13 de setembro, 2020
O mundo em FátimaA paz e a liberdade religiosa“Deus não precisa de ser defendido por ninguém e não quer que o Seu nome seja usado para aterrorizar as pessoas. Peço a todos que parem de instrumentalizar as religiões para incitar ao ódio, à violência, ao extremismo e ao fanatismo cego”. Estas são palavras do Papa Francisco no dia 22 de Agosto, associando-se ao Dia Internacional das Vítimas dos Atos de Violência baseada na Religião ou Crença, instituído pelas Nações Unidas em 2019. O tema da perseguição à Igreja e do martírio dos cristãos, constante da terceira parte do segredo de Fátima, pede para ser lido, mais de cem anos depois, nesta perspetiva universalizante que considere todas as formas de violência religiosa nos nossos dias, em que, embora o Cristianismo seja o mais perseguido, tantos outros indivíduos e grupos religiosos são alvo de perseguição em razão da sua fé, vítimas de processos em que muitas vezes se escondem razões ideológicas, políticas e até económicas. Aliás, para nós, católicos, é imperativo este aprofundamento do significado da aparição de Julho, neste ano em que passam 55 anos da Declaração do Concílio Vaticano II sobre a Liberdade Religiosa Dignitatis Humanae, precisamente o documento do Concílio que, nos últimos tempos, tem sido mais contestado por alguns setores da Igreja que, de braço dado com movimentos políticos radicais nacionalistas, se fecham no seu fundamentalismo tradicionalista e recusam o progresso da consciência de si mesma e da sua missão no mundo a que a Igreja chegou no Vaticano II. A mensagem de Fátima, enquanto acontecimento eclesial, não pode deixar de ser lida neste horizonte.
Pe. José Nuno Silva, Capelão do Santuário de Fátima (In Voz da Fátima, Ano 098, N.º 1176, 13 de setembro 2020) |
