21 de abril, 2025
![]() O Papa deixa uma Igreja próxima, ternurenta e compassivaCardeal D. António Marto recorda a mensagem inesquecível que deixou em Fátima o Papa Francisco, que foi “um pai e um profeta para a Igreja e para o mundo”.
O cardeal D. António Marto, que recebeu o Papa Francisco na Cova da Iria como bispo de Leiria-Fátima, no centenário das Aparições de Fátima, em maio de 2017, reagiu com um misto de consternação e gratidão ao falecimento do Sumo Pontífice. “É um momento de profunda consternação e comoção, no qual a Igreja vive um sentimento de orfandade, mas também de gratidão, no reconhecimento pelas palavras e gestos com que o Papa Francisco nos animou para sermos cristãos autênticos e fiéis ao Evangelho”, começou por assinalar o bispo emérito de Leiria-Fátima, nas declarações que prestou ao Gabinete de Comunicação do Santuário de Fátima. Uma das ações que o atual bispo emérito de Leiria-Fátima testemunhou na primeira pessoa foi precisamente a vinda do Papa Francisco à Cova da Iria, em 2017, durante a qual canonizou os videntes de Fátima Francisco e Jacinta Marto. “Recordo o momento em que ele anuiu a que a canonização fosse realizada em Fátima e não em Roma. Já aqui, no final das celebrações de 13 de maio, durante a Procissão do Adeus, tocou-me o facto de ele, com as lágrimas a brilharem-lhe nos olhos, também ter pegado num lenço como todo o povo. Ele saiu daqui comovido e entusiasmado”, afirmou o bispo emérito de Leiria-Fátima, ao evocar a mensagem que o Santo Padre deixou na segunda vinda a Fátima, seis anos depois, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. “Essa mensagem resumiu-se a um apelo a uma Igreja de portas abertas, onde todos têm lugar. É uma mensagem inesquecível! Nunca mais se poderá voltar atrás nesta imagem da Igreja que ele nos deixou. Foi, de facto, um pai e um profeta para a Igreja e para o mundo”, assume D. António Marto, ao evidenciar um pontificado de “renovação, reforma e coragem”, que “deu prioridade à evangelização antes da doutrina”.
Um Papa que soube falar com o mundoA propósito do legado que o Santo Padre deixa para a Igreja e para o mundo, o cardeal D. António Marto não hesita em enumerar a proximidade, a ternura e a compaixão, especialmente com os mais frágeis, como marcas mais evidentes do pontificado de Francisco, ao enumerar algumas das expressões “originais e inovativas” que o Papa usou para traduzir estes conceitos ao mundo. “Ele falou: de uma Igreja ‘hospital de campanha’, sempre pronta a acolher os feridos e a curar as feridas, de uma ‘Igreja em saída’ às periferias geográficas e existenciais, e de uma ‘Igreja aberta e de portas abertas’, que a todos acolhe, sem julgar. Depois, esteve muito atento ao fenómeno migratório e às divergências do mundo de hoje, muito fragmentado e dividido, apresentando a fraternidade universal e a da amizade social como caminho para a paz, apelando à ‘cultura do diálogo e do encontro’”, sintetizou o cardeal português. Do pontificado que agora termina o cardeal D. António Marto destaca também os documentos do magistério de Francisco, nomeadamente a exortação apostólica “Evangelii Gaudium” e as três encíclicas que escreveu pelo seu punho. A ‘Laudato Si’, sobre a ecologia integral; a ‘Fratelli tutti’, sobre a fraternidade universal e a amizade social, tão necessárias no mundo de hoje, onde se vive uma divisão e uma polarização ideológica, política e económica; e a ‘Dilexit nos’, sobre o coração de Jesus, onde o Papa tenta transmitir o amor fraterno, que é base de toda a coesão social”, descreve o prelado. Como características mais marcantes do Papa Francisco, D. António Marto, que privou por diversas ocasiões com o Santo Padre, destaca a capacidade da escuta e do discernimento e a ternura. “Ele deixava falar, escutava e tinha o dom do discernimento. Mesmo na visita Ad Limina dos bispos portugueses a Roma, ele deixava falar todos, sem qualquer obstáculo, com toda a coragem e liberdade. Depois, destaco também a ternura, à qual pessoalmente estou muito grato. Comigo ele usou sempre de uma atenção e de uma ternura que me impressionava e que me tocou no coração. Nessa proximidade, ternura e compaixão, foi um inspirador para o exercício do meu ministério episcopal”, assume o bispo emérito de Leiria-Fátima. D. António Marto feito cardeal pelo Papa Francisco a 28 de junho de 2018, cerca de um ano depois de ter recebido o Santo Padre na Cova da Iria, como bispo de Leiria-Fátima. É atualmente membro do Dicastério para as Causas dos Santos. |