02 de agosto, 2023

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Papa pede aos membros da Igreja que não se deixem abater pelo desânimo, transformando-se em funcionários

O Sumo Pontífice apela a que a Igreja se faça ao largo, sem medo, e admite que maus exemplos e escândalos desfiguraram a imagem da Igreja

O Papa Francisco apelou hoje aos membros da Igreja em Portugal para que não se deixem vencer pelo desânimo e cansaço, que aceitem a mão de Jesus para lançarem de novo as redes e não se transformem em funcionários.

“É muito triste quando uma pessoa que consagrou a sua vida a Deus se transforma em funcionário, mero administrador das coisas. É muito triste”, disse, na celebração das Vésperas, no Mosteiro dos Jerónimos, fugindo muitas vezes ao texto escrito.

"E quando se perde a ilusão, arranjamos milhares de desculpas para não lançar as redes", disse, referindo que é mais fácil deixar entrar a "resignação amarga, que corrói a alma".

"Vivemos um tempo difícil , mas o Senhor pergunta a esta Igreja. Quer deixar a barca e deixar que a desilusão nos corroa ou quer deixar-Me subir à barca e viver de novo a novidade da minha Palavra?", acrescentou.

“A espiritualidade é um recomeço, não há que ter medo do recomeço. É assim a vida, cair e recomeçar, aborrecer-se e receber de novo a alegria”, disse, apelando aos membros da Igreja para que se façam ao largo e lancem as redes, como Jesus pediu a Pedro e aos seus companheiros.

“Façam-se ao largo, não para conquistar novos mundos ou pescar mais bacalhau, mas para voltarem a recuperar a alegria e consolação do Evangelho”, acrescentou.

Citando o Padre António Vieira, disse que os membros da Igreja devem seguir o seu lema: “para nascer, Portugal , para morrer o Mundo todo”.

Não é tempo, disse, para se olhar para trás e ficar presos nas redes do desânimo. Para isso, entre outros conselhos, sublinhou a necessidade de recuperar a oração de adoração.

“Pergunto a cada um e devem responder por si mesmos. Como rezo eu? Com bla-bla-bla ou dormindo a sesta diante do sacrário? Perdemos a oração de adoração, temos de a recuperar”, acrescentou.

O Papa Francisco disse que, no caminho eclesial, os membros da Igreja podem sentir o que os discípulos sentiram, que as redes estavam vazias, sobretudo em países de antiga tradição cristã e que hoje vivem um crescente afastamento de Deus e da prática da fé.

Uma situação difícil, disse, face à desilusão e aversão que alguns alimentam face à Igreja, “às vezes pelos nossos maus testemunhos e pelos escândalos que desfiguraram o seu rosto e que exigem uma purificação humilde e constante, partindo do grito de dor das vítimas que se devem sempre acolher e escutar”.

"Entreguemos a Deus as nossas fadigas e as nossas lágrimas para podermos enfrentar as situações pastorais e espirituais e abramos o nosso coração, para experimentar novos caminhos a seguir", pediu.

A terminar a sua intervenção de quase 30 minutos, o Papa confiou a Igreja em Portugal à Virgem de Fátima e à guarda do Anjo de Portugal, invocando também a proteção dos seus grandes santos, em especial Santo António.

“Confio-vos a Nossa Senhora de Fátima, à guarda do Anjo de Portugal e à proteção dos vossos grandes Santos e, aqui em Lisboa, de modo especial a Santo António, apóstolo incansável, pregador inspirado, discípulo do Evangelho atento aos males da sociedade e cheio de compaixão pelos pobres. Que ele interceda por vós e vos dê a alegria de uma nova pesca milagrosa. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim”, concluiu

 

 

FOTOS: © Lusa | Manuel de Almeida

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