24 de junho, 2016

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Mensagem de Fátima “faz ecoar o evangelho da vida” para além do contexto de destruição e “cultura de morte”

Simpósio Teológico Pastoral “Eu vim para que tenham vida” arrancou hoje em Fátima
 

O bispo de Leiria-Fátima alertou para a existência de “uma nova e tremenda cultura de morte” na Europa a que a Igreja tem de contrapor uma “mensagem de vida e de esperança”, na sessão de abertura do Simpósio Teológico-Pastoral “Eu vim para que tenham vida” que arrancou esta manhã no salão do Bom Pastor, no Centro Pastoral de Paulo VI, em Fátima.

Citando Albert Camus a propósito do enigma da Europa, que consiste no fato de já não amar a vida, D. António Marto afirmou que “setenta e um anos depois, para surpresa nossa, estamos na presença de uma nova e tremenda cultura de morte”.

Para o prelado diocesano o Ocidente atravessa “uma situação de viragem epocal onde se cruzam três crises gravíssimas – antropológico-cultural, ético-espiritual, socioeconómica e política global – que tem provocada uma cultura do desencanto, do vazio interior que leva à perda da confiança na vida e na bondade da vida; uma cultura de desconstrução de valores humanos e morais; uma cultura da indiferença e do descartável face aos mais frágeis”.

Uma situação que no entender do bispo de Leiria-Fátima faz com que “neste ambiente cultural dominante, a vida humana caia na escala de valores até ao ponto de se pôr a liberdade do indivíduo contra a própria vida humana sujeita à lógica do mais capaz, mais são, mais forte e competitivo”.

É , neste contexto, que a mensagem de Fátima “ressoa a sua  atualidade” uma vez que Nossa Senhora se manifesta como  “advogada da vida humana, do seu sentido e do seu cuidado”, salienta o prelado.  Desde logo, porque “anuncia a misericórdia de Deus como única força capaz de pôr limite à força do mal devastador da vida das pessoas e dos povos e, por conseguinte, como defensor da dignidade da pessoa e dos direitos humanos”.

A este propósito D. António Marto fala da importância do amor “que dá sentido à vida, que garante a confiança na vida e na bondade da vida”.

“À luz da fé, todos e cada um somos amados, esperados, necessários. O Senhor espera-nos. Não só nos espera, mas está presente e estende-nos a mão para viver a vida verdadeira e abundante em comunhão com o seu infinito amor. Que foi Fátima senão este estender a mão à humanidade através de Maria?”, questiona afirmativamente D. António Marto.

O Bispo de Leiria-Fátima sublinhou, por outro lado, outro aspeto da valorização da vida na mensagem de Fátima que aponta para uma cultura do cuidado em relação aos mais frágeis, vulneráveis, sofredores.

“Hoje vivemos um tempo pobre de amizade social. São inúmeras as vítimas da indiferença, da solidão, da marginalização, do abandono, da eutanásia social e cultural (antes da física), que nos interpelam particularmente como cristãos a  ser guardiães da vida: acolher, proteger, guardar, cuidar e curar. Aqui se decide se somos uma sociedade verdadeiramente humana ou desumana”, adianta o prelado.

D. António Marto, em sintonia com o papa Francisco, desafia a Igreja a ser, assim, um  “oásis de misericórdia”, cuidando de todos, em especial dos mais frágeis.

“As relações humanas calorosas de presença, de proximidade física e do coração, de atenção e solidariedade são uma questão de ecologia da vida humana” disse.

“A mensagem de Fátima faz ecoar o Evangelho da vida, ilumina o sentido e o caminho do homem peregrino, convida-nos a refletir sobre a vida humana nas três perspetivas  escolhidas para este simpósio (vida recebida, celebrada e doada) e interpela a Igreja na sua missão ao serviço da plenitude da vida”, concluiu o prelado.

Na sessão de abertura deste Simpósio, o presidente da Comissão Científica, José Eduardo Borges de Pinho, destacou a preocupação por estas três dimensões da vida, no que “a visão cristã da vida e a prática cristã coerente têm de valioso, de realizador da pessoa, de projecto de existência com sentido e de esperança que vale a pena acolher”.

“Na verdade a experiência cristã tematiza, aprofunda e ilumina o que basicamente se sente e experimenta: a vida que de muitos modos nos é dada, a vida que somos convidados a celebrar e a vida que se realiza na medida em, que nos abrimos aos outros e às suas necessidades”, disse ainda o teólogo.

“Todos sabemos que há vidas falhadas, perdidas e sem grande esperança, mas mesmo aí só é possível alguma mudança se valorizarmos o dom que a vida representa , encontrando a fonte que nos permite renascer e potenciado dons e possibilidades recebidas”, concluiu.

Já o reitor do Santuário de Fátima, que deu as boas vindas aos participantes sublinhando que a realização deste Simpósio “não é um acto isolado na vida do Santuário” mas que juntamente com o ciclo de conferências sobre o tema do ano nas suas diferentes dimensões, realizado entre dezembro e abril, ou o recente Congresso Eucarístico destacam que o “Centenário não só é oportunidade mas também  desafio para o sempre necessário aprofundamento teológico de Fátima, da sua mensagem e das suas implicações”.

O Santuário de Fátima promove entre hoje e domingo o simpósio teológico-pastoral “Eu vim para que tenham vida”, integrado na preparação do centenário das aparições (1917-2017).

Ao longo dos próximos três dias a vida é refletida como um “dom” cuja preservação é não só uma responsabilidade “humana” mas também uma “exigência evangélica”.

Destaque para a participação de oradores conceituados da Teologia e das Ciências Sociais e Humanas, do plano nacional e internacional, como o cardeal Sean O’Malley, arcebispo de Boston, nos Estados Unidos da América, e coordenador da Comissão para a Proteção dos Menores do Vaticano, ou a teóloga italiana Cettina Militello.

Os trabalhos decorrerão no salão do Bom-Pastor, no Centro Paulo VI, em Fátima, sob três perspetivas: a vida “recebida, celebrada e doada”.

O Simpósio Teológico-Pastoral conta com o apoio da Rádio Renascença.

TEXTO COMPLETO DE D. ANTÓNIO MARTO

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