24 de junho, 2011
Muito bom dia a todos. / Minhas Senhoras e meus Senhores Em nome do Santuário de Fátima dou as boas vindas a todos os presentes neste Simpósio sobre o tema que orienta as actividades deste ano – a atitude de adoração a Deus. Saúdo cordialmente todos os participantes e congratulo-me por tão significativo número de pessoas se associar a mais esta iniciativa do Santuário de Fátima. Nesta minha saudação dirijo-me, em primeiro lugar, ao Senhor Bispo de Leiria-Fátima, que mais uma vez nos honra com a sua presença. Ao Senhor D. António Marto agradeço todo o empenho com que sempre apoia estes projectos. Saúdo com estima o Senhor Reitor, Doutor Carlos Cabecinhas, que já antes da assumir as novas funções foi nosso companheiro na comissão responsável por este simpósio, e que tem demonstrado extrema dedicação no aprofundamento da mensagem de Fátima. Com gratidão saúdo também todos aqueles que se disponibilizaram generosamente para trabalhar na concretização deste simpósio: os membros da comissão científica e organizadora, aos quais se deve a selecção dos temas a tratar, a estruturação temática e a planificação do programa; os conferencistas e moderadores, que aceitaram fazer um trabalho de reflexão para aqui partilhar connosco; os colaboradores do Santuário, coordenados pelo Dr. Rui Mendes, que asseguram com profissionalismo todos os aspectos logísticos. Caros Congressistas Este simpósio é o primeiro de um ciclo que se integra na grande celebração do centenário das aparições de Fátima. Motivados pelas palavras do Santo Padre Bento XVI, os responsáveis do Santuário de Fátima deram início a um programa celebrativo com a duração de sete anos, que teve início em Dezembro passado e se prolonga até Outubro de 2017. Parecia claro a todos que as aparições de Fátima não deveriam ser simplesmente comemoradas com um conjunto de eventos, à semelhança de qualquer outra efeméride histórica. Optou-se por falar de “celebração”, cuja finalidade é, sobretudo, actualizar no presente as interpelações proféticas do que aqui aconteceu e contribuir para que os apelos actualizados possam conduzir muitos homens e mulheres do nosso tempo à experiência de um Deus que não desiste de os salvar. Desde que se começou a idealizar a celebração deste centenário, houve uma convergência para a convicção de que todo o programa destes sete anos deveria ter como vertente principal o conhecimento da mensagem de Fátima e a vivência de fé característica deste Santuário. Todos os projectos deverão estar ao serviço desta finalidade essencialmente religiosa. Para não nos desviarmos deste propósito e desta exigência, antes de planear actividades e elaborar projectos, começámos por identificar os objectivos que deveriam orientar esta celebração: definimos 40 objectivos, ao serviço dos quais deverá estar qualquer iniciativa que o Santuário venha a propor. Subjacente a todos os objectivos deste centenário está a intenção de ajudar a conhecer e a viver os vários aspectos implicados nas aparições de Fátima. Tudo aquilo que este Santuário propõe terá de estar focado naquilo a que chamamos mensagem de Fátima, sem esquecer que poderá haver muitas formas e meios para concretizar na vida cristã os apelos desta mensagem. Fica, naturalmente, à nossa iniciativa e à nossa responsabilidade a tarefa de procurar dimensões ainda pouco desenvolvidas, aspectos por aprofundar, apelos implícitos. Ao mesmo tempo que se fixavam os objectivos, foi delineado um itinerário temático, para que todo o programa conduzisse por um caminho de reflexão e aprofundamento da mensagem de Fátima, e para que as diversas formas celebrativas fossem ao encontro dos apelos que as aparições apresentam aos crentes do nosso tempo. Do trabalho de uma comissão teológica nasceu, assim, uma vasta apresentação dos temas centrais da mensagem de Fátima e dos muitos aspectos nela implícitos, tornando patente a sua abrangência e riqueza. Este itinerário liga os temas significativos da mensagem de Fátima num fio condutor, de modo a salientar as ideias unificadoras entre eles, a distinguir os aspectos centrais dos mais secundários, a encontrar uma perspectiva de abordagem e chaves de leitura. São muitos os núcleos temáticos que se apresentam à nossa reflexão. E são muitos também os estímulos à nossa vida cristã. O tema geral do centenário é programático não só para esta celebração, mas para toda a compreensão de Fátima: O meu Coração Imaculado conduzir-vos-á até Deus. Fátima é uma proposta mariana para nos levar ao encontro com Deus. Tudo começa, nas aparições do Anjo, com o convite a contemplar o mistério divino, continua, nas aparições da Cova da Iria, com a pedagogia maternal de Maria para introduzir as crianças no conhecimento do amor de Deus, e termina, nas aparições a Lúcia, por reconduzir à unidade do mesmo amor de Deus as manifestações do mistério da Trindade, da Redenção e da Eucaristia. A via de acesso ao mistério de Deus e à experiência do seu amor é, em Fátima, mariana. Esta é, certamente, uma vantagem que não podemos deixar de valorizar. A história da vida dos crentes e da espiritualidade cristã tem mostrado que a figura de Maria é quase sempre átrio de acesso à vida da fé e raramente porta de saída da comunhão com Deus. Fátima é um bom exemplo de que uma autêntica e equilibrada devoção mariana não nos distrai do essencial, nem nos afasta do amor a Deus ou de seguimento de Jesus Cristo. Estamos no primeiro ano deste septenário, com um tema que nos convida a meditar no mistério do amor trinitário e a desenvolver uma atitude de adoração: “Santíssima Trindade... adoro-Vos profundamente”. É claro desde o início que a mensagem de Fátima nos remete para o fundamental da fé e da vida, pondo Deus no centro das nossas preocupações. Como diz Bento XVI, “nenhum problema é resolvido se Deus não estiver no centro e se não se tornar visível no mundo” (Bento XVI, A luz no mundo, Lucerna, Cascais 2010, 10). O tema deste simpósio pretende aprofundar alguns dos aspectos que foram indicados para o primeiro ano. O título aponta para a atitude daquele que se coloca como crente diante da beleza e do amor de Deus: “Adorar Deus em espírito e verdade – Adoração como acolhimento e compromisso”. Apropriando-nos de uma expressão do teólogo Hans Urs von Balthasar, podemos dizer que em Fátima encontramos o “todo no fragmento”. Na proposta de uma revelação concreta, fragmento de um imenso plano salvífico, encontramos a possibilidade de ter acesso ao todo da grande proposta salvífica que Deus faz a cada ser humano. Este simpósio terá intervenções muito variadas: alguns estudos teológicos, reflexões pastorais, partilhas da vivência da fé, apresentação de expressões culturais da fé cristã. Cada um de nós sentir-se-á mais identificado com umas intervenções do que com outras. A variedade aqui apresentada é sinal da diversidade de caminhos que Fátima nos proporciona, reflexo dos inumeráveis acessos que conduzem ao coração de Deus e dos muitos modos que Deus tem de nos tocar. A partir de diversas perspectivas procuraremos reflectir sobre os traços de Deus que a mensagem de Fátima põe em realce, sobre o lugar de Deus na vida dos homens e mulheres do nosso tempo, sobre a atitude de adoração dos crentes. Todos estes esforços, no entanto, só farão pleno sentido se contribuírem, de alguma forma, para nos aproximar do Deus vivo, como nosso Senhor. Como escreve Gianfranco Ravasi, “a mensagem cristã não é uma colecção abstracta de teses teológicas sobre Deus, mas é o encontro de Deus com o nosso mundo, com a realidade das nossas casas e da nossa vida” (1). Em nome de cada uma das pessoas que constituem a comissão responsável por este simpósio, dou as boas vindas a todos os presentes e desejo a todos uma participação muito frutuosa e agradável. Muito obrigado. Vítor Coutinho 1 - G. RAVASI, I vangeli di Natale, Cinisello 1992, 54. |