18 de junho, 2010

FÁTIMA
IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA


 Caros irmãos no Baptismo e na fé,
 esta vigília da peregrinação aniversaria de Junho conduz-nos à contemplação do Coração Imaculado da Virgem Santa Maria, cuja memória litúrgica a Igreja celebra hoje. Na integridade desse coração, somos convidados a apreciar a beleza e a ternura do plano Criador de Deus Pai. Plano que, desde as origens, foi violado pela cedência da humanidade à tentação que a colocou contra Deus e contra o seu projecto amoroso. Por conseguinte, ao recusar-se esse plano, todos ficamos maculados e privados da bondade e da rectidão inerente a esse projecto. Todos, menos uma pessoa: precisamente Aquela que celebramos como a “cheia de graça” e de ternura, exemplo concreto da beleza, perfeição e candura do ser que vive imerso no mistério de Deus. É, obviamente, a figura de Nossa Senhora. Por isso é que o Pai, pela acção do Espírito Santo, a escolheu para, em Jesus Cristo, trazer a salvação ao mundo. Vejamos isso a partir das leituras que escutamos.
 A primeira refere-nos o caso de uma crente do Antigo Testamento, de nome Judite, que, incorruptível, não se deixou tentar pela sedução do poder e da fama que lhe oferecia o comandante do exército invasor, mas se coloca como instrumento dócil nas mãos de Deus para que Este livre o seu povo da guerra destruidora que lhe era movida. A Igreja sempre viu neste episódio e nas palavras com o que o povo cantou a acção desta mulher, como que uma prefiguração, embora pálida, de Maria Santíssima, a Mãe e defensora da Igreja, meio ou instrumento de salvação e de libertação do poder do mal e da morte sobre o mundo. Por isso, mais que a Judite, aplicam-se a Nossa Senhora as palavras da bênção escutadas: “Bendita sejas pelo Deus Altíssimo, mais do que todas as mulheres sobre a terra e bendito seja o Senhor Deus” que te criou para evitares a nossa ruína. Tu és, de facto, “a honra de Israel e o orgulho do nosso povo”.
 A segunda leitura chama-nos a atenção para um dado conhecido, mas que importa ter sempre bem presente: já que nos maculamos, para pertencermos à humanidade nova, inaugurada em Jesus Cristo e visível em Maria, Mãe da Igreja, há que fazer, continuamente, o esforço da purificação pela acção da graça divina: “Aproximai-vos de Deus e Ele se aproximará de vós. Lavai as vossas mãos, ó pecadores, e purificai os vossos corações”. Ao fim e ao cabo, não foi isto que Nossa Senhora nos veio recomendar, aqui na Cova da Iria? Falar em penitência, oração, mudança de vida, não são tudo formas de apelar à purificação do coração?
 No Evangelho, apresenta-se a «carta magna» da identidade cristã. Subjacente a cada uma das bem-aventuranças está o estilo de vida de Jesus Cristo, puro, manso, pobre, humilde…. Por isso, o bem-aventurado é o homem «cristificado», isto é, o que faz da sua vida uma existência com Cristo ou que deixa que Cristo habite a sua vida. É aquele que não se fecha sobre os bens deste mundo nem neles coloca a sua esperança, por mais úteis que eles possam ser, mas que a todos eles antepõe o amor e a primazia de Deus e dos irmãos. Bem-aventurado é o que realiza a sua existência na comunhão com o Pai, suma Bem-Aventurança e felicidade. Eis a razão pela qual esta liturgia coloca este texto evangélico na memória de Nossa Senhora: ela, mais que ninguém, fez da sua vida uma existência para Deus, a ponto de poder dizer: “Sou a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a Sua Palavra”. Mas também fez da sua vida uma não menor dádiva aos outros, pois nos doa o Bem Maior, Jesus Cristo, o Salvador.
 Ex.cia Rev.ma Senhor Bispo de Leiria-Fátima, Caríssimo D. António Marto, senhores Bispos, Presbíteros e Diáconos, caros fiéis em Cristo,
 a esta peregrinação de Junho foi atribuído como que uma palavra de ordem: “Exultai, vós todos os que sois rectos de coração” (Sl 31, 11). Segundo o Salmo 31, donde foi tirada, a exultação ou a alegria é consequência de um coração recto. Descobriu-o a sabedoria bíblica do Antigo Testamento, e referiu-o expressamente Jesus Cristo. No seu seguimento, é esta mesma pregação que a Igreja faz: que a felicidade a que todo o homem aspira mais deve ser procurada num coração bondoso, lá nesse ambiente puro que acolhe o mistério de um “Deus três vezes santo”, do que naqueles bens perecíveis, mesmo que “agradáveis à vista”, para usar a expressão da conhecida metáfora bíblica dobre o engano e a queda no pecado das origens. Estes são para usar sensatamente, como sustento da vida. Nossa e dos outros. Mas jamais –como faz o materialismo- para serem idolatrados como divindades a quem se presta culto e sacrifícios. Por vezes, sacrifícios humanos.
 Como consequência disso, a Igreja também insiste que a tão desejada construção da sociedade nova, livre, fraterna e democrática, não se faz pela força da lei ou por elementos externos, mais ou menos coercitivos, mas sim a partir de homens novos capazes de condividir sonhos de justiça que lhe nascem num coração recto. Nesta tarefa, os crentes têm de estar na linha da frente. A exemplo dos pastorinhos e, concretamente, da pequena Jacinta, cujo centenário de nascimento celebramos, os cristãos são chamados a mostrar por palavras e pela sua actuação, que só o bem, a generosidade e a grandeza do coração são capazes de edificar o bem comum nas nossas sociedades, mergulhadas em profunda crise económica, social e espiritual. Se assim fizermos, obteremos “o reconhecimento de todo o povo” (Act 2, 47), como refere o Livro dos Actos dos Apóstolos a respeito da comunidade-modelo de Jerusalém. E há precisamente um mês, a partir deste mesmo altar, assegurava-nos o nosso amado Papa Bento XVI, a propósito da partilha de bens pelos pobres e do sacrifício pela conversão dos pecadores que a Beata Jacinta fazia: “Só com este amor de fraternidade e de partilha construiremos a civilização do Amor e da Paz”.
 “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” e edificarão a sociedade nova. Parece ser esta a grande certeza que, por intermédio do Imaculado Coração de Maria, o Sagrado Coração de Jesus, cuja solenidade litúrgica ontem celebrávamos, faz chegar até aos ouvidos da nossa alma: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29). E encontrareis a verdadeira alegria e a bem-aventurança nas vossas vidas.
+ D. Manuel Linda
Fátima, 12 de Junho de 2010
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