01 de março, 2010
Nota Pastoral sobre a Visita do Papa Bento XVI a Portugal A visita do Papa Bento XVI a Portugal é um acontecimento de singular importância e, por isso, deve ser preparada condignamente, não apenas no brilho exterior e no ambiente festivo, mas sobretudo no horizonte da fé, da construção da unidade eclesial e de uma sociedade mais justa e fraterna. Vem até nós como peregrino e a Igreja em Portugal deverá caminhar com o sucessor de Pedro, redescobrindo no cristianismo uma experiência de sabedoria e missão. Sabedoria vivida no conhecimento das realidades terrestres, a partir de uma referência a valores, de modo que, na fidelidade à identidade cristã, sejamos capazes de dar um contributo positivo à construção de uma sociedade mais justa; missão como itinerário de uma vida que se quer mergulhada no mundo, mas diferente em opções e atitudes, e que, sobretudo pelo exemplo, anuncia Cristo e a sua boa nova. 1. PREPARAÇÃO ADEQUADA Há uma feliz coincidência entre o tempo que antecede a visita do Santo Padre e a vivência litúrgica da Quaresma e do Tempo Pascal. 1.1. Na Quaresma, será importante reflectir e responder aos desafios da mensagem preparada pelo Papa Bento XVI: “A justiça de Deus está manifestada mediante a fé em Jesus Cristo” (cf. Rm 3, 21-22). Destacamos três pensamentos: – A justiça será possível na medida em que se der ao homem o que ele verdadeiramente requer: Deus. Isto acontecerá através do testemunho de comunidades que se deixaram converter pelas interpelações de um anúncio fiel do Evangelho. – Comprometer-se com a justiça exige trabalho interior para afastar uma “força de gravidade estranha” que permanentemente nos impele para o egocentrismo, a afirmação pessoal e o individualismo. Só vivendo em conversão permanente, a Igreja poderá apresentar se com credibilidade, num mundo em que se pretende impor o relativismo e o indiferentismo. – Ser justo implica assumir uma dinâmica libertadora do pobre, do oprimido, do estrangeiro, da viúva, do órfão... “O cristão é levado a contribuir para a formação de sociedades justas, onde todos recebem o necessário para viver, segundo a própria dignidade de pessoa humana, e onde a justiça é vivificada pelo amor”. 1.2. A Páscoa pode e deve tornar-se tempo favorável para mostrar ao mundo um “rosto de gente salva”, feliz, porque infinitamente amada por Deus. É importante que Cristo actue em nós, nos redima, nos transforme a mente e o coração, nos liberte do mal. Só assim seremos verdadeiros rostos de Cristo no mundo onde Ele nos envia e aí assumiremos o estatuto de apóstolos corajosos que concretizam uma necessária e urgente comunicação de Cristo nos ambientes do agir quotidiano: política e saúde, indústria e comércio, agricultura e pescas, educação e ensino, trabalho e lazer. O dinamismo da Páscoa de Cristo precisa de encarnar em atitudes e gestos de esperança perseverante e de amor criativo. 2. ACOLHER A MENSAGEM A visita do Papa não é apenas a Lisboa, a Fátima e ao Porto, mas a todo o Portugal, a todos os portugueses e também aos nossos irmãos imigrantes que trabalham e convivem connosco. O Papa a todos quer saudar, independentemente do seu credo ou da sua ideologia. Assim, a nossa presença nos diversos momentos e lugares do programa da visita, testemunhará o amor ao Papa e a vontade explícita de aceitar as suas propostas. Para facilitar a comunicação, foi criado um site oficial – www.bentoxviportugal.pt – onde é possível encontrar as mais variadas informações, de modo a dinamizar a preparação, a realização e a continuidade da visita. 3. CONTINUIDADE E COMPROMISSOS A nossa tradição cristã está marcada pelo respeito, apreço e fidelidade à Igreja de Roma. A cátedra de Pedro e dos seus sucessores, como recorda S. Inácio de Antioquia, é «a que preside na caridade», entre todas as Igrejas locais. Preparar a visita do Papa Bento XVI e acolher os seus desafios deverá desenvolver em nós os dinamismos seguintes: – Reavivar a nossa fé através de um encontro mais consciente com a Palavra de Deus, dando às nossas comunidades um rosto missionário. – Dinamizar a nossa esperança, para podermos abrir caminhos de solução às dificuldades e crises que a nossa sociedade atravessa. – Revigorar a nossa caridade, dando maior consistência aos inúmeros espaços de solidariedade e acção social, como resposta aos dramas da sociedade, particularmente as novas formas de pobreza. – Fortalecer a nossa unidade através de um projecto de pastoral comum, acolhido por todas as comunidades, com o intuito de poder responder às alterações civilizacionais em que vivemos. 4. ACÇÕES CONCRETAS A PROMOVER Confiando na criatividade das Dioceses e Paróquias, Congregações e Movimentos, apresentamos algumas sugestões para a preparação da visita de Sua Santidade o Papa Bento XVI: – Colocar esta visita nas intenções da oração pessoal e comunitária. – Aproveitar as acções de formação que a Igreja costuma promover (Retiros, Cursos, Encontros, Palestras, Publicações) para abordar temas relacionados com o Papa: Igrejas particulares e Igreja universal; Missão do Bispo de Roma e Pastor da Igreja universal; Catolicidade e diversidade, obediência e liberdade na Igreja; Temas fundamentais do magistério do Papa Bento XVI, etc. – Promover e facilitar a participação nas celebrações eucarísticas presididas pelo Santo Padre em Portugal (Lisboa, Fátima e Porto) e noutros encontros de sectores. Queremos apelar a todos, para que não deixem que esta visita do Santo Padre se esgote num mero acontecimento passageiro, porventura muito participado e festivo, mas que seja antes uma semente que germine e dê frutos de renovação espiritual, apostólica e social. Fátima, 1 de Março de 2010 Conferência Episcopal Portuguesa |