10 de julho, 2022

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O mundo em Fátima

A paz e a liberdade religiosa

 

A invasão da Ucrânia pela Federação Russa encheu os nossos olhos com imagens de refugiados de guerra. Mas outros processos dramáticos não cessaram porque o interesse dos media se concentra e nos concentra exclusivamente, não só mas também por razões de política dominante, neste drama ao pé da porta.

Vejamos: a 20 de junho ocorreu a Jornada Mundial dos Refugiados. Assinalando o facto, a Organização Não Governamental Open Doors [Portas Abertas], que desenvolve um trabalho sistemático de vigilância do fenómeno da perseguição religiosa especificamente contra os cristãos em todo o mundo, publicou um relatório significativamente intitulado: “A Igreja em fuga. Relatório 2022 sobre deslocados internos e refugiados”.

O relatório permite perceber uma situação global tremenda. Em mais de cinquenta países há cristãos que vivem este drama precisamente por serem cristãos. Entre os deslocados internos, 46% são de apenas cinco países, onde a perseguição aos cristãos é particularmente forte: Síria, Afeganistão, RD Congo, Colômbia e Iémen. Entre os que são obrigados a deixar o próprio país, 68% provêm também de cinco países, em que também é grande a perseguição: repetem a Síria e o Afeganistão e somam-se a Venezuela, o Sudão do Sul e o Myanmar. Isto não acontece por acaso. Segundo o relatório “dividir as comunidades religiosas faz parte de uma estratégia deliberada. A expulsão não é apenas um subproduto da perseguição, mas em muitos casos é parte intencional de uma estratégia mais ampla para erradicar o cristianismo da comunidade ou do país”. É política dominante. Um exemplo consumado é o Iraque, onde há 20 anos havia um milhão de cristãos e hoje nem cento e setenta mil restam.

O tremendo soar da guerra às nossas portas, não pode fazer-nos esquecer a realidade global do mundo.

E a história imensa de acolhimento e hospitalidade para com os nossos irmãos ucranianos em fuga não pode deixar de interrogar as nossas consciências sobre a nossa atitude e solicitude para com os nossos irmãos que fogem de outras guerras e perseguições. Acusam-nos? Fátima é um lugar mundial. Aqui não pode haver esquecidos. Não podemos esquecer os de longe da porta. Mais uma vez, há que referir a voz solitária, insistente e até alternativa à política dominante, de Francisco – será (também) ele o papa que atravessa a cidade em ruínas da terceira parte do segredo de Fátima que justifica esta coluna? – a clamar por um olhar da largura do mundo. Aliás, esta é a largura do olhar de Fátima.

(Este artigo foi escrito pelo padre José Nuno Silva)

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