12 de outubro, 2023
“Os peregrinos comovem-me e continuam a comover-me” – António ValinhoAntónio Valinho é um dos rostos do Santuário, facilmente identificável por tantos, a começar pelos que solicitam a visita de uma Imagem da Virgem Peregrina.
“O acolhimento aos jovens, este ano, nos períodos antes, durante e após a Jornada Mundial da Juventude, foi, de facto, um acontecimento muito importante na história do Santuário e da própria cidade de Fátima, que teve como ponto alto a visita do Papa Francisco, no dia 5 de agosto. Foram dias muito intensos, não só pela elevada afluência de peregrinos jovens, mas sobretudo pelo clima criado e vivenciado em Fátima, dentro e fora do Santuário. Aqueles dias foram vividos num ambiente de oração e de celebração. E não posso deixar de sublinhar, também, o ambiente festivo, de grande júbilo e reconhecimento que foi experimentado quer pelos jovens quer por quem os acolheu”, responde António Valinho à primeira questão formulada acerca da presença invulgar de jovens este verão em Fátima, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, numa conversa que durou sensivelmente 30 minutos e que pode ser ouvida, na íntegra, em www.fatima.pt/podcast, ou nas plataformas iTunes e Spotify, onde estão os podcasts de Fátima. “Foram dias de uma vivência jovem e de festa, que também é própria do Santuário de Fátima. Houve, aliás, nestes dias uma sonoridade diferente, e nova, no Santuário e na Cidade, e que se deveu aos cânticos, à oração, às expressões de alegria. Mas nada incomodava. Antes, porém, contagiava pela alegria e pela espontaneidade que brotava dos jovens. Julgo poder dizer que os jovens saíram de Fátima felizes e agradecidos pelo acolhimento que receberam. E a comunidade do Santuário e a comunidade da cidade de Fátima ficaram também reconhecidas, alegres, contentes e felizes com este grande acontecimento”, prossegue, deixando uma convicção: “Pode ser, de facto, um rejuvenescimento da própria Pastoral do Santuário de Fátima. Não é que o Santuário não tenha dado sempre atenção a todos. Aliás, a principal missão da Pastoral no Santuário é acolher bem a todos os peregrinos: crianças, jovens, adultos, idosos, doentes... todos têm cá lugar; e, de facto, foi um acontecimento que projeta Fátima muito para além daquilo que é o habitual”. “Neste momento, aquilo que nós enxergamos foi uma comunhão, de atitudes, uma comunhão de olhar. Uma comunhão no mesmo sentido do acolhimento, e é evidente que, sempre que se dão passos nesse sentido, esses passos são sempre muito positivos e projetam melhor o futuro”, enfatiza, abrindo caminho para outras reflexões sobre a importância de Fátima no contexto da Igreja e do Mundo, a simplicidade da mensagem e a doçura dos Pastorinhos. “A mensagem das Aparições de Fátima está em perfeita sintonia com a mensagem do Evangelho, que é uma mensagem de oração e de conversão, na procura de Deus, para dele recebermos a paz e a salvação eterna. Este apelo à oração e à conversão, cumprido exemplarmente, com doçura até, pelos Pastorinhos é hoje muito comovente para nós. O sofrimento da Jacinta, a coragem do Francisco, a persistência e a fidelidade da Lúcia são, sem dúvida, testemunhos para toda a humanidade. Por conseguinte, diria que o seu exemplo nos ajuda a crescer na fé”, refere. “Surpreendeu-me muito esta atitude dos peregrinos jovens: no Santuário, no caminho a pé, na comunidade; este grande conhecimento da mensagem, do testemunho dos Pastorinhos, sempre compenetrados e sempre muito respeitosos do que estavam a viver. Foi muito comovente esta experiência”, clarificou. Ao longo da conversa, distendida, percorremos a evolução do Santuário, que António Valinho apelida de adaptação e não de “mudança propriamente dita, porque o essencial, que é a mensagem e a sua divulgação, mantém-se”; percebe-se o lugar que dá aos peregrinos, apesar “dos grandes eventos” que aqui viveu, dos “momentos celebrativos bonitos” ou do esforço que o Santuário “faz, e bem, de forma cada vez mais regular e sistemática” em prol da caridade. “Estive em todas as visitas dos Papas (só não esteve em 1967, quando veio Paulo VI), vivi grandes acontecimentos, mas vou dizer uma coisa que pode parecer uma pieguice: para além da mensagem que emana das Aparições, que é a essência deste lugar, os peregrinos são o mais importante de Fátima. Têm um lugar fundamental na vida deste Santuário, e, da minha parte, quero dizer que tenho o maior apreço e a maior consideração por eles. Os peregrinos comovem-me, designadamente, quando choram acenando o lenço, no adeus à Virgem; comovem-me pela emoção e pela devoção que transmitem e por tantos outros gestos que patenteiam aqui em Fátima, como vê-los a correr velozmente para a Capelinha das Aparições a dizerem ‘Ó, minha mãe, minha mãe querida, tinha tantas saudades de Ti’. Não posso deixar de me comover com eles... e de também eu deitar uma lágrima... E, embora os peregrinos possam ter mudado, ainda continuamos a encontrar estes peregrinos que dizem assim: ‘Ó, mãe, ó minha querida mãe, eu tinha tantas saudades de Ti’. De facto, eu tenho os peregrinos no coração”. Nesta conversa, António Valinho recorda a preparação das visitas da Imagem da Virgem Peregrina, tarefa que realiza desde 1991, quando passou a integrar a equipa de apoio à Reitoria. “É um trabalho que me é particularmente grato, porque as notícias que chegam – de crianças, jovens, adultos, idosos – com o regresso das imagens são sempre extraordinárias: de grande alegria, notícias de multidões; são sempre relatos muito significativos, dando conta de graças alcançadas. Para além disso, eu considero que as viagens da Imagem Peregrina constituem um meio privilegiado de difusão da mensagem de Fátima, por serem sempre ocasião de grandes multidões, e de multidões disponíveis e ávidas, quer seja para conhecer a história quer seja para conhecer a mensagem de Fátima. Por outro lado, creio que estas visitas contribuem também para o incremento da afluência de peregrinos a Fátima. E isto é tão importante, porquanto acontece, praticamente, em todo o mundo, em muitos, muitos países por onde a Imagem passa”, adianta. São várias as histórias que poderia contar, mas destaca uma que envolveu a deslocação da Imagem da Virgem Peregrina à antiga Birmânia – Myanmar: “Chocou-me o controle das autoridades durante a viagem. Os organizadores que vieram buscar e devolver a Imagem enfrentaram muitas dificuldades, e isso tocou-me”. “Apesar de todo o controle, as notícias que nos chegaram iam em igual sentido: multidões nos templos e nas estradas. Isso é muito gratificante”, como é agora esse movimento que está em expansão nos países da América Latina e que tem permitido a peregrinação da Imagem Peregrina da Virgem de Fátima. “Tudo o que se passa no mundo interpela-nos, porque a mensagem de Fátima é uma mensagem de salvação, e, no dia a dia da nossa vida, verificamos que não estamos a encontrar a paz que Nossa Senhora anunciou. Acho que temos de rezar. A mensagem é essa: temos de rezar mais e de nos converter, e isso compete a cada um. A paz é algo que se propaga; não podemos querer a paz para o mundo se não vivermos em paz connosco, com a nossa família e com os que nos rodeiam... Só se o fizermos conseguiremos trazer paz ao mundo”.
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