13 de fevereiro, 2009
EXPOSIÇÃO KAROL WOJTYLA, A FÉ, O CAMINHO, A AMIZADE. EXCURSÕES COM OS AMIGOS (1952-1954) Comunicação do Director do Serviço de Estudos e Difusão do Santuário, Padre Luciano Cristino: Nas últimas palavras do seu testamento, escritas em polaco a 17 de Março de 2000, o Papa João Paulo II recordava: “À medida que se aproxima o limite da minha vida terrena, volto, com a memória ao início, aos meus Pais, ao Irmão e à Irmã (que não conheci, porque morreu antes do meu nascimento), à paróquia de Wadovice, onde fui baptizado, àquela cidade do meu amor, aos coetâneos, companheiras e companheiros da escola elementar, do ginásio, da universidade, até aos tempos da ocupação, quando trabalhei como operário, e, em seguida, à paróquia de Niegowi, à paróquia de S. Floriano, de Cracóvia, à pastoral dos académicos, ao ambiente... a todos os ambientes... a Cracóvia e a Roma... às pessoas que, de modo especial, me foram confiadas pelo Senhor. A todos quero dizer uma só coisa: “Deus vos recompense”. “Nas Tuas mãos, Senhor, entrego o meus espírito”. (Texto original em polaco. Tradução italiana publicada no Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé, nº. 0198, de 7 de Abril de 2005. Nossa tradução portuguesa). Provavelmente, a devoção do Papa João Paulo II a Nossa Senhora de Fátima será dos tempos da sua infância e juventude, porque o povo polaco conheceu, desde muito cedo, a história e a mensagem de Nossa Senhora da Cova da Iria. Sabemos que em 1933, quando o futuro Papa tinha 13 anos, foi publicada a obra Fatima: dzieje ukazania sie Matki Boskiej w Portugalji w roku 1917 [História das Aparições de Nossa Senhora em Portugal no ano de 1917], Lwów: Wydawnictwo OO. Dominikanów, [1933] (Lwów: Drukarnia Dominikanska). E temos na Biblioteca do Santuário um artigo sobre Nossa Senhora de Fátima, da autoria do Padre Cegielka, publicado num calendário litúrgico polaco do ano de 1937, “Madonna z Fatima”, em Kalendarz Królowej Apostolów na Rok Pánski 1937, Warszawa, Stowarzyszenie Misyjne Ksiezy Pallotynow, p. 31-40) Mons. Karol Vojtyla participou nas quatro sessões do II Concílio do Vaticano, primeiro como bispo titular de Ombi e auxiliar de Cracóvia (1962 e 1963) e depois como arcebispo residencial desta diocese (1964 e 1965). Estava presente quando o Papa Paulo VI anunciou o envio da rosa de ouro ao Santuário de Fátima (21 de Novembro de 1964) e o fervoroso convite do Senhor Cardeal Cerejeira, na última sessão do Concílio, a todos os bispos do mundo, para virem ao Santuário no cinquentenário das aparições (1967). Os Bispos polacos no Concílio foram dos mais entusiastas da consagração ao Imaculado Coração de Maria, segundo o pedido de Nossa Senhora, em Fátima. O Sr. D. João Pereira Venâncio, Bispo de Leiria, que também participou nas quatro sessões do Concílio, sentando-se, na aula conciliar, muito próximo dos bispos polacos, renovou o convite aos bispos do mundo inteiro, a 13 de Junho de 1966. O já então arcebispo de Cracóvia respondeu ao Senhor D. João, em francês, a 5 de Setembro desse ano: “Excelência Reverendíssima. Agradeço-lhe muito cordialmente o convite que me enviou para tomar parte no Cinquentenário das Aparições de Fátima. Todavia, eu estou, já neste momento, quase certo, de que não me será possível ir aí. Vossa Excelência conhece a devoção do povo polaco à Virgem Santa. Sem dúvida que todos nós compartilhamos aqui os vossos sentimentos nobres e calorosos durante o vosso grande Cinquentenário. De Vossa Excelência muito dedicado em Nª. Sª. Karol Vojtyla Arcebispo” (Arquivo do Santuário e “L’Osservatore Romano”, texto escrito a 13 de Abril de 1982, ed. port., 13 (19) 9 Mai. 1982, p. 6, col. 1). Na sua primeira viagem apostólica ao México, depois de ser eleito Papa, a 16 de Outubro de 1978, João Paulo II, ao sobrevoar o território português, telegrafou ao presidente Ramalho Eanes, no dia 25 de Janeiro de 1979: “com cordiais saudações, vai o nosso pensamento para o dilecto Povo Português, auspiciando-lhe e implorando por Maria Santíssima, tão cultuada especialmente em Fátima, a contínua assistência e favores de Deus” (OR, 11 Mar. 1979, p. 2). Desde então, multiplicaram-se as referências a Fátima em alocuções e outros documentos. Numa estatística que pudemos fazer, os documentos de João Paulo II, com referências a Fátima, durante o seu pontificado, são 110. No dia 13 de Maio de 1981, celebrava-se em Fátima o 64º aniversário da primeira aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria e o 50º aniversário da primeira consagração de Portugal ao Imaculado Coração de Maria. No mês de Abril, a Assembleia Plenária do Episcopado Português tinha resolvido renovar essa consagração. Antes do Adeus, o Cardeal D. António Ribeiro leu o texto da consagração em que há uma prece pelo Papa. Nesse momento chegou de Roma um telegrama em que o Papa se afirmava presente, telegrama que foi sublinhado com efusivos aplausos da multidão. O Cardeal Ribeiro leu também uma mensagem telegráfica em que se agradecia a mensagem do Papa e se pediam a Nossa Senhora “as melhores graças e bênçãos de Deus” para o Papa (cfr. “Voz da Fátima”, 13 Jun. 1981; OR, 9 Mai. 1982, p. 7, cols. 3-4). À tarde, recebeu-se a inacreditável notícia do atentado na Praça de São Pedro. A oração foi contínua no Santuário: o Bispo de Leiria, o Núncio Apostólico, o Cardeal Joseph Hoeffner, arcebispo de Colónia, e muitos peregrinos se uniram em oração pelo Papa. Dizia o Bispo de Leiria, um ano depois: “Não podíamos deixar morrer o Santo Padre. E pela protecção de Nossa Senhora, Consoladora dos Aflitos, Saúde dos Enfermos, Mãe da Santa Esperança, o Papa não morreu” (OR, 9 Mai. 1982, p. 9, col. 1-2). Desde este dia, podemos afirmar que o pontificado do Papa João Paulo II, decorreu ao ritmo da “Senhora da Mensagem”, como ele costumava dizer. Os momentos mais significativos desse pontificado, em sintonia com a mensagem de Fátima, foram: a primeira peregrinação ao Santuário de Fátima, a 13 de Maio de 1982; a consagração do Mundo ao Imaculado Coração de Maria, na Praça de S. Pedro, na presença da Imagem de Nossa Senhora de Fátima, da Capelinha das Aparições, a 25 de Março de 1984; a segunda peregrinação, no décimo aniversário do atentado, a 13 de Maio de 1991; a terceira peregrinação com a beatificação dos pastorinhos Francisco e Jacinta, em Fátima, e o anúncio da terceira parte do segredo de 1917, a 13 de Maio do ano jubilar de 2000, e a sua revelação completa, a 20 de Junho do mesmo ano; finalmente, a nova ida da Imagem de Nossa Senhora de Fátima, na Praça de S. Pedro, no dia 8 de Outubro de 2000, quando o Papa João Paulo II consagrou a Nossa Senhora o novo milénio, na presença dos bispos do mundo inteiro. Finalmente, poucos dias antes do seu falecimento, o Papa João Paulo II teve mais uma particular atenção para com Nossa Senhora de Fátima, quando enviou uma mensagem carinhosa à Irmã Lúcia, que ainda teve oportunidade de a ler, no próprio dia em que faleceu, a 13 de Fevereiro de 2005. Quando também o Papa faleceu, menos de dois meses depois, no dia 2 de Abril, ouviu-se na Praça de S. Pedro o “Avé de Fátima”, porque todo o mundo o associou a Nossa Senhora de Fátima. A sua bela estátua, no Santuário de Fátima, é uma presença carinhosa, saudada e venerada por todos os peregrinos. P. LUCIANO CRISTINO Director do Serviço de Estudos e Difusão |