13 de novembro, 2023

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"O Santuário de Fátima é um bom exemplo de sinodalidade"

D. José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima, fala da sinodalidade na Igreja.

 

O bispo de Leiria-Fátima, enquanto presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, participou nos trabalhos da XVI Assembleia do Sínodo sobre sinodalidade, que decorreu em outubro em Roma. No dia 28, na conclusão dos trabalhos, foi apresentando um relatório síntese onde são oferecidas reflexões e propostas sobre temáticas como o papel das mulheres e dos leigos, o ministério dos bispos, o sacerdócio e o diaconado, a importância dos pobres e migrantes, a missão digital, o ecumenismo e os abusos.

Para a humanidade à beira do abismo, o que aconteceu nas últimas quatro semanas em Roma é um sinal de esperança: primeiro, para a Igreja que mostra não ter medo das novidades que possam ser sopradas pelo Espírito Santo , mas também para o mundo pois a reunião de homens e mulheres de tantos carismas, com tantras diferenças  entre si mostrou que ainda é possível dialogar, acolher o outro, deixando de lado protagonismos que possam agudizar as polarizações, que são evidentes. 

No Podcast #fatimanoseculoXXI, D. José Ornelas Carvalho explicita o papel de Fátima como exemplo de sinodalidade na forma como está organizado do ponto de vista da corresponsabilidade funcional, mas também na mensagem que aqui difunde, de que o mundo pode ser melhor se houver conversão dos corações.

“Os santuários jogam aqui um papel muito importante. A imagem da Capelinha das Aparições, que o Papa aqui recordou: uma Igreja sem janelas e sem muros, com colunas e pilares e com tecto, para acolher todos. Esta é a ideia principal de um sínodo: todos temos lugar; todos devemos fazer caminho conjunto; todos temos de ter disponibilidade para a missão”, refere o bispo diocesano.
“Se olharmos para a geografia física do santuário: está sempre aberto para todos os que aqui chegam e vêm em peregrinação; mas as suas `portas´ estão igualmente abertas para que, uma vez feita a experiência, todos possam regressar às suas casas levando mais consigo”, afirma D. José Ornelas.

“Esta é a imagem da Igreja, uma Igreja em caminho disponível para a missão” esclarece ainda.
“O Santuário não é um lugar de estar, é um lugar de vir, de encontrar-se e questionar-se,  experimentar, mas depois sair. Pensar a missão de um santuário é diferente de se pensar a missão de uma paróquia ou de uma diocese, onde se tem de organizar os serviços locais para as pessoas que vêm todos os dias, à mesma hora. Mesmo pensar o processo de decisão do santuário é diferente, porque a missão é outra e é bonita” acrescenta.

“Isto para funcionar tem de ser assim: o Reitor não decide tudo sozinho, como eu como bispo não posso decidir tudo sozinho e quando ouvimos os conselhos é para considerarmos as suas opiniões e não apenas para que sirvam a nossa vontade”.

“O santuário de Fátima tem um Conselho Pastoral; tem o Conselho Económico; tem o Conselho de Coordenação... Lá estão pessoas altamente competentes para se pronunciarem sobre os assuntos e isso tem de ser levado em consideração quando há que tomar decisões. A isto se chama corresponsabilidade que é uma das grandes questões da sinodalidade que discutimos”.

“Se nos fecharmos não dá certo, mas se não for coordenada a orquestra também não funciona. Num coro, nem todas vozes são iguais; eu sou aquela voz que desafina, mas cantando em coro até sou capaz de me integrar numa voz comum. É preciso entender isto: mesmo desafinados, num coro, encontraremos afinação dentro e, depois, há polifonias onde aparece aparentemente um desconforto de um tom diferente mas é o que dá beleza ao canto. Isto é a igreja e o sínodo”, diz ainda. 

O prelado sublinha, por outro lado, a própria mensagem de Fátima propicia o exercício da sinodalidade.

“O Santuário é a casa da mãe, onde todos têm lugar, mas quando isso não é possível, a mãe pode ir ao encontro. O santuário de Fátima tem de ter presente esta missão cada vez mais: ir ao encontro de quem não pode cá vir por uma razão ou por outra e isso faz-se através do ambiente digital, que serve de instrumento, mas também de espaço comunitário”.

“Maria de Fátima, como Maria de Nazaré, é chamada a cuidar, a acompanhar e a consolar, como Maria de Nazaré fez com o seu filho. Temos mais de um terço de crianças vítimas de guerra, de fome e de tantas injustiças. Isto passa por Fátima e tem de tocar Fátima”.

O bispo D. José Ornelas neste podcast #fatimanoseculoXXI fala, ainda da sua experiência em Roma e da participação na Assembleia Sinodal.

“A capilaridade desta Assembleia, que tocou todos os continentes, ajudou a esclarecer o que está em causa: não se tratou de uma auscultação sobre o tema que era a sinodalidade, mas de pensarmos juntos, vivermos juntos, caminharmos juntos e discernirmos juntos para, corresponsavelmente, partirmos em missão juntos”.

“A própria estrutura da sala, em mesas redondas, em que o Papa estava nas sessões mas apenas com a cadeira necessária para a sua condição de saúde, presidindo mas sem se distanciar de ninguém...As unidades estão em diálogo e todas valem e contam, mas cada uma no seu carisma. Era uma imagem bonita e inspiradora”.

Nesta conversa, o prelado explicita ainda que o sínodo “não é para tomar decisões” mas para restaurar permanentemente o caminho.

“Quando se fala de uma perspetiva sinodal verdadeira inclui-se tudo: a questão da responsabilidade e da autoridade dentro da Igreja. A igreja não vai ficar igual; já não está igual; na própria reunião não foi igual”.

“Não precisamos de ir todos ao mesmo ritmo e até se pode concluir que as questões culturais ou sociais ou históricas pesam outro tanto que exigem que uma solução para uma determinada igreja local não serve para outra mas cada uma ter dentro deste caminho conjunto, a possibilidade de se transformar numa comunidade viva e participativa”, diz ainda.

 

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