23 de fevereiro, 2025
![]() “O amor é também um ato de vontade”Na homilia da missa deste domingo, o reitor do Santuário de Fátima, padre Carlos Cabecinhas, sublinhou que ser cristão é ser capaz de renunciar à vingança e fazer o bem sem esperar retorno.
As páginas do Evangelho proclamado neste VII Domingo Comum são “um incómodo, uma pedra de tropeço que nos põe em causa”, começou por reconhecer o padre Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário de Fátima, no início da homilia que proferiu esta manhã, na Basílica da Santíssima Trindade. Citou: “Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai aqueles que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos injuriam, que vos perseguem. A quem te bater numa face, apresenta-lhe também a outra” (Lc 6, 27-38). A dificuldade não reside em entender o que é dito por Jesus, mas sim em executar e viver de acordo com o que é pedido, sustentou o presidente da celebração. “Temos de reconhecer que isto nos parece muito superior às nossas forças”. O padre Carlos Cabecinhas lembrou, no entanto, que esse é um caminho exequível e que deve ser o modo de proceder de um cristão, porque “é o modo de proceder de Deus para connosco”, sustentou. Reconheceu que são exortações exigentes, mas esclareceu: “É assim que Deus se comporta connosco, é esta a atitude de Deus para connosco, não é uma atitude de vingança, mas de perdão, de misericórdia, de acolhimento, mesmo quando O ignoramos, quando vivemos como se Ele não existisse, quando fazemos o contrário do que nos pede, Deus não deixa de nos amar”. O sacerdote lembrou ainda que no amor de Deus não existe reciprocidade. Já nós “vivemos muito da reciprocidade” e exemplificou: “se fazemos bem a alguém e essa pessoa não nos diz ‘obrigado’, por vezes basta isto para entendermos que não lhe faremos mais nada de bom, porque a pessoa não foi agradecida, esperamos sempre alguma recompensa, algum retorno, alguma paga, alguma reciprocidade”. É essa atitude que Jesus convida a converter, mostrando que “o importante não é a reciprocidade do bem que fazemos, não é que os outros reconheçam o bem que fazemos, o importante é que nós saibamos fazer o bem”, sublinhou o padre Carlos Cabecinhas. Sendo difícil moderar o impulso de responder na mesma moeda, quando confrontados com a maldade, o ódio e a violência, não é impossível mudar essa mentalidade. “Renunciar à vingança, a pagar o mal com o mal, e amar aqueles que nos fazem mal, que nos querem mal ou simplesmente que não nos são simpáticos é um ato de vontade, é querer, porque o amor não é apenas sentimento, é também um ato de vontade”, ressaltou. Para o padre Carlos Cabecinhas, as palavras do Evangelho são ainda mais urgentes e importantes no momento atual, pelo discurso de ódio que floresce e pela consagração da vingança como meio legítimo de repor a justiça. Salientou ainda que “Jesus desafia os cristãos a assumirem uma atitude ativa e construtiva de fazer o bem”, que se traduz em tratar os outros como gostaríamos que os outros nos tratassem. “O Evangelho desafia-nos, em cada momento, a procurarmos descobrir o que é melhor para os outros, é a regra de ouro da nossa relação com aqueles com quem vivemos ou com quem contactamos”, referiu. A este propósito, o reitor do Santuário apontou o exemplo dos Santos Pastorinhos de Fátima: “Apesar das incompreensões, das perseguições e mesmo das agressões que de foram vítimas, não se revoltaram, não procuraram responder na mesma moeda”. Em contrapartida, rezaram por aqueles que não os compreendiam e que os agrediam, perdoaram a quantos os fizeram sofrer. “Foi por isso que a Igreja os declarou santos, souberam viver esta página do Evangelho”, enfatizou. A terminar a homilia, o padre Carlos Cabecinhas pediu aos peregrinos que rezassem pelo Papa Francisco e pela melhoria do seu estado de saúde. |