25 de setembro, 2015
Esta palavra é especialmente para vós, peregrinos que vindes a Fátima movidos pela doença, pelos sofrimentos, pelo sofrimento. Para vós, este lugar-regaço da Mãe de Jesus abre-se com particular ternura. Hoje, aqui, a voz do Filho de Maria dirige a cada um a pergunta feita aos discípulos: "E vós, quem dizeis que Eu sou?". Antes desta, perguntara sobre o que diziam os outros, as multidões, sobre Ele. As respostas remetiam para personagens do passado. Vós sabeis que a respostas do passado sobre quem é Jesus para vós não resistem à doença, não resistem ao sofrimento. O sofrimento faz ruir as respostas comuns, mais ou menos assumidas e refletidas, a esta interrogação de Jesus.
A gente pensa de uma maneira sobre quem é Jesus, pensa que acreditar n’Ele livra dos males, quase pensamos que é amuleto protetor, como Pedro pensava num Messias sem cruz. Mas, depois, vem a doença com o sofrimento que traz consigo. É o nosso modo habitual de pensar quem é Jesus para nós não resiste ao abalo e vemo-nos de mãos nuas, de coração nu diante d’Ele, a viver a crise de já não saber quem Ele é. E damos por nós a dizer coisas como: então, sempre Te fui fiel, sempre fiz o bem, me esforcei por ser um bom cristão e agora acontece-me isto? Quando a doença vem e o sofrimento vem com ela, vem também a interrogação: e tu, quem dizes que Eu sou? Não há porventura realidade alguma que tanto interrogue a nossa fé como esta: ficar doente, estar doente, ser doente, vizinho à morte, como se só vivêssemos a vida a meias, meia vida. A doença, o sofrimento qualquer que seja, pode ser a oportunidade da nossa vida em que esta pergunta fundamental da fé que Deus dirige aos seus discípulos mais profundamente soe no nosso íntimo: quem dizes que Eu sou? É como se Ele próprio dissesse: sim, não sou esse que até agora pensavas, que acreditavas que Eu era. A fé de antes, do passado, já não chega para tomares a cruz e me seguires. Responde de novo, uma resposta nova, pessoalmente. Tens que ir mais fundo dentro de ti e responder com Pedro: Tu és o Messias, o Salvador, o Redentor, mas não pelos critérios do mundo, antes, pela cruz. Tens que ir mais fundo e responder como os Pastorinhos que levaram ao extremo a resposta à outra pergunta, está de Maria: "Quereis oferecer-vos a Deus?" - responder é tornar o sofrimento matéria de sacrifício, coisa sagrada. É responder a Jesus pela oferta cada um de si mesmo no sofrimento que vive: Tu és o Messias que, pelo teu sofrimento por amor, salvaste o mundo, me salvaste a mim. Quero tomar a Cruz e seguir-Te, fazendo do meu sofrimento amor por Ti, amor conTigo. Para isto, abri os corações e acolhei a bênção, abramos os corações, acolhamos a bênção. P. José Nuno Ferreira da Silva, capelão do Hospital de S. João, Porto |