27 de março, 2018

Irmã Lúcia, D. Serafim e João Paulo II

 

Nascimento da Ir. Lúcia é evocado esta quarta-feira em Fátima

A vidente das aparições, que difundiu a mensagem de Fátima, nasceu há 111 anos

 

O Santuário de Fátima, onde estão sepultados os restos mortais da Ir. Lúcia de Jesus, desde 19 de fevereiro de 2006, assinala esta quarta feira a data de aniversário de nascimento da vidente das Aparições de 1917.

Nascida a 28 de março de 1907, em Aljustrel, como os seus primos, batizada dois dias depois, Lúcia recebe a Primeira Comunhão em 30 de maio de 1913, por mediação do Pe. Cruz – de acordo com a documentação conhecida –, impressionado com os seus conhecimentos catequéticos.

Nas suas Memórias, Lúcia relata que em 1915 teve pela primeira vez visões de uma espécie de nuvem, com forma humana, por três ocasiões diferentes, quando estava com outras amigas. Mas é no ano seguinte, 1916, que juntamente com os primos Francisco e Jacinta Marto, recebe as aparições do Anjo da Paz, como se apresentou.

Um ano depois, a partir da primeira Aparição de Nossa Senhora, em 13 de maio de 1917, a vida de Lúcia, Francisco e Jacinta Marto- transformou-se completamente: não só porque acolheram os pedidos da Senhora mais brilhante que o Sol, recitando diariamente o terço, fazendo sacrifícios, alguns dolorosos, pelos pecadores e comparecendo durante seis meses, ao dia 13, naquele local, mas sobretudo porque passam a ser constantemente interrogados sobre o que viram e acusados de mentirem e de inventarem tudo.

Início da vida retirada do mundo

Recolhida no Asilo de Vilar, no Porto, depois da última Aparição (ocorrida a 13 de outubro de 1917), a conselho do bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, Lúcia de Jesus começa uma vida retirada do mundo que a irá levar ao postulantado das Irmãs Doroteias, em Espanha, aos 15 anos de idade, e, mais tarde, à clausura do Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, onde permaneceu desde 17 de maio de 1946 até à sua morte, a 13 de fevereiro de 2005.

Ainda em Vilar escreve, em 5 de janeiro de 1922, o primeiro relato das Aparições e dois anos e meio depois, a 8 de julho de 1924, responde, no Porto, ao interrogatório oficial da Comissão Canónica Diocesana sobre os acontecimentos de Fátima.

Na sequência do trabalho da Comissão, o bispo de Leiria publicou, a 13 de outubro de 1930, 13 anos depois das Aparições, uma Carta Pastoral sobre o culto de Nossa Senhora da Fátima, considerando “dignas de crédito as visões das crianças na Cova da Iria, freguesia de Fátima [...], nos dias 13 de maio a outubro de 1917”.

A missão de Lúcia, que ao contrário dos primos viveu uma vida longa,  consistiu em divulgar a devoção ao Coração Imaculado de Maria, como resulta da descrição que a própria faz nas suas Memórias a propósito da segunda aparição, em junho. Em virtude desta missão que lhe foi confiada recebeu ainda outras visitas de Nossa Senhora, assim como grandes graças místicas que a ajudaram a percorrer o seu caminho com fidelidade.

Ingressou na Congregação de Santa Doroteia, em Espanha, em 1925, onde se deram as aparições de Tuy e Pontevedra, as aparições da Santíssima Trindade, de Nossa Senhora e do Menino Jesus.

Desejando uma vida de maior recolhimento para responder à mensagem que a Senhora lhe tinha confiado, entrou no Carmelo de Coimbra, em 1948, onde se entregou mais profundamente à oração e ao sacrifício. Aqui tomou o nome de Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado.

Uma vida cheia e marcada por vários escritos

Lúcia deixou numerosos escritos, de que se salientam as Memórias, divididas em seis partes, escritas a pedido quer do bispo de Leiria quer, mais tarde, do reitor do Santuário, Mons. Luciano Guerra (as duas últimas).

As seis partes das Memórias, redigidas entre dezembro de 1935 e março de 1992, incluem o relato das Aparições, tanto do Anjo de Portugal como da Senhora do Rosário (2.ª e 4.ª), e evocações de Jacinta (1.ª), de Francisco (4.ª), do pai (5.ª) e da mãe (6.ª).

A 3.ª Memória, datada de agosto de 1941, integra as duas primeiras de três partes do conteúdo reservado da Mensagem de Fátima que passou a ser conhecido como o Segredo de Fátima: a visão do Inferno e o pedido de devoção ao Imaculado Coração de Maria e de consagração da Rússia.

A terceira e última parte do Segredo é incluída na 4.ª Memória e refere-se à luta dos “sistemas ateus contra a Igreja e os cristãos e descreve o sofrimento imane das testemunhas da fé do último século do segundo milénio. É uma Via-Sacra sem fim, guiada pelos Papas do século XX”, conforme anunciou em Fátima, em 13 de maio de 2000, o cardeal Angelo Sodano, Secretário de Estado do Vaticano.

Em carta dirigida ao Papa Pio XII, em 2 de dezembro de 1940, Lúcia pede insistentemente que seja atendido o pedido de Nossa Senhora, reafirmado em Aparições posteriores em Espanha, para que fosse proclamada a devoção ao Imaculado Coração de Maria e a consagração do mundo, e em especial da Rússia, ao Coração de Maria. Consagração que Pio XII acabou por fazer, a 31 de outubro de 1942, em Roma, renovando-a no mesmo local a 8 de dezembro.

Paulo VI (21 de novembro de 1964), João Paulo II (7 de junho de 1981, 8 de Dezembro de 1981, 13 de maio de 1982, 16 de Outubro de 1983, 25 de março de 1984 – em comunhão com todos os bispos do mundo – e 13 de maio de 1991) e Francisco (13 de Outubro de 2013) também renovaram a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria.

A relação com os Papas

Da sua vida resulta uma extensíssima coleção de escritos, entre cartas pessoais, familiares, e oficiais, sobretudo aquela que resulta da correspondência com Papas, com quem Lúcia acabou por encontrar-se pessoalmente à exceção de Bento XV e Pio XII.

O primeiro contacto direto com um Sumo Pontífice ocorreu em 1967, quando se deslocou a Fátima para se encontrar com Paulo VI, a pedido do próprio Papa, durante as celebrações do Cinquentenário das Aparições.

A imagem do sucessor de Pedro ao lado da única vidente de Fátima viva correu mundo e constituiu, para muitos, a primeira vez para ver Lúcia.

Com João Paulo I não houve um contacto direto durante o seu curto pontificado, mas a Irmã Lúcia recebera o então cardeal Albino Luciani, futuro Papa, no Carmelo de Coimbra, depois de uma visita do Patriarca de Veneza a Fátima. A conversa foi prolongada, mas não há registo dos assuntos abordados.

Os contactos mais frequentes foram com João Paulo II, depois do atentado em Roma, durante as visitas que o Papa efetuou a Fátima (em 1982, 1991 e 2000). A última visita assumiu um caráter especial para a Irmã Lúcia, pois ocorreu a propósito da beatificação dos seus primos Francisco e Jacinta, os outros dois pastorinhos de Fátima, e foi a altura escolhida pelo Papa para anunciar a terceira e última parte do Segredo de Fátima, referente, na interpretação do Pontífice, à predição do atentado que sofrera em 1981.

Processo de beatificação antecipado

A Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, nome que adotou quando professou os seus votos perpétuos, em 31 de maio de 1949, morreu a 13 de fevereiro de 2005 e foi sepultada no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, sendo os seus restos mortais trasladados para a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima a 19 de fevereiro de 2006, ficando ao lado de sua prima Jacinta.

Três anos após a morte de Lúcia, em 3 de fevereiro de 2008, o cardeal José Saraiva Martins, então Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, anuncia, no Carmelo de Coimbra, que o Papa Bento XVI tinha acedido aos pedidos do bispo de Coimbra, D. Albino Cleto, e de numerosos fiéis em todo o mundo, para que fosse dispensado o período canónico de espera de cinco anos para abertura do processo de beatificação da vidente, autorizando a sua antecipação.

A fase diocesana do processo foi aberta por D. Albino Cleto, em 30 de abril de 2008, e a sua conclusão foi anunciada em 13 de janeiro de 2017. A sessão solene de encerramento do processo decorreu a 13 de fevereiro de 2017, nove anos depois do seu início e 12 anos após a morte da vidente.

Um longo período que se justificou, segundo a Ir.ª Ângela Coelho, vice-postuladora da Causa de Canonização da Irmã Lúcia, pela necessidade de analisar a numerosa documentação sobre a vidente, grande parte da qual existente no Vaticano, e de recolher os testemunhos acerca da sua fama de santidade e das suas virtudes heróicas, culminando num volumoso processo de 15 mil páginas que passa, agora, por uma  fase romana de análise, sob competência da Congregação para as Causas dos Santos.

“Neste momento, aguardamos a validade jurídica do processo. A fase seguinte, que será inevitavelmente longa, reside na preparação da Positio sobre a vida, virtudes e fama de santidade da Irmã Lúcia” disse.

O processo é, por isso, complexo do ponto de vista canónico apesar de, aos olhos do povo de Deus, a Ir. Lúcia gozar de fama de santidade.

“Chegam até nós testemunhos de graças concedidas por sua intercessão, desde graças espirituais, conversões e alguns relatos de curas obtidas por sua intercessão” refere a vice-postuladora da Causa, acrescentando:  “tal como o Papa Francisco afirmou acerca do Francisco e da Jacinta que a sua a sua santidade não é consequência das aparições, mas da fidelidade e do ardor com que corresponderam ao privilégio recebido, de poder ver a Virgem Maria, isto também se pode aplicar à Lúcia”, refere a religiosa da Aliança de Santa Maria.

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