07 de setembro, 2008

“Evangelizar é anunciar o amor”
 
Homilia no Encerramento do
 Congresso Missionário Nacional
Santuário de Fátima, 7 de Setembro de 2008
 
1. Com esta celebração, encerra-se o Congresso Missionário Nacional. E fazemo-lo aos pés de Maria, Mãe da Igreja, que acompanha com ternura maternal todos aqueles e aquelas que anunciam o Seu Filho Jesus Cristo. Mais do que qualquer outra criatura, Maria ensina-nos que só se pode anunciar Jesus Cristo com amor, a Ele e aos homens que hão-de sentir-se amados por Ele, que encontrarão nesse amor a sua redenção. Maria ensina-nos que evangelizar é anunciar o amor, com amor.
São Paulo, na Carta aos Romanos, fala-nos da redenção como libertação. O cristão que mergulhou no amor de Jesus Cristo e d’Ele recebeu o Espírito de amor, é um homem livre; só uma realidade o obriga e o dinamiza: amar. A exigência do amor situa o cristão para além da Lei, porque o amor é a plenitude da Lei. É certo que o Senhor Jesus, continuado na Igreja, nos apresenta mandamentos que nos indicam o caminho da vida. Mas eles cumprem-se todos no amor do próximo e nenhum deles é válido se não indica o caminho do amor.
Toda a missão, na Igreja, se resume a isso: anunciar o amor infinito com que Deus ama todos os homens e que exprime, de forma total e radical, no Seu Filho Jesus Cristo e no amor com que nos amou, ao dar a vida por nós. A missão é o anúncio desse amor, procura levar todos os homens a sentirem-se amados: amados porque perdoados; amados porque convidados para novos horizontes de liberdade; amados porque sentiram um sentido novo na vida, um novo horizonte de esperança. Ao sentirem-se amados, os seus corações abrem-se para o amor a Deus e aos irmãos.
Mas a Igreja só pode anunciar o amor, amando e deixando-se amar. Ela é o fruto fecundo do infinito amor de Deus que a ama em Jesus Cristo. E ao mergulhar nesse amor, ela abraça o mundo com o amor de Jesus Cristo, porque ela é o sacramento da salvação, realizada pelo amor de Cristo. Evangelizar é levar os homens a sentirem a força transformadora do amor de Cristo na Cruz; os homens sentirão a força desse abraço se se sentirem amados pela Igreja.
Evangelizar não é um programa, uma atitude de estratégia proselitista, é uma loucura de amor. Só o amor fará a Igreja não desistir de anunciar Jesus Cristo, em todos os tempos e circunstâncias e a abrirá às surpreendentes maravilhas que só o amor de Deus pode realizar.
2. Anunciar o amor a homens concretos, em situações concretas é também ter consciência das prisões que tolhem os corações impedidos de se abrirem ao amor. Como os Profetas do Antigo Testamento, os evangelizadores são sentinelas, atentos ao que se passa, conscientes dos perigos e das ameaças, prontos a indicar o recto caminho da liberdade. É que a evangelização é anúncio, não de um amor qualquer, mas do amor redentor, daquele que liberta e introduz no autêntico caminho da vida. Ajudar as pessoas a libertarem-se daquilo que as mantém prisioneiras, é a primeira expressão do amor. Não como quem julga ou condena, mas também sem aquela compreensão enganadora de quem tudo explica e tolera. Não esquecer a máxima de Paulo: “A caridade não faz mal ao próximo”.
Isto exige dos cristãos, na complexidade da sociedade contemporânea, a coerência com o Evangelho do amor. Por vezes o seu testemunho coerente, porventura silencioso, é essa denúncia do que aprisiona o homem, e a afirmação da verdadeira liberdade do coração. Não são só as pessoas individualmente, mas as sociedades, os grupos, as estruturas, que precisam de ser ajudadas a superar tudo o que aprisiona o homem e impede a harmonia e a felicidade. E essas sentinelas sempre alerta, sempre com amor e por amor, são tanto a Igreja no seu todo, como cada cristão, inserido na realidade concreta do mundo, mas coerente com a liberdade dos filhos de Deus. No Evangelho de São Mateus, Jesus recomenda aos discípulos que quando a sentinela que cada um deve ser não conseguir mudar o rumo daqueles que quer ajudar, que entreguem o caso à Igreja, a grande sentinela vigilante, não para que os julgue ou condene, mas para que os envolva no seu amor, porque com ela está sempre o Senhor: “Digo-vos: se dois de vós se unirem na terra para pedirem qualquer coisa, ser-lhe-á concedida por Meu Pai que está nos Céus. Na verdade, onde dois ou três estão reunidos em Meu nome, Eu estou no meio deles”. A Igreja missionária reza continuamente por aqueles a quem anuncia o amor, a quem quer ensinar os caminhos da liberdade.
3. O ardor missionário é a página mais gloriosa do Povo Português. Parece que cerca de 500 Dioceses actuais receberam a fé dos missionários portugueses. Entreguemos a Maria, a primeira mensageira do amor redentor, todos aqueles e aquelas que ainda hoje gastam as suas vidas ao serviço do Evangelho do amor. Que eles aprendam com Maria, a inquietação que não lhes permite parar, a alegria de quem anuncia boas-novas, a coragem para não desistir, a confiança para acreditar que cada pessoa humana pode ser um santo, se se abrir ao amor.
† JOSÉ, Cardeal-Patriarca de Lisboa
 
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