06 de setembro, 2018
Obra de Irene Vilar esteve em análise na penúltima visita temática à exposição “As Cores do Sol”Laura Castro, docente e investigadora de arte, sintetizou a obra da escultora como uma experiência de interpelação, peregrinação e contemplação
Na noite de ontem, durante a penúltima visita temática deste ano à exposição temporária “As Cores do Sol – A Luz de Fátima no Mundo Contemporâneo”, a docente e investigadora de arte Laura Castro percorreu a vida e obra da escultora Irene de Vilar a partir de dois trabalhos que estão presentes naquela mostra. As esculturas “Esta árvore tem dois mil anos” e “Imaculado Coração de Maria” foram a referência para uma viagem por outros trabalhos da artista, falecida em 2008. No percurso pelo portfólio artístico desta escultora natural de Matosinhos, Laura Castro enumerou características comuns à obra de Irene Vilar, que, segundo demonstrou através de vários exemplos, são comuns no registo profano e sacro. A docente começou por sublinhar a “experiência de interpelação” e a densidade presentes nas esculturas da artista, que são geradoras de “surpresa, espanto e interrogação”. Dando como exemplo deste aspeto a obra “Esta árvore tem dois mil anos”, a investigadora fez ainda notar o cunho expressionista que, defendeu, “melhor traduz a personalidade artística” de Irene Vilar. Recorrendo a esculturas da autoria da artista, presentes no espaço público, Laura Castro falou também da “experiência do percurso” a que “obriga” a obra de Irene Vilar, que transforma o observador num peregrino pela escultura. Ao abordar a configuração em coluna de algumas esculturas da artista, a investigadora fez um paralelismo entre a obra “O Mensageiro”, presente num espaço público da cidade do Porto, e a escultura “Imaculado Coração de Maria”, patente na exposição, também para sublinhar a presença da morte e do transcendente no trabalho de Irene Vilar. Um outro aspeto destacado no trabalho da artista pela oradora foi a ideia de “reconhecimento e decifração”, que se concretizou através da integração de fragmentos de literatura na estatuária como ferramenta de leitura à obra. Laura Castro fez ainda referência ao aspeto “mais característico da obra de Irene Vilar do ponto de vista plástico, da forma e da abordagem estética”: a “experiência de reverência e de contemplação”. Ao apresentar cronologicamente trabalhos da artista, de carácter religioso, a docente demonstrou uma evolução que se caracteriza pela transição da rigidez para o dinamismo, e que se traduziu em “figuras que nos lembram a grande escultura do renascimento” a trabalhos com um carácter “esquivo e fugidio, que nunca se tornam corpóreas”, como é exemplo a escultura do anjo, presente no Poço do Arneiro, em Fátima, também da sua autoria. “A obra de Irene Vilar conjuga uma certa sensibilidade com alguma retórica, e um lado pacificador e de contemplação com uma expressividade interpelativa”, sintetizou Laura Castro. A visita temática começou, como é habitual, com uma breve visita, guiada pelo diretor do Museu do Santuário de Fátima, Marco Daniel Duarte, que atualizou as estatísticas de visitantes àquela mostra: cerca de 443 mil desde novembro de 2016, altura em que foi inaugurada esta exposição que evoca a Aparição de outubro de 1917. A última visita temática realiza-se a 3 de outubro e contará com a presença de Isabel Roque, que vai analisar “o papel da museologia na apresentação de conteúdos”. Outubro próximo é também o último mês em que a exposição “As Cores do Sol – A Luz de Fátima no Mundo Contemporâneo” estará de portas abertas, podendo ser visitada todos os dias, entre as 9h00 e as 19h00, no Convivium de Santo Agostinho, no piso inferior da Basílica da Santíssima Trindade. Pode também ser visitada virtualmente. |