19 de maio, 2009

VI DOMINGO DA PÁSCOA – ANO B
Santuário de Fátima, Peregrinação Nacional da Família Salesiana
 
Queridos peregrinos de Nossa Senhora
Caríssimos membros da Família Salesiana
Irmãos e Irmãs em Nosso Senhor Jesus Cristo
 
1. O Servo de Deus João Paulo II, também ele peregrino deste Santuário, ensinou-nos que Jesus Cristo é «o rosto humano de Deus e o rosto divino do homem» (Igreja em América, 57).
E o Papa Bento XVI, desenvolvendo esta afirmação na sua encíclica programática «Deus caritas est», afirma que o cume do amor de Deus se encontra em Jesus Cristo, «de cujo coração trespassado brota o amor de Deus» (7). Jesus Cristo é «o amor de Deus encarnado».
É da contemplação do lado trespassado de Cristo, que se compreende verdadeiramente o que significa o amor de Deus, de que nos falam os textos bíblicos proclamados. «É lá que esta verdade pode ser contemplada. E começando de lá, é que se pode compreender em que consiste o amor. É a partir daquele olhar que o cristão encontra o caminho do seu viver e do seu amar» (DCE, 12).
 
2. Jesus iniciou os discípulos nos segredos da vida divina, confidenciou-lhes as comunicações que o Pai lhe fizera, introduziu-os na vida de amor e comunhão trinitária, e agora recomenda-lhes vivamente para permanecerem no amor: «Assim como o Pai me amou, também eu vos amei. Permanecei no meu amor».
O permanecer no amor implica observância dos mandamentos, obediência filial, dedicação, doação de si, fidelidade.
Permanecer em Jesus, no seu amor, é viver na atmosfera do divino, é participar da vida e da comunhão de amor que existe entre Jesus e o Pai, é passar de servo a amigo, de estranho a confidente: «Chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi a meu Pai».
Jesus associou os discípulos à obra da redenção, a que devem dar continuidade no tempo e na história, unidos a Ele, para que dêem fruto e o seu fruto permaneça.
A oração que dirigirão ao Pai, em nome de Jesus, como expressão da comunhão e unidade na missão que lhe é confiada, garantirá eficácia às suas vidas, que devem ser marcadas pelo amor recíproco, como lhes recomenda: «O que vos mando é que vos ameis uns aos outros».
O amor é a raiz, o tronco e o fruto que vai estender os seus ramos ao mundo inteiro. A conversão e a salvação brotarão do amor de Jesus revelado através dos discípulos.
 
3. A contemplação do amor de Jesus revelado aos discípulos, com o convite a permanecerem nele, leva-nos à fonte e origem da vida cristã: o amor de Deus. «Deus é amor», recorda-nos o apóstolo S. João, na segunda leitura.
O amor de Deus não é um amor abstracto, uma ideia, uma teoria, mas uma realidade viva e palpável. Diz S. João: «Assim se manifestou o amor de Deus para connosco: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito para que vivamos por Ele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados”.
 
4. Este amor, não é apenas um sentimento que brota do coração humano, mas é, antes de tudo, um dom divino, que permite amar de modo divino. Por isso, é uma realidade nova, um «mandamento novo», como lhe chama Jesus.
É um amor que não conhece fronteiras, que se estende a todos, sem excepção, como vimos na primeira leitura.
É um amor que faz com que a primitiva comunidade de Jerusalém se abra ao mundo, supere a estreiteza dos horizontes judaicos, rompa com os guetos.
O amor de Deus revelado por Jesus é um amor universal que deve inundar o mundo e alcançar a todos, judeus e pagãos.
É um amor que não conhece medida, porque a «medida do amar é amar sem medida». Um amor que não pode confinar-se ao razoável ou às fronteiras do bom senso.
É um amor que não conhece obstáculos, que não se detém, nem mesmo diante da miséria, porque não vai para receber, mas para dar. É um amor que de dirige preferencialmente onde há miséria, para a aliviar e criar condições para uma vida com dignidade.
 
5. O que seria do mundo sem o amor de Deus, encarnado e testemunhado, por vezes até ao martírio, por tantos homens e mulheres ao longo da história?
Que aconteceria, se nós próprios, acreditássemos verdadeiramente que Deus é amor?
Da imagem que tivermos de Deus depende a ideia que temos da pessoa humana e do nosso compromisso na Igreja e no mundo.
Não basta sermos pessoas religiosas, temos de ser pessoas crentes e crentes antes de mais na revelação que Jesus nos faz de Deus, como um Deus de amor, que nos ama antes de nós o amarmos, nos chama à comunhão com Ele e amar como Ele ama.
Somos convidados a renovar a nossa fé em Deus-amor, que assumiu um rosto e um coração humanos em Jesus.
 
6. Acreditar que «Deus é amor» é olhar para Jesus Cristo e, a partir dele, encontrar o caminho para o nosso viver e para o nosso amar.
Jesus Cristo é a manifestação do amor encarnado de Deus que «tendo amado os seus que estavam no mundo amou-os até ao fim» e perpetuou o seu amor e a sua presença no Sacramento da Eucaristia.
A Eucaristia é escola de amor. Nela sentimo-nos envolvidos na dinâmica da doação, a amar com um amor gratuito e oblativo, à semelhança de Jesus nosso Mestre e Senhor.
A «mística» do Sacramento da Eucaristia tem um carácter social, porque, nos une aos irmãos e irmãs na fé que participam do mesmo pão e formam um só corpo, como recorda S. Paulo (1 Cor 10,17).
Na Eucaristia «o amor de Deus vem corporalmente a nós, para continuar a sua acção em nós e através de nós» (DCE, 14), e impele-nos a amar.
 
7. A caridade dos cristãos e da Igreja têm a sua fonte no amor de Deus, são a sua manifestação.
«O amor ao próximo, radicado no amor de Deus, é um dever, antes de mais, para cada um dos fiéis, mas é-o também para a comunidade eclesial inteira» (DCE, 20), recorda o Santo Padre Bento XVI, acrescentando: «A natureza íntima da Igreja exprime-se num tríplice dever: anúncio da Palavra de Deus, celebração dos Sacramentos, serviço da caridade. São deveres que se reclamam mutuamente, não podendo um ser separado dos outros. Para a Igreja, a caridade não é uma espécie de actividade de assistência social que se poderia mesmo deixar a outros, mas pertence à sua natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência».
«O amor-caridade será sempre necessário, mesmo na sociedade mais justa. Não há qualquer ordenamento estatal justo que possa tornar supérfluo o serviço do amor. Quem prescinde do amor, prepara-se para se desfazer do ser humano enquanto ser humano. Sempre haverá sofrimento a precisar de consolação e de ajuda. Sempre haverá solidão. Existirão sempre situações de necessidade material, para as quais é indispensável uma ajuda na linha de um amor concreto ao próximo» (DCE, 28).
«Um Estado, que queira prover a tudo e tudo açambarcar, torna-se, no fim de contas, uma instância burocrática que não pode assegurar o essencial de que o ser humano sofredor – todo o ser humano – tem necessidade: a amorosa dedicação pessoal. Não precisamos de um Estado que regule e domine tudo, mas de um Estado que generosamente reconheça e apoie, segundo o princípio da subsidiariedade, as iniciativas que nascem das diversas forças sociais e conjugam espontaneidade e proximidade às pessoas carecidas de ajuda. A Igreja é uma destas forças vivas: nela pulsa a dinâmica do amor suscitado pelo Espírito de Cristo. Este amor não oferece aos seres humanos apenas uma ajuda material, mas também refrigério e cuidado para a alma – ajuda esta, muitas vezes mais necessária que o apoio material» (DCE, 28).
 
8. Nesta celebração, a Família Salesiana evoca dois acontecimentos significativos: 150 anos da fundação da Congregação Salesiana e 75 anos da canonização de S. João Bosco, cuja imagem se encontra nas colunatas deste Santuário.
«Os santos hauriram a sua capacidade de amar o próximo, de modo sempre renovado, do seu encontro com o Senhor eucarístico e, vice-versa, este encontro adquiriu realismo e profundidade precisamente no serviço deles aos outros» (DCE, 18).
S. João Bosco porque viveu profundamente radicado em Deus, foi o santo da caridade social, numa doação total aos jovens, sobretudo aos mais pobres e abandonados.
O Santo Padre Bento XVI escreveu que os santos «permanecem modelos insignes de caridade social para todos os homens e mulheres de boa vontade. Os Santos são portadores de luz dentro da história, porque são homens e mulheres de caridade» (DCE, 40).
A santidade de S. João Bosco é a garantia de que a sua proposta de vida, a sua escola de espiritualidade, o seu modelo de acção apostólica, constituem «uma autêntica via evangélica que conduz à plenitude do amor».
A multiplicidade e variedade de formas de santidade floridas em 150 de vida da Congregação, entre os jovens alunos e na Família Salesiana são um sinal da santidade do seu Fundador, uma herança e um desafio.
A santidade de S. João Bosco é uma via acessível a todos, é participação gratuita na santidade de Deus, é dom, é graça que brota do amor de Deus e se traduz num amor concreto ao próximo.
 
9. Concluo, convidando-vos a lançar o olhar para Maria Santíssima. Ela compreendeu e acolheu de forma incondicional o amor de Deus que a envolveu, por isso a saudamos como a «cheia de graça».
Deixemo-nos amar por Deus como Maria, acolhamos docilmente a acção do Espírito de amor nos nossos corações, vivamos na graça de Deus, permaneçamos no seu amor, para que as nossas vidas sejam fecundas, sejam expressão viva da caridade de Deus, dêem «frutos» de santidade.
   † Joaquim Mendes, SDB
Bispo Auxiliar de Lisboa
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