20 de junho, 2009
A partir então do texto Francisco Marto tentou-se aurir os ensinamentos de pedagogia e de humanização na experiência do pequeno vidente, sempre com o pressuposto que a infância não é uma adultez diminuída nem meramente uma faixa etária, mas um estado de espírito, uma juventude de alma, aquilo que nos constitui. Neste momento, foram confrontados dois grandes modelos pedagógicos: o primeiro inspirado no iluminismo kantiano do dever e o segundo em Rousseau. Foi declaradamente preferido o segundo devido à imagem positiva que dá da criança por aí ser ela mesma portadora de humanidade, enquanto a primeira perspectiva foi criticada devido à noção de inocência que lhe está por trás e que marca negativamente os modelos de desenvolvimento da infância ou das crianças no seu conjunto. Este modelo iluminista tudo submete ao tribunal da razão, onde naturalmente as crianças reprovam sendo por isso consideradas não livres. Nesse modelo só o adulto é livre porque só esse acede à humanização porque só ele manipula a razão que a tal permite. Daqui decorre uma ênfase kantiana exagerada na disciplina, no adestramento da criança para a obrigar a ser o que um adulto é e segundo os modelos adultos. O segundo modelo foi privilegiado porque aí a criança é mais respeitada como alguém que sabe de uma certa maneira, à sua maneira. No entanto, não foi suficientemente explorada a relação entre espiritualidade e pedagogia. No caso do Francisco, se ele não teve tempo de ver a sua intimidade da infância aberta ao mundo pela educação, se esta segunda fase da vivência da infância do Francisco chegou à dita espiritualidade (sendo por aí que Francisco é aberto ao mundo), então será possível que a própria linguagem religiosa seja espaço de transcendência na medida em que a experiência religiosa do Francisco prende-o e apreendo-o, ou seja, educa-o ao melhor de si mesmo. De seguida, o congresso ofereceu exemplos concretos de uma comunidade paroquial onde pedagogicamente se tenta ajudar as novas gerações ao contacto vivencial desta linguagem e experiência religiosas. Num evidente esforço pedagógico, aí são oferecidas várias estratégias para que as crianças não sejam objecto do rito mas sujeitos activos do mesmo. Isto é realizado incrementando as experiências sensoriais, narrativas, performativas e comunitárias como meios de integração e de iniciação à fé cristã. A dimensão ética deste processo partiu de seguida da constituição radical do eu no encontro buberiano com o tu, cuja diferença constitui a identidade do eu. Esta faceta filosófica da identidade relativa ficou por explorar. Dr. José Carlos Carvalho, UCP |