17 de maio, 2004

Santuário de Nossa Senhora de Fatima
12 de Maio de 2004 - Missa da Santíssima Eucaristia
 
HOMILIA do Cardeal Renato Raffaele Martino:
ECCLESIA DE EUCHARISTIA

Queridos Irmãos no Episcopado, caríssimos irmãos e irmãs: paz e bênção em nome de Jesus e de Maria!
Esta solene concelebração eucarística coroa um intenso dia de oração mariana. Os vários momentos deste dia, cadenciados pela nossa devoção filial a Nossa Senhora de Fátima, concluem-se significativamente com a celebração do sacrifício eucarístico. Neste dia, Maria agarrou-nos pela mão e conduziu-nos até este altar. Maria trouxe-nos à Eucaristia, porque a sua missão celestial e o seu ministério maternal consistem em fazer-nos encontrar Jesus, tornar-nos discípulos de Jesus, transformar-nos em enamorados de Jesus.
O Santo Padre João Paulo II, na sua magnifica Encíclica Ecclesia de Eucharistia, ilustrou a função salvífica de Maria de acompanhar e colocar a Igreja e os cristãos à volta do altar do sacrifício eucarístico, porque a Eucaristia constrói a Igreja e a Igreja recebe a sua vida, a sua força e o seu vigor da Eucaristia.
Na nossa peregrinação, em companhia da Senhora, para ir ao encontro de Jesus eucarístico, recebemos o sustento da Palavra de Deus que, nesta Santa Missa, chegou até nós através da narração de um dos episódios mais conhecidos do Evangelho de S. Lucas: a aparição de Cristo ressuscitado aos dois discípulos no caminho de Emaús. A questão a que 5. Lucas procura dar resposta parece ser a seguinte: onde poderei encontrar o Senhor ressuscitado e como poderei reconhecê-lo? E’ uma questão que se apresenta aos discípulos em todos os tempos. De facto, os dois discípulos são deixados pelo evangelista completamente anónimos. Cada cristão pode colocar-se no seu lugar. A questão que eles colocam é também a sua. Toda a longa narração de S. Lucas está construída tendo por base o esquema de uma viajem de ida e volta, que se transfigura num caminho interior e espiritual: da esperança perdida («esperávamos»: 24,21) à esperança reencontrada; da tristeza (24,17) à alegria (24,32); da Cruz como escândalo que impede de acreditar, à Cruz como razão para crer. A condição essencial para reconhecer o Ressuscitado — sem a qual não o reconhecemos, mesmo que Ele caminhe ao nosso lado, como um companheiro de viajem — é a compreensão da necessidade da Cruz (24,26), que por sua vez requer a inteligência das Escrituras (24,27).
A crucifixão não interrompeu o caminho de Jesus, não foi o descalabro da sua pretensão messiânica, ao contrário daquilo que os dois discípulos deixavam entender na sua narração (24,19-21). Essa era a cegueira que os impedia de acreditar. Toda a catequese que Jesus lhes faz não tem outra finalidade que não seja a de inverter completamente o seu modo de ver. Não é Jesus quem deve modificar o próprio rosto para que O possam reconhecer. Ê o modo de olhar dos discípulos que deve mudar completamente. De facto, o gesto que lhes abre os olhos é a fracção do pão (24,3 1), o gesto eucarístico, o gesto que, em relação ao passado, lhes traz à memória seja a vida de Jesus na terra, aqui resumida na recordação da ceia — vida oferecida em doação, pão partido — seja a memória da Cruz que é a consumação daquela oferta. Mas a fractio panis é também um gesto que, em relação ao futuro, conduz para o tempo da Igreja, no qual os cristãos continuarão a partir o pão, a celebrar o sacrifício eucarístico. Partir o pão e distribui-lo (24,30) é um gesto recapitulativo que retira o véu sobre a identidade permanente do Senhor: o Jesus terreno, o Jesus ressuscitado, o Senhor presente agora na comunidade. Em todas as etapas do seu caminho, Jesus conserva a mesma identidade, aquela que se revelou no seu caminho terreno e que, por isso mesmo, permanece como o ponto de referência obrigatório para o reconhecer também como Ressuscitado e Senhor. O discípulo que entender isto, não terá mais necessidade de ver: «mas Ele desapareceu da sua presença» (24,31). Uma vez reconhecido, o Senhor subtrai-se a qualquer tentativa de domínio. Mas o discípulo sabe já que a Eucaristia contém os elementos essenciais que identificam a Sua presença e o lugar onde encontrá-la.
Efectivamente, a Eucaristia é o sacramento do sacrifício de Cristo, isto é do seu corpo imolado por nós, que manifesta e realiza, pelo dom do Espírito, a comunhão da vida divina e a unidade do povo de Deus, que são os alicerces da Igreja. Na celebração eucarística a Igreja vive o momento mais alto da sua conformação a Cristo e ao seu sacrifício. O pão repartido é presença real do Senhor e presença do seu sacrifício pascal. Se alguém desejasse representar esse momento, deveria projectar um fortíssimo feixe de luz nas mãos do sacerdote quando, primeiro, seguram o pão e, depois, o cálice: gesto supremo que rasga as barreiras do espaço e do tempo, e se transforma no acto, realizado uma vez por todas, da presença do Mistério de Cristo na história.
Este gesto supremo gera a Igreja, como nos ensina João Paulo II na sua encíclica Ecclesia de Eucaristia. Efectivamente, a Igreja nasceu no dia da última Ceia; nasceu do lado de Cristo aberto na cruz; nasceu no momento em que o Mistério foi antecipado sacramentalmente na Ceia na qual Jesus deu origem ao sacerdócio. É pois aqui que a Igreja tem o seu “lugar de construção”, in qua Ecclesia fabricatur como diz S. Tomás com esta expressão tão realística, de forte impacto comunicativo: é na Eucaristia que a Igreja se constrói.
Para que possa comunicar efectivamente à Igreja a plenitude da comunhão, a Eucaristia, sacramento da unidade e do amor, exige, que seja superada toda e qualquer divisão, cuja raiz é o pecado. Na Eucaristia, Jesus faz-se para nós dom de amor, e na Eucaristia se alimenta qualquer propósito de amor. A grande lição que nos vem do sacramento da Eucaristia é a lição do amor. Jesus quer ser encontrado e servido na pessoa dos seus irmãos até ao seu regresso, “Amai-vos como eu vos amei”. “Nisto conhecemos o amor: Ele deu a Sua vida por nós; por isso também nós devemos dar a vida pelos irmãos” (1 Gv 3,16): Jesus esta presente no irmão e assume tudo o que a este fazemos como se fosse feito a ele mesmo.
O tempo da Igreja, de uma Igreja construída pela Eucaristia, é o tempo da caridade. É o tempo de encontrar o Senhor através do irmão, que se transforma em antecipação do encontro final: “No ocaso da vida seremos julgados pelo amor”, diz S. João da Cruz. É como se Jesus dissesse: “Tinha fome e deste-me de comer, tinha sede e deste-me de beber; fizeste-o a mim quando o fizeste aos meus irmãos. Enquanto esperais pela parusia, podeis canalizar directamente este vosso serviço e este vosso afecto para a minha humanidade visível”. Esta é a grandeza do tempo, mesmo do mais normal, mesmo daquele que definimos “o banal quotidiano”. Na medida em que nos abrimos ou nos fechamos ao amor, pomos em jogo a nossa salvação. Cada encontro com o nosso irmão coloca-se contemporaneamente numa dimensão cristológica (fizeste-o a mim) e numa dimensão escatológica (até que eu venha). Neste encontro não é lícita nenhuma descriminação: amigo ou inimigo, bom ou mau, simpático ou antipático, o irmão é o ícone de Cristo.
Que Nossa Senhora de Fátima nos faça capazes e dignos deste amor!
Renato Raffaele Card. Martino
Presidente do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz

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