13 de fevereiro, 2024
Missa com imposição das cinzas marca início da Quaresma no Santuário de FátimaA partir desta quarta-feira, com o início da Quaresma, existirão algumas alterações nos horários
A partir desta quarta-feira, com o início da Quaresma, existirão algumas alterações nos horários do Santuário de Fátima. Amanhã, dia de jejum e abstinência em todas as missas oficiais – 7h30; 9h00; 11h00; 12h30; 15h00; 16h30; 18h30 - haverá rito da imposição das cinzas. Na Capela do Santíssimo Sacramento haverá Liturgia das horas - Laudes pelas 8h15; Hora intermédia pelas 10h15; Adoração comunitária, orientada pelos religiosos da Cova da Iria entre as 14h00 e as 15h00; Vésperas pelas 17h30. Às sextas-feiras, na Colunata, pelas 14h00 e aos domingos no Recinto de Oração pelas 14h00, Via-Sacra comunitária. Estão abertas as inscrições para o Retiro de Quaresma “Caminhar para a Páscoa. «Como eu fiz, fazei vós também»”. Este retiro, proposto pelo Departamento de Acolhimento e Pastoral no âmbito da Escola do Santuário, é um “convite a rezar a vida no seguimento dos passos de Jesus, para, na companhia de Maria, centrar a vida em Deus e deixar que Ele a transfigure à luz da Páscoa”. Realizar-se-á entre os dias 1 e 3 de março, na Casa de Retiros de Nossa Senhora do Carmo, e será orientado pelo P. Ronaldo Araújo, capelão do Santuário de Fátima, e pela Ir. Sandra Bartolomeu, snsf. O Domingo de Ramos na Paixão do Senhor inicia com a oração do Rosário às10h00, na Capelinha das Aparições, seguido da bênção de ramos, da procissão e da missa, no Recinto de Oração. Neste dia, faz-se a bênção dos ramos em todas as missas, incluindo as vespertinas. Na Quinta-feira Santa, a missa Vespertina da Ceia do Senhor tem lugar na Basílica da Santíssima Trindade. Pela noite, haverá oração comunitária na Capela da Morte de Jesus. As celebrações da Sexta-feira da Paixão do Senhor iniciam pelas 00h00 na Capelinha das Aparições, com a Via-Sacra aos Valinhos e às 15h00 a celebração da Paixão do Senhor, na Basílica da Santíssima Trindade.
A melodia do silêncio que explora uma profundidade inaudível
O silêncio na oração desempenha um papel crucial, proporcionando um espaço para a reflexão interior e a ligação com o Divino. Na quietude podemos transcender o ruído exterior, concentrando-nos na essência espiritual e permitindo que a comunicação com o sagrado ocorra de maneira mais profunda e significativa. O silêncio na oração oferece um refúgio para a mente, permitindo uma sintonia mais íntima com os nossos pensamentos mais profundos e as respostas que buscamos. Fátima tem num dos seus traços caraterísticos a contemplação e, por consequência, o silêncio inerente a este momento. O silêncio orante que se experiência no Santuário de Fátima é profundo e marcante. Os peregrinos podem fazer esta experiência do silêncio na Cova da Iria das mais variadas formas e contextos. O Papa Francisco enviou uma carta de agradecimento ao presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Manuel Clemente, onde destacou o “silêncio orante” e o “mar de luz” vivido no Santuário de Fátima durante a peregrinação internacional aniversária de maio de 2017 a que presidiu: “Vi um povo ordeiro e entusiasta, crente e sem respeitos humanos, no roteiro que me levou de Monte Real até Fátima e vice-versa; e, no Santuário de Nossa Senhora, comoveu-me a solidez da fé, a indómita esperança e a ardente caridade que anima o caminho humano e cristão daquele povo santo fiel de Deus, com destaque para o silêncio de um milhão de peregrinos unidos ao meu silêncio orante, o mar de luz feito por um milhão de velas acesas na noite de vigília, a ovação elevada por dois milhões de mãos aos novos Santos Francisco e Jacinta e o acenar de lenços brancos à Branca Senhora por um milhão de corações felizes: Mãe, nunca Vos esqueceremos!”, sublinhou na carta datada de 22 de maio de 2017. O Santo Padre veio a Portugal na condição de peregrino, e do programa constaram essencialmente momentos de oração. Quando chegou ao Santuário de Fátima, o Santo Padre fez uma oração na Capelinha das Aparições após um período de 8 minutos de silêncio. Em 2023, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, o Santo Padre Francisco fez questão de passar pelo Santuário de Fátima, e à sua espera estavam mais de 200 mil pessoas. Chegou à Capelinha das Aparições com dois ramos de flores nas mãos. Em seguida, Francisco ficou em silêncio em frente à imagem da Virgem de Fátima durante cerca de 5 minutos e ofereceu o Rosário de Ouro ao Santuário. Também S. Francisco Marto tinha no silêncio um refúgio. O silêncio é imprescindível à oração. O silêncio é uma forma de estar na fé. Na Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa por ocasião da canonização de Francisco e Jacinta Marto, o perfil espiritual de Francisco é caraterizado pelo “apelo à adoração e à contemplação”: “Sempre que podia, refugiava-se num lugar isolado para rezar sozinho, passando longas horas no silêncio da igreja paroquial, junto ao sacrário, para fazer companhia a ‘Jesus escondido’”, pode ler-se. Na sua intimidade, “Francisco entrevê um Deus entristecido face aos sofrimentos do mundo, sofre com Ele e deseja consolá-lo”. “Salienta assim que a vida de oração se alimenta pela escuta atenta do silêncio em que Deus fala”, e desse modo Francisco “deixa-se habitar pela presença indizível de Deus — ‘Eu sentia que Deus estava em mim, mas não sabia como era!’ — e é a partir dessa presença que ele acolhe os outros na sua oração”. O silêncio na vida é um meio importante de equilíbrio e clareza. Em contraste com o barulho constante do mundo moderno, encontrar momentos de quietude permite a introspeção, promovendo a compreensão interna e a tranquilidade mental. O silêncio também oferece espaço para a apreciação do presente, permitindo que as experiências se proporcionem sem interrupções. Além disso, a prática do silêncio promove a saúde mental, reduzindo o stresse e favorecendo uma sensação de serenidade, essencial para uma vida equilibrada e plena. O silêncio no Santuário de Fátima é carregado de significado espiritual e reverência. O lugar convida ao silêncio, com um ambiente propício para a contemplação, a oração pessoal. Esse silêncio é respeitado como uma forma de honrar a sacralidade do lugar, permitindo que os peregrinos vivenciem a espiritualidade de Fátima de maneira mais profunda e íntima. Ao entrar no Recinto de Oração, há um convite ao silêncio orante, pela imensidão do espaço e pela beleza do lugar. Na Capelinha das Aparições, lugar de convergência, as motivações são diversas, sempre impelidas por uma alegria imensa que muitas vezes deixa quem chega sem palavras. Na 3.ª edição do Seminário DesCodificar Fátima, o padre Carlos Cabecinhas falou da Procissão do Silêncio como algo “original de Fátima”, que resulta de um movimento funcional, que se reveste de um significado e enriquece com um convite a um silêncio orante. “O silêncio neste ato não é vazio, mas é ocupado com uma oração pessoal e íntima”. Esta procissão é “marcante pela experiência do silêncio da multidão”, algo “caraterístico de Fátima, até no dia a dia”. O Reitor recordou as visitas dos Papas a Fátima, que ficaram “profundamente marcadas pelo silêncio da multidão, por exemplo, quando o Santo Padre chegou à Capelinha e a multidão acompanhou a sua oração em silêncio. “A visita ao Santuário de Fátima é convite ao silêncio num mundo ruidoso e, por outro lado, é um grande desafio não se perder o silêncio neste lugar”, reiterou o sacerdote. Na noite de 12 de agosto de 2009, terminadas as celebrações, a Imagem de Nossa Senhora de Fátima foi levada em procissão de regresso à Capelinha das Aparições. Neste dia, a procissão do silêncio foi conduzida pelo então reitor, D. Virgílio Antunes.
“De novo estamos aqui junto a Maria, nossa mãe. O grande silêncio que agora fazemos vai levar-nos na serenidade e na calma a um encontro muito íntimo, muito próximo e muito amigo, como filhos que antes de irem dormir dialogam com a mãe e dela se despedem até à alvorada do dia seguinte. Porventura, depois de um longo período de tempo, alguns meses, um ano, talvez vários anos, voltámos a este lugar escolhido por Maria. Quem sabe o que trazemos dentro! A alegria de uma vida feliz, com trabalho, família, amigos, os meios materiais necessários para caminhar com dignidade. Na própria terra ou em terra estrangeira, a vida pode ter-nos sempre sorrido, apesar das pequenas contrariedades, comuns a todos, mas que não foram suficientes para nos fazer desanimar ou perder a confiança. Agradecemos a Deus, por intermédio de Maria, a felicidade que nos tem concedido sem que a mereçamos; a alegria de viver, puro dom da sua graça; o sucesso que a vida nos tem trazido apesar de não sermos melhores do que os outros. Esta noite de silêncio é noite de retrospetiva, é noite de gratidão, é noite de reconhecimento, é mesmo noite de felicidade, pois quem está com Deus tem as maiores e melhores razões para se sentir feliz. Agradeço-te, ó Mãe de Deus, que agora passas por mim e comigo te cruzas na tua branca imagem; digo-te obrigado muito baixinho; olho para ti e segredo-te: obrigado, ó Mãe, porque nunca me esqueceste nem permitiste que eu me esquecesse de ti. Mesmo em horas más, mesmo nas terras distantes por onde tenho andado, levei-te sempre no meu coração e sei que me apertaste sempre no teu. Diante de Nossa Senhora, queremos também, nesta noite, reconhecer que muito pó se apegou aos nossos pés: o pó das dores, das desavenças, das tristezas, do pecado. Sim, porque os nossos caminhos têm sido tão longos, tão variados, às vezes tão íngremes, tão estreitos e tão cheios de buracos. Alguns de nós chegaram aqui cansados e abatidos, com o peso dos dias e das horas. Sabemos que nesta noite encontraremos novas razões para continuar e até para mudar em tanto daquilo que nos não alegra nem preenche cá por dentro. Quanto tem sido dura a falta de amor que sentimos, como nos dói a discriminação a que fomos submetidos por não sabermos falar a mesma língua, por não termos a mesma educação, por sermos estrangeiros e pobres! Como nos temos revoltado com a exploração dos mais fracos! Como temos sofrido por ver irmãos nossos, do mesmo povo e da mesma pátria, serem tratados como malfeitores, verem negados os seus direitos de cidadãos, de pessoas livres! Trazemos marcas muito negras, ó Maria, Senhora de Fátima, e queremos agora, nesta noite silenciosa, oferecê-las a ti, porque nos amas e nos compreendes! És, nesta noite, a nossa confidente, e diante de ti abrimos o nosso coração. Renova tudo o que de bom há em nós e livra-nos de todo o mal.
Ensina-nos, ó Maria, a viver o amor fraterno sem distinções nem discriminações! Ensina-nos a ser justos com os outros! Ensina-nos a estar perto dos mais desprezados! Ensina-nos a ser sinal de contradição na terra em que vivemos: a ir ao encontro dos pobres, a acolher os desorientados, a ser uma voz amiga junto dos doentes, uma mão que se ergue os desalentados. Dá-nos, ó Maria, a graça de sermos teus filhos em todo o tempo e em todo o lugar, mesmo que o ambiente seja adverso, mesmo que nos sintamos sós”.
Em cada ano, a Quaresma oferece-se como um tempo particularmente favorável para converter o coração e a vida, centrando-os em Deus. O silêncio na Quaresma é encarado como uma prática de reflexão e interiorização, permitindo um espaço para a meditação sobre valores espirituais e o significado deste tempo. Muitas pessoas encaram a Quaresma como um período de retiro espiritual. É, na verdade, um tempo dedicado à reflexão, oração e penitência, proporcionando uma oportunidade para nos afastarmos das distrações do mundo quotidiano e de nos concentrarmos nesta jornada espiritual. O retiro durante a Quaresma pode ajudar na busca de uma conexão mais profunda com a fé e na preparação para a celebração da Páscoa. |