06 de janeiro, 2009

No último dia de 2008, D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, presidiu, na Igreja da Santíssima Trindade, no Santuário de Fátima, à Eucaristia de Final de Ano, celebrada em sinal de agradecimento ao Senhor pelos benefícios concedidos durante o ano que findava.
Durante a homilia D. António Marto recordou os principais acontecimentos que marcaram a actualidade da Igreja Universal e Diocesana.
Para o Santuário de Fátima, o prelado revelou o seu "sonho": "Que, com o tempo e a seu tempo, o Santuário possa oferecer um serviço de acolhimento, aconselhamento e acompanhamento a pessoas com problemas  ou perturbações de ordem psíquico- espiritual, com uma fragilidade interior a toda a prova e que, cada vez em maior número, batem à nossa porta. E também um outro serviço de acolhimento e acompanhamento ao grupo dos “buscadores de Deus”, isto é, de pessoas que se afastaram da fé e da sua prática, que a esqueceram, mas que, neste momento, andam à procura de encontrar-se com um Deus vivo que lhes dê outro sentido à vida".
Para o mundo D. António rezou a Nossa Senhora pela paz. "Obtém-nos um novo ano de paz interior, de paz familiar e de paz social. Pedimo-la sobretudo para a terra de Jesus ensanguentada pela guerra e pela morte de tantos inocentes", rogou, no final da homilia.
HOMILIA:
No final do Ano: Gratos a Deus pelos seus dons

No final de um ano civil encontramo-nos reunidos todos juntos, em vigília, para elevar um hino de acção de graças a Deus, Senhor do tempo e da história; para dar graças pelos inúmeros dons e benefícios concedidos a cada um, à Igreja e à humanidade.
É nosso dever – para além duma necessidade do coração – louvar e agradecer Àquele que nos acompanha no tempo, sem nunca nos abandonar, que vela sobre a humanidade com o seu amor fiel e misericordioso (1ª leitura) e que nos enche com todos os dons espirituais em Cristo (2ª leitura).
O canto do Te Deum, que  hoje ressoa nas igrejas de todo o mundo, quer ser um sinal da gratidão alegre que dirigimos a Deus por todos os dons que nos ofereceu em Cristo.
Neste momento desejaria fazer memória de alguns acontecimentos da Igreja universal e diocesana pelos quais sinto o dever e a alegria de agradecer ao Senhor e com os quais Ele ilumina o nosso caminho rumo ao futuro.
1. Antes de mais, o Ano Paulino proclamado pelo Santo Padre, no bimilenário do nascimento do grande Apóstolo Paulo, para pôr toda a Igreja “um ano a caminhar com S. Paulo”, a fim de redescobrir a sua rica e bela mensagem, de enamorar-se cada vez mais de Cristo, de reavivar a sua fé e o ardor missionário. “O Ano Paulino é um ano de peregrinação não só no sentido de um caminho exterior em direcção  aos lugares paulinos, mas também e sobretudo no sentido de uma peregrinação interior, do coração, com S. Paulo, até Jesus Cristo” (Bento XVI). Quem entra em dialogo com Paulo é levado por ele ao coração da fé: ao encontro vivo com Cristo crucificado e ressuscitado, até exclamar: “Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim”. Por isso, também a Igreja em Portugal marca um grande encontro com São Paulo, numa especial peregrinação a Fátima no dia 25 de Janeiro, festa litúrgica da conversão do apóstolo a Cristo.
2. Dentro do Ano Paulino, recordamos um outro acontecimento significativo: o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, que nos chama a atenção para a Primazia da Palavra de Deus na fé e na formação dos cristãos, a tal ponto que, como diz São Jerónimo, “ignorar as Escrituras é ignorar Cristo”.
Convida-nos a tomar consciência de que Deus, na sua Palavra, se dirige pessoalmente a cada um de nós, fala ao coração de cada um. Se o nosso coração desperta e se abre o ouvido interior, então cada um pode aprender a ouvir a Palavra dirigida, propositadamente, a ele. Esta Palavra tem uma voz que é a Revelação de Deus; tem um rosto que é Jesus Cristo; tem uma casa que é a Igreja e o coração de cada um; e tem um caminho que é a missão que a leva às várias estradas da vida e do mundo, onde se faz nossa companhia e luz. De um verdadeiro amor à Palavra de Deus esperamos uma primavera de renovação espiritual da Igreja!
3. Na linha do Ano Paulino e do Sínodo sobre a Palavra de Deus insere-se o percurso pastoral da nossa Igreja Diocesana, dedicado à formação cristã em ordem à revitalização e crescimento da fé, da sua vivência espiritual e do seu testemunho, em tempos difíceis como os nossos. Para esse efeito, escrevi uma carta pastoral: “Ir ao coração da fé: formar para uma fé adulta”.
Trata-se de  “ir ao coração da fé” para descobrir a sua riqueza, a sua beleza, o seu encanto, a sua alegria e a sua força irradiante. E com a descoberta da beleza da fé, descobrir também a bondade e a beleza da vida. Por isso, a formação na fé é mais necessária que nunca em ordem a uma fé esclarecida, convicta, adulta. A ignorância religiosa é hoje o maior inimigo da fé.
Também nesta perspectiva se insere a Visita Pastoral às paróquias que este ano iniciámos e tem sido ocasião de um novo despertar da fé nas comunidades, do entusiasmo e da coragem de ser cristão e uma força criadora de comunhão.
4. Voltando-nos agora para o nosso Santuário desejaria lembrar a comemoração do centenário do nascimento do Beato Francisco Marto, exemplo de como uma criança é capaz de “ir ao coração da fé”.
Aqui queria fazer-vos uma confidência. Todos vós conheceis o meu particular afecto pelas crianças. Este meu afecto vem de Jesus no Evangelho, mas aprofundou-se e alargou o seu horizonte no contacto com a Mensagem de Nossa Senhora  em Fátima confiada a três crianças. Foi o momento de tomar consciência da importância  do papel das crianças na história da salvação e do mundo. Relativamente ao Francisco é impressionante a capacidade da experiência religiosa de Deus, o intenso amor e encanto pela beleza de Deus, a dimensão mística da fé, a coragem da fé frente às provações, a capacidade de evangelizar os outros. O centenário do seu nascimento não será um chamamento a dar  a devida importância às crianças e ao serviço que elas podem oferecer ao mundo e à Igreja?
5. Em Setembro passado assistimos à passagem de testemunho no cargo de Reitor do Santuário. Tivemos ocasião de dar graças pelos 35 anos de serviço dedicado de Mons. Luciano Guerra ao Santuário de Fátima, que culminaram, simbolicamente, com a inauguração desta belíssima Igreja da Santíssima Trindade. E dirigimos ao novo Reitor, P.e Dr. Virgílio Antunes, votos de bênção e de serviço fecundo para a nova missão. Exprimimos então o voto de que o Santuário conserve sempre um rosto e um dinamismo missionários para não se reduzir a um mero “centro de serviços religiosos”.
Hoje queria confidenciar-vos um sonho que trago comigo, a saber: que, com o tempo e a seu tempo, o Santuário possa oferecer um serviço de acolhimento, aconselhamento e acompanhamento a pessoas com problemas  ou perturbações de ordem psíquico- espiritual, com uma fragilidade interior a toda a prova e que, cada vez em maior número, batem à nossa porta. E também um outro serviço de acolhimento e acompanhamento ao grupo dos “buscadores de Deus”, isto é, de pessoas que se afastaram da fé e da sua prática, que a esqueceram, mas que, neste momento, andam à procura de encontrar-se com um Deus vivo que lhes dê outro sentido à vida.
6. Sabemos bem que nunca acabaríamos de enumerar as dons do Senhor e de captar o seu alcance de graça para a vida da Igreja e do mundo. Há tantos dons escondidos que não têm conta, nem contabilidade, nem visibilidade. É motivo para tornar mais profunda a nossa gratidão.
Muitas vezes, no escondimento querido pelas pessoas  ou imposto pelo silêncio dos meios de comunicação, quanto bem quotidiano, humilde, desinteressado, generoso que não se rende diante das dificuldades:
   Quantos gestos de vida frente a factos e a fenómenos de morte;
   Quantos gestos de caridade e de justiça frente a antigas e novas pobrezas;
   Quantas formas de comunhão fraterna e de solidariedade frente a tantas solidões;
   Quantas intervenções de diálogo e de paz frente a tensões e conflitos permanentes;
   Quantos gestos de consolação para com quem vive angustiado ou desesperado.
 
Estes gestos e tantos outros são obra do homem, fruto do seu amor para com os outros. Mas, no fundo, são sinais de amor do próprio Deus para com os homens. São dons de Deus pelos quais lhe dizemos a nossa alegre e eterna gratidão: “Nós te louvamos, ó Deus; nós te bendizemos, Senhor”!
7. Enquanto se encerra 2008 e se antevê já a aurora de 2009, peçamos à Mãe de Deus que nos obtenha o dom de uma fé adulta: uma fé semelhante à sua, uma fé límpida, genuína, humilde mas também corajosa, feita de alegria e entusiasmo por Deus, liberta de todo o fatalismo, e toda disponível a cooperar no projecto salvífico de Deus, com a certeza de que Deus não quer outra coisa que Amor e Vida verdadeira, sempre e para todos.
Obtém-nos, ó Maria, com a tua intercessão, uma fé autêntica e pura.
Obtém-nos um novo ano de paz interior, de paz familiar e de paz social. Pedimo-la sobretudo para a terra de Jesus ensanguentada pela guerra e pela morte de tantos inocentes.
Faz com que olhemos para o novo ano com os olhos da fé, da esperança e da caridade. Sê sempre louvada e bendita, ó Santa Maria, Mãe de Deus e Mãe nossa. Ámen ! Aleluia!
Abençoado Ano Novo para todos vós aqui presentes e para todos os que vos são queridos!

Fátima, 31 de Dezembro de 2008
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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