13 de janeiro, 2021
O mundo em FátimaA paz e a liberdade religiosaPelo padre José Nuno Silva*“A cultura do cuidado como percurso de paz”. Foi este o tema proposto pelo Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz, a 1 de janeiro. O nexo estabelecido pelo Papa entre a paz e a cultura do cuidado é um elemento também presente na mensagem de Fátima. Pode enquadrar-se neste espaço da Voz da Fátima explicitar este vínculo e refletir sobre ele. É logo na primeira aparição que o Anjo, apresentando-se significativamente como “o Anjo da Paz”, inscreve no coração do movimento da alma que se ergue para Deus – “eu creio, adoro, espero e amo-Vos” – o cuidado pelo outro, concretamente a intercessão pela salvação dos que andam longe de Deus – “peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam”. Interceder pela salvação dos outros, todos, quem quer que sejam, desde que se insiram no critério do “não” dado a Deus, é o larguíssimo horizonte que Fátima oferece à cultura do cuidado. Tendo em conta este critério, ninguém é excluído da solicitude daquele que cuida intercedendo e, a partir da segunda aparição do anjo, sacrificando-se; aliás, o critério de inclusão na solicitude cuidadosa do intercessor/sacrificante é precisamente a auto-exclusão do âmbito de Deus. Esta forma radical de cuidar do outro, não só o diferente de mim mas até o “inimigo”, enquanto ofensor de Deus, vence as distâncias e os conflitos e desenha o caminho da verdadeira paz. Mais universal e comprometedor não podia ser o horizonte que Fátima oferece à cultura do cuidado como caminho da paz. E as religiões, refere Francisco, “podem desempenhar um papel insubstituível na transmissão aos fiéis e à sociedade” dos valores da cultura do cuidado. Também desta tarefa o Santuário de Fátima é lugar.
*O Padre José Nuno Silva é Capelão do Santuário de Fátima (In Voz da Fátima, Ano 099, N.º 1180, 13 de janeiro 2021) |