O Mundo em Fátima: A paz e a liberdade religiosa

O mundo em Fátima

A paz e a liberdade religiosa, pelo Padre José Nuno Silva

A invasão da Ucrânia fica a assinalar tragicamente o ano que agora se aproxima do seu termo. Numa entrevista recente, Aleksej Uminskij, pároco ortodoxo em Moscovo, faz uma inabitual reflexão sobre a liberdade religiosa, refletindo sobre o alinhamento incondicional do Patriarcado a que pertence com a ideologia que sustenta a guerra, que tantos tem escandalizado: “[...] na última década a Igreja e o Estado tornaram-se cada vez mais incorporados, ao ponto de estarem demasiado próximos um do outro; a Igreja, assim, devido à sua tradição histórica bizantina, torna a ser uma parte do Estado. Embora tivesse todas as oportunidades de alcançar a liberdade verdadeira, de facto, a Igreja Ortodoxa histórica não sabe o que fazer com esta liberdade. Historicamente, na experiência da Igreja Ortodoxa Russa, houve apenas um curto período de liberdade correspondente aos anos de perseguição, mas assim que começa um período de prosperidade, a Igreja é incapaz de tirar partido da liberdade, necessita apoiar-se na mão forte do Estado, necessita começar a obter privilégios do Estado, a mostrar gratidão para com o Estado. Isto forma uma ideologia semelhante à que existia no tempo do império russo”.

Não estamos habituados a pensar que a perseguição religiosa – neste caso a que as Igrejas viveram na Rússia durante o período soviético, sistema por cuja conversão Fátima pedia que se rezasse – pode paradoxalmente constituir uma experiência de liberdade religiosa.

A liberdade do Evangelho não é oprimida pela perseguição de uma Igreja pelo Estado. A trágica negação da liberdade religiosa é quando uma Igreja se confunde tanto com um Estado que abdica do Evangelhopor submissão à ideologia política do Estado. De facto, a liberdade religiosa pode ter como preço a perseguição. Mas não sobrevive à abdicação.