francisco, Fátima era a “terra do silêncio”

Bispo de Leiria-Fátima recorda a disponibilidade e humildade do Papa que apresentou a Capelinha das Aparições como uma imagem da Igreja.

No dia do falecimento do Papa Francisco, D. José Ornelas destaca o impacto que ele teve para Fátima, num pontificado marcado pela atenção às periferias, pela sinodalidade e desejo de contínua renovação eclesial.

“Deixa-nos hoje um homem de Igreja, rico e inspirador para todos. Deixa-nos uma grande saudade e tristeza, mas é uma emoção que se mistura com ação de graças a Deus pela herança que ele nos deixa, concretamente em Fátima”, começou por dizer o bispo de Leiria-Fátima e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, ao elencar o convite à comunhão que o Papa Francisco deixou na Capelinha das Aparições a 5 de agosto de 2023 como um dos momentos mais marcantes da sua ligação a Fátima.

“Naquele momento, ele apresentou a Capelinha das Aparições como uma imagem da Igreja: com colunas e teto, para acolher as pessoas, mas sem muros, para que todos possam ter lugar nela. Isto exprime muito do que foi o seu pontificado. Um Papa, que veio do fim do mundo, como referiu no dia da sua eleição, e que nunca se cansou de falar de periferias, apelando a que a Igreja não se fechasse em si”.

D. José Ornelas recorda também a particularidade de Fátima que cativa o Papa Francisco, conforme o próprio lhe confidenciou, na preparação da sua vinda em 2023, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa.

“Na altura, ainda em Roma, ele disse-me que viria a Fátima como peregrino e que a coisa que mais o havia tocado em Fátima tinha sido o silêncio. ‘Para mim, Fátima é a terra do silêncio’, disse-me. Já na primeira vez que veio a Fátima, recordo os largos minutos de silêncio que se fez, quando se joelhou para rezar diante da imagem de Nossa Senhora da Capelinha das Aparições”.

Disponibilidade, humildade e sinodalidade

O atual presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, que foi nomeado bispo de Setúbal, em 2015, e depois bispo de Leiria-Fátima, em 2022, pelo Papa Francisco, lembra a disponibilidade e humildade que caracterizavam o Santo Padre no contacto com os outros.

“Quando me nomeou bispo, telefonou-me e marcou um encontro pessoal, no qual conversámos durante uma hora sobre a nova missão que me era pedida. A Igreja não é simplesmente uma cadeia de comando, é uma cadeia de motivação, onde discernimos juntos o que é a vontade de Deus, disse-me, então”.

O apelo à renovação, pela comunhão e sinodalidade é, segundo o bispo de Leiria-Fátima, a principal herança do pontificado do Papa Francisco.

“Todos são chamados, todos são acolhidos, todos participam, porque o caminho é juntos, na sinodalidade. Esse, para mim, é o legado que há de ficar na Igreja. Agora, depende de cada um de nós! Foi essa a convicção fundamental do Papa Francisco: o Espírito Santo está a falar à Igreja para os dias de hoje e não para ontem; portanto, é preciso encontrar caminhos novos. Hoje é o nosso tempo de intervenção na Igreja”, perspetiva D. José Ornelas, sublinhando a particularidade de o Santo Padre ter falecido nos primeiros dias da Páscoa.

“Esta manhã, quando soube da notícia sua morte, o primeiro pensamento que me veio à cabeça foi o facto de ter partido na Segunda-feira de Páscoa, no tempo em que a Igreja celebra a ressurreição Cristo: um processo que foi lento e demorado e no qual Jesus deitou a semente no coração dos discípulos para a construção da Igreja. O Papa parte nesta Páscoa, que para ele foi sofrida, e depois de ter pedido e abençoado na paz, na bênção Urbi et Orbi que ontem deu em Roma. Parte, como Jesus, deixando a sua mensagem numa Igreja já mudada pelo seu pontificado”.

Na nota de pesar que publicou como bispo de Leiria-Fátima, D. José Ornelas recordou a estreita ligação que o Papa Francisco tinha para com Fátima.

“A Diocese de Leiria-Fátima guarda com particular afeto a relação que o Papa Francisco manteve com o Santuário de Fátima. Visitou a Cova da Iria por ocasião do centenário das aparições, confiando ali o seu ministério à Virgem Maria e reconhecendo, na mensagem de Fátima, um apelo sempre atual à conversão, à oração e à paz. Foi também sob o seu pontificado que foram canonizados os santos Francisco e Jacinta Marto, modelo de entrega e santidade para toda a Igreja”, lê-se, na reação oficial de D. José Ornelas.

D. José Ornelas recebeu, enquanto bispo de Leiria-Fátima, o Papa Francisco na sua vinda à Cova da Iria a 5 de agosto de 2023, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa.