14 de dezembro, 2009


Deus como companhia e esperança
1. A festa do Natal, património espiritual da humanidade
O Natal é um tempo especial do ano em que o Mistério bate, particularmente, à nossa porta. Cidades e aldeias, um pouco por todo o mundo, celebram o acontecimento. Nenhuma outra festa cristã conheceu tão grande popularidade. É uma festa carregada de uma beleza e de uma riqueza humanas inigualáveis. Ela faz aflorar as aspirações e os sentimentos mais verdadeiros, profundos e nobres do coração humano e de toda a humanidade: a aproximação e comunicação entre as pessoas com votos de boas festas, a ternura e o encontro das famílias, a partilha com os mais necessitados, a fraternidade, a reconciliação e a paz entre as pessoas e entre os povos. A festa do Natal faz parte do património humano!
 
2. Deus como companhia: Deus connosco
Devemos, porém, confessar que o comércio e a publicidade se apoderaram, de algum modo, da festa. Corre-se o risco de perder o sentido profundo do Natal, de esquecer o seu primeiro protagonista que, por vezes, é o grande ausente. Por isso, é sempre necessário um chamamento ao essencial, ao coração da fé.
A festa cristã de 25 de Dezembro faz memória do nascimento de um Menino. Milhões e milhões de pessoas reconhecem nele o próprio Filho de Deus, “Deus de Deus, Luz da luz”. No Natal celebramos esta vinda de Deus ao coração do nosso mundo: Deus tão humano como nós e, em certos aspectos, ainda mais humano.
O acontecimento é único, inaudito, inconcebível, inimaginável: Deus ao nível do homem para elevar o homem à altura de Deus. Por isso, o Natal cristão é, antes de mais, a festa da generosidade superabundante de Deus. É o próprio Deus que se dá a nós, Deus connosco e para o mundo.
Ele veio e continua a vir, na história da humanidade, a bater à porta de cada homem e de cada mulher de boa vontade para trazer às pessoas, às famílias e aos povos o dom da fraternidade, da concórdia e da paz.
 
3.    Um Natal diferente: para novos modos de vida
A mensagem do Natal é sempre nova como são novos os problemas do mundo e as circunstâncias da vida em cada ano. No firmamento dos últimos dias deste ano 2009 pairam, sobre o mundo e o nosso país, nuvens negras, densas e ameaçadoras: os reflexos da crise económico-financeira, o desemprego crescente, as novas situações de pobreza, o cancro tentacular da corrupção, a quebra de confiança na justiça, a gripe A, as alterações climáticas que ameaçam o nosso planeta... Acrescem ainda os problemas que vivemos nos diferentes momentos do nosso caminho pessoal e familiar. Vamos tomando consciência de que “a sociedade cada vez mais globalizada torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos”(Bento XVI, O amor na verdade, n. 19).
Neste contexto, a mensagem de fraternidade e de paz que Cristo traz ao mundo chama-nos a viver um Natal diferente. Chama-nos, concretamente, a um suplemento especial de fraternidade e partilha para nos fazer próximos e ajudar as pessoas e famílias em dificuldade; a novos modos de vida marcados por novas formas de solidariedade e por uma santa e saudável sobriedade, como estilo de vida ordenado, equilibrado, atento ao essencial e  fora de todo o tipo de excesso no consumo, no endividamento, na escravidão da moda, na ostentação da grandeza e da riqueza, no supérfluo. Sem fraternidade, solidariedade e sobriedade não haverá futuro.
Peçamos pois ao Senhor: Dá-nos, Senhor, neste Natal um coração novo, mais fraterno, solidário e sóbrio, capaz de nos fazer próximos e de partilhar de mãos largas.
Um Natal assim será Natal de esperança!
A todos os diocesanos endereço os melhores votos de santo, fraterno e solidário Natal e feliz Ano 2010!

Leiria, 8 de Dezembro de 2009.

+ António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
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