09 de junho, 2008

Artigo de Mons. Luciano Guerra, Reitor do Santuário de Fátima (cessou funções em Setembro 2008), publicado na Voz da Fátima, edição de 13 de Junho de 2008:
No centenário do Francisco
O Beato Francisco Marto tinha oito anos em 13 de Maio de 1917. Nascera em 11 de Junho de 1908. Teria portanto completado cem anos anteontem, 11 de Junho de 2008. É normal que lhe dediquemos alguns dos nossos pensamentos e orações. 
Por desígnio da Providência, esta criança veio a ter na Igreja e no mundo um papel muito importante, juntamente com sua irmã Jacinta, e sua prima Lúcia.
Só pouco a pouco tomámos conhecimento de alguns traços característicos do seu temperamento e carácter, graças sobretudo à Quarta Memória de sua prima Lúcia, e a outros testemunhos recolhidos por especialistas, como o P. João de Marchi, dos Missionários da Consolata. Como qualquer criança, rapaz ou rapariga, o Francisco tinha os seus dons maiores como também as suas deficiências. Recebeu uma educação familiar, como todas as crianças recebem, assimilando sem crítica o que casava com a sua natureza, e rejeitando o que não conseguia aceitar. A Igreja foi para ele, como para todos os seus filhos, um segundo berço; a mãe Olímpia iniciou-o na oração, e em família alargada cumpria o preceito da Missa dominical. Rezava-se diariamente em sua casa, e iniciava-se a catequese paroquial que permitiria, aí pelos 10 anos, receber os sacramentos da confissão, da comunhão e do crisma. Como outras crianças da sua aldeia, o Francisco começou cedo a trabalhar, pastoreando o rebanho de seus pais (umas vinte a trinta ovelhas). Por dificuldade ou menos interesse de seus pais, não iniciou aos sete anos a frequência da escola, que funcionava perto, na sede da freguesia.
Francisco era um ano e nove meses mais velho que sua irmã Jacinta, a quem dedicava uma grande afeição, e de quem se tornaria companheiro inseparável e zeloso, desde que ambos, com a prima Lúcia, saíram pela primeira vez a pastorear o rebanho, pela Primavera de 1916.
Era criança de poucas falas, inclinado a sentenças raras mas convictas, e também o não prendiam muito os divertimentos, nem as festitas de crianças, que a prima Lúcia organizava, nem os jogos do botão, que às vezes punham sua irmãzita a tocar o burrinho. Mas gostava de tocar pífaro, para a irmã e a prima dançarem, enquanto as ovelhas pastavam pela serra. Era desprendido das pequenas recordações que faziam a vaidade das outras crianças. Em suma, um temperamento tão mole que a Lúcia, se não fosse pela companhia da Jacinta, até o teria deixado sozinho com as ovelhas. Mas em pequenas contendas de grupo até chegou a atirar pedras a garotos de outros lugares da freguesia, dando largas aos sentimentos de rivalidade, tão próprios de todos os vizinhos: das aldeias, das cidades, das nações e dos continentes. Esse episódio das pedras recordou-lho a Jacinta, ao responder a um seu pedidos eu, para que lhe ajudasse a fazer o exame de consciência, na véspera da sua primeira confissão e primeira comunhão, que seria também a véspera da sua passagem para o Céu, em 4 de Abril de 1919.
O zagalete das aparições de Fátima acreditava no que a prima dizia ter ouvido. Fazia as orações e impunha-se os sacrifícios, tal como as suas companheiras faziam, em resposta às mensagens do Alto. Mas não lhe foi nunca dado ouvir, nem o Anjo nem Nossa Senhora. E não é que lhe faltasse interesse. O que soube, soube-o por comunicação espontânea de Lúcia, ou em resposta às suas várias interrogações.
Foi assim porque não era necessário? Foi assim porque Deus tinha motivos arcanos para isso. Talvez porque ao Francisco tivesse dado um olhar especialmente atento e penetrante. Não ouvindo mas vendo muito longe e muito fundo, o Francisco foi agraciado pela vista. Ao ponto de mais depressa que as suas companheiras ter conseguido ver o essencial.
Que é afinal Deus! Francisco respondeu um dia à prima, com simplicidade, que viu Nosso Senhor «naquela luz que Nossa Senhora nos metia no peito».
Vale a pena determo-nos durante um ano inteiro neste mistério da luz que deu tamanha felicidade a uma criança «surda».
P. Luciano Guerra.
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