17 de março, 2025
![]() O diálogo e a imaginação como chaves para humanizar o mundoSegundo Encontro na Basílica teve como convidado o padre Adelino Ascenso, superior geral da Sociedade Missionária da Boa Nova e atual presidente da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal.
“Os caminhos comuns de busca de Deus e de humanização do mundo” trouxeram o padre Adelino Ascenso à Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, no passado domingo, para uma reflexão sobre o rumo a seguir tendo como meta "uma genuína fraternidade universal”. Orador convidado do segundo Encontro na Basílica, o superior geral da Sociedade Missionária da Boa Nova e atual presidente da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal partiu de algumas vivências pessoais para traçar possibilidades de diálogo “com crentes, não crentes, agnósticos, ateus, desiludidos, resignados ou revoltados”. Começando pelo diálogo inter-religioso, afirmou que “as religiões não existem para se guerrearem entre si, mas sim para, no diálogo, aprofundarem a própria fé e encontrarem pontos de referência em que possam dar as mãos em projetos comuns”. Sublinhou que “o diálogo inter-religioso não é traição à evangelização”, antes “uma arte de comunicação espiritual”, cada vez mais necessária pela frequência com que diversas religiões coabitam no mesmo seio comunitário, grupal ou mesmo familiar. Nestes contextos, lembrou o sacerdote que é fundamental exercer aquilo que o Papa referiu na sua mensagem para o 56.º Dia Mundial das Comunicações Sociais em 2022: “escutar com o ouvido do coração, prestando atenção a quem ouvimos, àquilo que ouvimos e ao modo como ouvimos”. Para o diálogo entre religiões, o padre Adelino Ascenso considera que contribui também a visita a lugares de peregrinação, como Fátima. “Aí podemos ser bafejados pelo espírito de modos não previstos e que nos deixam traços indeléveis”, referiu. “Quando visitamos tais lugares como peregrinos, sentimos uma transformação no nosso interior”, além de que “passamos a ver tais religiões com outros olhos e cresce em nós um sentimento de comunhão fraterna”, acrescentou. Relativamente ao diálogo com "não-crentes, indiferentes, pessoas que têm um conhecimento superficial ou distorcido da fé cristã, cristãos com uma fé enfraquecida ou que se afastaram da Igreja", o orador reconhece que o cristianismo tem pela frente uma porção de terra inóspita, mas simultaneamente desafiante. É o solo daqueles que os sociólogos denominam de nones, os que afirmam não professar qualquer religião. “Quando se lhes pergunta qual a religião que professam, respondem none, nenhuma. São em número grande e crescente”. Dentro deste grupo, explicou, existem os denominados dwellers, aqueles que desejam pertença à tradição e estrutura, e os seekers, os buscadores. À semelhança do teólogo e filósofo Tomás Halík, o padre Adelino Ascenso acredita que o futuro do cristianismo dependerá da profundidade da relação que os cristãos forem capazes de estabelecer com os seekers, os buscadores. “É preciso abrir mais portas para que os buscadores constituídos por minorias culturais e aqueles que se sentem exilados da Igreja possam ter um lugar e possam experimentar o encontro genuíno numa comunidade que acolhe e não condena, que dialoga e acompanha”, afirmou. No seu entender, essa deverá ser a essência de qualquer verdadeiro diálogo com os que desconfiam das religiões, mas que anseiam por uma espiritualidade menos estruturada e menos comprometedora. “Urge que sejam criadas células pulsantes, centros de oração e espiritualidade, reflexão e partilha de experiências de uma fé peregrina, no meio de um mundo em transformação”, sustentou. Nesse caminho, vê como essencial uma aposta forte na imaginação pastoral, uma vez que esta é capaz de abrir visões amplas até em espaços restritos, como acredita o Papa Francisco. “A imaginação terá de ser uma ferramenta que nos ajuda a alargar horizontes e a descobrir pontos de luz para o diálogo com crentes, não crentes, agnósticos, ateus, desiludidos, resignados ou revoltados”, defendeu. Como habitualmente, o Encontro na Basílica contou com um momento musical que, nesta sessão, foi assegurado pelo Choral Phydellius, de Torres Novas. Sob a direção de João Baptista Branco, as mais de 40 vozes do grupo coral ofereceram uma seleção de obras que integrou a beleza de textos marianos e entrelaçou clássicos com espirituais e composições da atualidade. |