08 de setembro, 2016

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«Lúcia viu a sua tarefa não como a de uma autora mas sim como a de uma testemunha privilegiada», afirma Cristina Sobral 

A investigadora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa apresentou um Estudo Crítico das Memórias da vidente de Fátima
 

Cristina Sobral, docente e investigadora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, no âmbito do 24º Congresso Mariológico Mariano Internacional, apresentou um estudo crítico das Memórias da Irmã Lúcia.

"As Memórias são constituídas por um conjunto de 6 textos escritos como unidades autónomas embora fortemente relacionadas, com datas diferentes mas compreendidas em dois períodos da vida da autora", expôs a investigadora.

Cristina Sobral explicou que os primeiros quatro textos das Memórias foram escritos em Tuy entre 1935 e 1941 e foram publicados na íntegra pela primeira vez em 1973, mas parcialmente já tinham sido tornados publicos em 1938. As duas últimas memórias são escritas entre 1989 e 1993 no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra. A partir de 1976, a Irmã Lúcia assistiu à publicação de todas as suas Memórias. Atualmente este livro vai na sua 17º edição.

"Lúcia escreve por obediência e caridade e não por gosto. Lúcia escreveu sem saber que destino iam ter os seus textos. Lúcia fez uma entrega total da sua obra, não guardou cópia para si", afirmou a docente da Universidade de Lisboa.

"É evidente que ao longo do processo de escrita e de divulgação do conteúdo das quatro primeiras memórias, Lúcia viu a sua tarefa não como a de uma autora mas sim como a de uma informante, testemunha privilegiada que estava em condições de contar o que mais ninguém podia contar e que entregava essas narrativas nas mãos de quem poderia encontrar a melhor maneira de divulga-las".

Apresentada esta manhã, a Edição Crítica das Memórias da Irmã Lúcia, "oferece uma leitura conservadora da escrita de Lúcia, das suas características linguísticas e gráficas importantes sobretudo quando ela deixa registados no papel traços de língua e de grafia não padronizados. Oferece-se, assim, material de estudo a linguistas, a historiadores da cultura, a sociólogos, a estudiosos do fenómeno Fátima e a estudiosos do contacto entre os diversos universos culturais". 

A docente e investigadora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, curadora da obra, adianta que entre as novidades se conta a publicação do texto de um questionário de 315 perguntas enviadas pelo Santuário de Fátima à religiosa e a divulgação da chamada “quinta memória” numa versão que “não estava publicada”, com “variantes”, a partir do manuscrito que estava no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra.

"Não quer dizer que sejam coisas de grande dimensão, que alterem a Mensagem de Fátima. Não vale a pena esperar isso, são pequenas coisas que podem ter imenso interesse para os estudiosos da escrita e para os estudiosos da cultura”, assinala.

Estes pormenores mostram o universo mais íntimo da vidente, dos seus tempos de criança no ambiente rural da Cova da Iria, no início do século XX.

Ao contrário das outras edições das “Memórias”, em que “muitas coisas de sintaxe, marcas do discurso oral, aspetos de expressividade do discurso da Lúcia desapareceram”, neste caso optou-se por seguir mais a estrutura dos manuscritos originais, corrigindo apenas “os erros que são lapsos da Lúcia, que ela própria teria corrigido, caso se tivesse apercebido deles”.

A obra estará à venda na Livraria do Santuário de Fátima.

 

 

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